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12/01/2001 - 04h39

Rock in Rio: Por um marketing melhor

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ISRAEL DO VALE, Editor-adjunto de Ilustrada

As redes de rádio e TV só aderiram à veiculação dos três minutos de silêncio que vão ao ar esta noite mediante pagamento; pelo menos 90% dos artistas escalados nunca tiveram envolvimento com causas que não fossem as próprias; a campanha de levantamento de fundos pela Internet para projetos educacionais teve resposta tímida -mas o criador do Rock in Rio, Roberto Medina, abre as portas da Cidade do Rock esta tarde convicto de que seu projeto contribui para despertar a cidadania e estreitar o "abismo social", como gosta de dizer. Com uma ressalva: "A juventude ainda não entendeu que o recado era para ela. É um trabalho de longo prazo".

O Rock in Rio por um Mundo Melhor, festival bem-intencionado de rock que baniu da programação o rap (gênero musical mais combativo socialmente), já cravou na história a marca megalomaníaca de 151 atrações desta edição (metade de tudo o que o Free Jazz levou ao palco em 15 anos de existência), contribui para que 2.000 alunos concluam o primeiro grau (financiando cursos supletivos) e prevê um repasse de 5% de tudo o que arrecadar para investimento em projetos sociais e educativos, via Unesco e Viva Rio. Mas tende a ficar na memória, para o mundo da música, mais como um bom negócio que como uma boa ação.

Nem mesmo os cachês reduzidos pagos às atrações nacionais -padronizados em R$ 1.000 para os que tocam nas tendas e R$ 20 mil para os do Palco Mundo- ou a deserção de seis dos mais fortes nomes da cena pop nacional de hoje, O Rappa, Skank, Charlie Brown Jr., Jota Quest, Cidade Negra e Raimundos, por divergências com a produção, foram suficientes para macular a imagem do festival de R$ 70 milhões aos olhos de artistas e gravadoras.

Vitrine mais reluzente que a música brasileira já viu desde os festivais de TV, o Rock in Rio 3 mobilizou executivos de gravadoras e empresários de artistas. Para eles, o festival é uma cruzada por um marketing melhor.

Se de um lado o evento precisa de artistas para formar a programação, de outro as gravadoras precisam de espaço para promover seus artistas e têm, num festival desse porte, uma visibilidade raramente alcançada.

Parcerias desse tipo, pouco visíveis para o público médio, juntam o que se chama de a fome com a vontade de comer -e, naturalmente, interferem no perfil artístico do evento. "A Sony, como as demais gravadoras, propôs alguns nomes para a Tenda Brasil, que é um espaço muito bom para artistas novos", conta Ronaldo Viana, diretor artístico da gravadora, que tem nove artistas entre os diferentes palcos do festival.

"A Mary's Band, por exemplo, é uma banda "de palco", que ainda não é conhecida no Rio; precisa estar num evento desses", diz, referindo-se a uma de suas mais novas contratadas. Como o cachê é simbólico e a banda não é radicada no Rio, a Sony arca com os custos da ida ao festival -um dos investimentos mais baixos feitos no dia-a-dia pelas gravadoras.

A programação geral do evento foi pulverizada entre cerca de 40 gravadoras, dos mais variados tamanhos. Mas três majors (BMG, Universal e EMI) e uma independente de médio porte (a Trama) se sobressaem pelo número de artistas que emplacaram -no caso das primeiras, 15 de cada uma, em média. Três gravadoras concentram, portanto, quase um terço da programação do festival.

Conseguir encaixar um artista do seu cast é um grande negócio para qualquer gravadora e inverte a lógica: em vez de o produtor do evento pagar para o artista tocar, a gravadora é que paga para que ele possa vender o peixe no festival.

Um selo de tamanho médio, a Indie Records, ilustra bem a situação. Só a Indie investiu R$ 400 mil no patrocínio da Tenda Eletro. Ganhou, em contrapartida, regalias como o direito de distribuir material promocional e de projetar vídeos da gravadora, além de usar a marca Rock in Rio em três compilações que começa a lançar na próxima semana.

A primeira delas, "Rock in Rio Eletro - Fly by Dance", sai com tiragem inicial de 100 mil cópias -número bastante significativo para quem chega a lançar bandas com 3.000 discos. A oportunidade estimulou a Indie a se embrenhar pela primeira vez na música eletrônica e permitiu que Liber Gadelha, diretor-presidente da Indie Records, emplacasse na Tenda Eletro o DJ espanhol Jose Padilla e o casal britânico Jim Masters & Lulu. "Vou lançar os CDs deles, e trazê-los ajuda a promover."

Segundo Gadelha, o negócio vale a pena. "Se você não investir uns R$ 250 mil, R$ 300 mil para divulgar um artista, ninguém vai saber que ele existe.
 

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