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11/12/2000 - 10h32

Leia crítica de Pagu sobre "os Fantoches", de Plínio Marcos

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Leia a seguir o artigo "Esse analfabeto esperava outro milagre de circo", de Patrícia Galvão, Pagu, publicado no jornal "A Tribuna" (Santos-SP) no início dos anos 60.

"Tivemos esta semana, na quarta-feira, um espetáculo teatral no Centro Português em que foram representadas duas peças: "Os Fantoches", de Plínio Marcos, e "Jenny no Pomar", de Charles Thomas.

Atendendo à obrigação de escrever a respeito, devemos partir da separação dos dois textos. O primeiro é texto de um principiante ainda; o segundo é um bom texto.

Caracteriza o primeiro a tentativa do autor de passar do plano da reportagem, que era o principal defeito de sua peça anterior, "A Barrela", para um plano de criação, invadindo terreno difícil para sua experiência e seus conhecimentos, desde que há a intenção de nos proporcionar um texto de tonalidades filosóficas. E o nível mental e intelectual do autor, infelizmente, se desencontra, como possibilidade, para palmilhar o terreno ambicionado.

O teatro de teor filosófico é o mais árduo, o mais complexo, para ser trabalhado. Isto não só do ponto de vista de uma concepção da vida, que o autor não tem, como dos alicerces culturais que lhe faltam. A simples leitura de algumas peças dum teatro de base filosófica não autoriza ninguém a escrever dentro dos seus moldes. Compreender-se-ia uma influência que caísse em uma mentalidade e uma sensibilidade preparadas, mas a perfilhação de uma influência não pode dar resultado em nenhum sentido, porquanto idéias não se transmitem senão pelo estudo das fundamentações filosóficas donde elas emergiram. Onde não há base, será inútil falar-se de influência, pois a leitura de textos de teatro filosófico, ainda mais leitura à ligeira, não pode conferir uma receptividade, um aproveitamento, ao ponto de se considerar produzida uma influência.

A tentativa de "Os Fantoches", quanto ao texto, resiste apenas pelo manejo de um diálogo, maiormente destituído de sentido. Da reportagem, o autor saltou para o teatro das idéias e foi o que se viu. Um texto medíocre.

Do texto medíocre saiu um espetáculo também medíocre. Não poderia, uma algaravia do tipo da que foi apresentada, determinar uma boa transposição para o palco. Os atores não puderam dar a esse texto uma interpretação, porque ficaram fora dela. Disseram-no apenas. A direção do autor serviu apenas para estabelecer a movimentação dos fantoches.

Isso não invalida a opinião que temos a respeito das qualidades do autor como autor e como diretor. Como autor falta-lhe trabalhar na aquisição de uma base informativa, capaz de lhe proporcionar meios de expressão, para os seus dotes de imaginação. Como diretor, devemos recomendar a Plínio Marcos que não antecipe a apresentação de seus trabalhos, principalmente quando lança elementos que jamais pisaram um palco. A improvisação não resolveria nenhuma das possibilidades de apresentação dos seus comandados.

A última observação é válida também para "Jenny no Pomar", que sendo um bom texto, por isso mesmo é de solução difícil, e não pode ser compreendida sem um estudo suficiente das intenções do autor, que não foram levadas em consideração pelo diretor, nem pelos intérpretes, consequentemente. Creusa de Carvalho foi um ponto divergente na interpretação, pelo desequilíbrio que a sua atuação estabeleceu no conjunto do espetáculo. Sulamita Scherfstein acompanhou melhor Creusa; nada se podendo dizer dos elementos masculinos.

A pressa, como sempre, adversária de qualquer acabamento, não permitiria que se apresentasse o texto de Charles Thomas como vimos. Quando se tem um texto dessa qualidade nas mãos não se pode considerar que um milagre se produza, como acontece com as pantomimas de circo".
 

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