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03/12/2000 - 05h01

TV brasileira produz atrações que os brasileiros não verão

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BRUNO GARCEZ, da Folha de S.Paulo

Um viajante brasileiro, em sua próxima ida ao exterior, pode assistir a cenas insólitas ao ligar a TV, como, por exemplo, ver a vilã Odete Roitman balbuciar suas últimas palavras em espanhol ou mesmo o apresentador Ratinho exibindo um castelhano impecável.

Tais cenas devem se concretizar em breve. A Globo produzirá com a rede norte-americana Telemundo -voltada para a comunidade hispânica dos EUA- uma versão em espanhol da novela "Vale Tudo", prevista para ir ao ar entre maio e junho de 2001.

O SBT não ficou atrás. Além de negociar uma versão inédita da novela "O Direito de Nascer" -já exibida em Portugal e em países latino-americanos-, a emissora está fazendo testes de dublagem com o "Programa do Ratinho" e vem conversando com as redes dos EUA Univision, Telemundo e Spanish Network, para exportar a atração.

Na versão espanhola de "Vale Tudo" -ou melhor, "Vale Todo"-, as cruéis Odete Roitman e Maria de Fátima e a bondosa Raquel serão vividas por astros de países hispânicos ou brasileiros fluentes no espanhol. Será a primeira vez que a Globo produzirá uma novela diretamente para o mercado externo. A trama está sendo adaptada por Gilberto Braga -mesmo autor da versão original - e terá direção de Herval Rossano.

O diretor, que já fez telenovelas nas emissoras chilenas TV Universidad Catolica e TV Nacional e na mexicana Televisiva, diz que adaptações para o gosto hispânico são necessárias. "Eles têm uma predileção pelo melodrama, são melodramáticos até ao respirar", brinca Rossano, acrescentando que a trama pode vir a ter também um ritmo menos acelerado que o das novelas brasileiras.

Rossano já entrevistou 234 atores da Venezuela, da Colômbia, da Argentina e do Chile. Destes, alguns devem integrar o elenco principal da novela. "A idéia é pegar os atores que fazem sucesso em cada país. A trama será exibida nos EUA, mas tem de atingir o mercado hispânico inteiro", diz José Paulo Vallone, diretor de negócios internacionais da Globo, departamento montado há seis meses.

"Vale Todo", que terá 145 capítulos de 45 minutos cada, custará cerca de US$ 40 mil por episódio, valor próximo ao das atuais novelas globais. As instalações do Projac não devem ser usadas nas gravações. Apesar de serem cifras próximas, "Vale Todo" acaba sendo mais cara que uma tradicional novela global, pois os gastos destas são atenuados com publicidade e o uso do Projac.

"A relação custo-benefício é diferente. Estamos abrindo uma janela. O desafio é adaptar uma novela cheia de tramas, como as nacionais, e com o padrão global ao estilo internacional", diz Vallone.

As parcerias internacionais da Globo também se fazem notar em sua programação brasileira. A minissérie "Os Maias", com estréia prevista para janeiro, além de ter sido gravada em Portugal, conta com investimentos da rede local SIC. Do custo total da produção, US$ 4,5 milhões, coube à SIC US$ 1,5 milhão .

A Globo quer co-produzir outras três atrações -também adaptações de novelas que já exibiu- com redes internacionais. "Não é só com os EUA que temos projetos de co-produção. Estamos conversando com emissoras da Colômbia, da Venezuela e até da França", conta o diretor de negócios internacionais.

Vallone é, por sinal, um dos donos da JPO, produtora que fez a novela "Direito de Nascer", que o SBT adquiriu, nunca exibiu no Brasil, mas agora negocia internacionalmente. Não é a única transação externa da emissora de Silvio Santos.

O SBT espera faturar, até 2001, US$ 7 milhões com seu acervo, formado por novelas como "Sangue do Meu Sangue" e "Pérola Negra" e até o jornalístico "SBT Repórter", vendidos para Portugal, América Latina e mesmo países do Leste Europeu, como Hungria e Romênia. "Investir em co-produções é o próximo passo, temos acordos adiantados, mas é preciso avaliar bem, para vermos se nossas atrações terão empatia com o público internacional", diz Ulises Aristides, diretor de vendas internacionais do SBT.

A Record é outra que está criando produtos para exportação. O canal Record Internacional, oferecido por operadoras de TV paga de Angola, Moçambique, África do Sul e Cabo Verde, já colocou no ar o programa de clipes "Africa Music", apresentado por Amanda Françoso. A atração compila vídeos de músicos africanos e brasileiros. Como apresenta muitos artistas pouco ou nada conhecidos no Brasil, a emissora não tem planos de exibir o "Africa Music" por aqui.

Atrações já exibidas pela TV Cultura no Brasil, como "Castelo Rá-Tim-Bum" e "Cocoricó", hoje passam em países hispânicos diversos, como Bolívia, Costa Rica, Uruguai, Nicarágua e Guatemala. Desde 99, a emissora vem ampliado suas vendas internacionais.

Mesmo a modesta CNT, que não tem sua imagem retransmitida em alguns municípios brasileiros, está olhando além do oceano. Em março deste ano, Flávio Martinez, presidente da rede, se reuniu em Portugal com integrantes da SIC, para discutir futuras co-produções.

As adaptações necessárias às produções brasileiras para o exterior podem até mudar o rumo de uma trama. É o caso de "Vale Todo". "Odete Roitman também será morta, mas, como a novela original já foi exibida em diversos países, pode ser que o assassino seja outra pessoa, não mais a Leila (Cássia Kiss, na versão original)", entrega Herval Rossano.
 

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