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29/12/2000 - 04h30

Fernanda pede "Alta Sociedade" para Mauro Rasi

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VALMIR SANTOS, da Folha de S.Paulo

Fernanda Montenegro é uma atriz de encomenda. Nelson Rodrigues, Jorge Andrade, Millôr Fernandes, Gianfrancesco Guarnieri, Naum Alves de Souza, Adélia Prado, enfim, foram muitos os autores que criaram peças especialmente para ela.

O último a atender a um pedido da atriz foi o dramaturgo Mauro Rasi. Com "Alta Sociedade", em cartaz no Rio a partir de 24/1, ele, que diz ter escrito sempre por impulso natural ("Pérola", "A Dama do Cerrado" etc), se permite a primeira exceção na carreira.

"Não é o charme, mas a qualidade, a representatividade e o conceito que me aproximam de determinado dramaturgo, mesmo quando se trata de alguém em início de carreira, mas com talento à flor da pele", afirma Fernanda.

Rasi, cuja dramaturgia ganhou mais visibilidade a partir de 87, com "A Cerimônia do Adeus", também assina a direção de "Alta Sociedade".

O espetáculo é protagonizado por Fernanda e Ítalo Rossi, dupla que se encontrou pela primeira vez no Teatro dos Sete, grupo fundado em São Paulo, que estreou em 59 com "O Mambembe", de Arthur Azevedo, com direção e cenários de Gianni Ratto.

Fernanda, 71, e Ítalo, 69, pertencem à geração formada por artistas europeus que vieram para o Brasil entre os anos 40 e 50, como os diretores Zbigniew Ziembinski (polonês), Ratto (italiano) e a também atriz Henriette Morineau (francesa).

"Eles passaram para a gente a responsabilidade cênica, a busca intelectual do que se está fazendo, sem abrir mão do sentimento em uma estrutura de criação vertical, profunda", afirma a atriz.

Sobre "Alta Sociedade", Fernanda define a peça como uma "comédia cruel, louca, com um plano quase onírico". Ela interpreta Silvia, socialite carioca casada com Leopoldo (Ítalo). A história se passa no apartamento do casal, na avenida Atlântica (cenografia de J.C. Serroni), em pleno réveillon de 2001.

A trajetória desse casal, envolvido em pendências judiciais, expõe, segundo o autor, o papel atual de parte da elite brasileira, seja ela paulista ou carioca.

Para Fernanda, a noite de 31 de dezembro é emblemática de certas aberrações que acontecem nas festas organizadas à beira-mar.

"Não estou falando do povo, do homem comum que vai sadiamente festejar na praia, mas dos eventos organizados nas coberturas dos grandes edifícios. Cada um faça de sua vida o que quiser, mas não precisa extrapolar na ostentação. Tudo cai no ridículo depois", afirma ela.

Rasi, 49, avisa que não se trata de um texto panfletário, que vai falar mal da elite. Nem pensa em se distanciar da condição de comediógrafo. "Silvia e Leopoldo são chiques, cultos, inteligentes e acham que todo mundo é pop. São seres humanos que, no fundo, querem ser heróis. Tenho a impressão de que, se o Cacciola vier escondido para assistir a peça, ele vai chorar muito, vai pensar que se trata da história dele glorificada", diz o autor, referindo-se ao banqueiro Salvatore Cacciola, dono do banco Marka, foragido na Itália, que está sendo processado no Brasil por crime contra o sistema financeiro nacional.

"É uma comédia que não vai mudar a linguagem do teatro ocidental e não vai dar nenhum dó de peito além do que se possa dar", diz Fernanda.

Com 50 anos de palco -56, se computado o período em que atuou em radionovelas-, Fernanda Montenegro, que vem de montagens mais densas, como "Da Gaivota" (98), de Tchecov, abre espaço para o que define como "teatro do convívio". "Vamos dar uma pausa para o guerreiro e nos divertir um pouco."

Sob patrocínio da PetroBrax, Brasil Telecom e Eletrobrás, "Alta Sociedade" reabrirá o teatro Scala, no Leblon (zona sul do Rio), com capacidade para 900 pessoas.
 

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