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23/01/2001
-
04h57
PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo
A pesar da diversidade algumas vezes estapafúrdia de combinação de estilos e artistas, a Tenda Brasil passa pelo Rock in Rio bem-sucedida e bem organizada. Chegou aqui e ali a ocupar o vácuo de novidade a que o Palco Mundo relegou a música daqui.
No desfalque de O Rappa, Skank, Raimundos, Charlie Brown Jr., Jota Quest e Cidade Negra, o festival simplesmente ignorou quase toda a evolução do
pop brasileiro nos 90.
O vexame se agravou pela exclusão de bandas jovens, importantes e politicamente atuantes, como Racionais MC's, Planet Hemp, Mundo Livre S/A e Nação Zumbi.
Conclusão? O mundo melhor tantas vezes preconizado por Roberto Medina parece desprovido de indignação, de participação política ou social, e isso tem cheiro ruim, muito ruim. Colocaria em risco a credibilidade da causa, não fosse tão sólido o oba-oba.
Não é que o público não o percebesse instintivamente. Aparições de Xuxa no telão quase sempre eram acompanhadas de vaias, e apupos uníssonos só foram reservados, provavelmente não sem razão de ser, ao discurso moralista de Carlinhos Brown e ao engodo colossal protagonizado por Britney Spears (não porque fez playback, mas porque não soube fazer playback).
Quanto a nós, se no palco principal apenas Sheik Tosado, Diesel e o duvidoso O Surto encarnaram rostos realmente novos no pop nacional, na Tenda Brasil eles se apresentaram às fileiras.
O público foi caloroso com a maioria deles, fazendo subir um degrau nomes como Max de Castro, Wilson Simoninha, Wilsom Sideral, AfroReggae, Paulinho Moska, Pedro Mariano, Tianastácia, Cidadão Quem, Autoramas, até o curioso Vinny.
Ali houve pouca vaia, e até shows arriscados, como os de Tom Zé, Pepeu
Gomes com Armandinho, Luiz Melodia e Jair Rodrigues, terminaram em pique de pequena consagração.
Jair Rodrigues, em especial, causou espanto. Sambista da antiga, provou que o samba despreconceituoso também sabe ser rock'n'roll. Parecia um metaleiro, cuspindo versões musculosas de "Deixa Isso pra Lá" e de temas ainda mais improváveis, como a toada caipira de festival "Disparada" e, adivinhe, "Não Deixe o Samba Morrer".
Sem mortos e feridos, as expressões musicais brasileiras saíram do organizadíssimo festival a um tempo fortalecidas (pelos fartos momentos de integração entre artistas e platéia, fossem eles quais fossem) e enfraquecidos (porque, de novo, tratadas como artigos de segunda categoria). No balanço, nada de novo no front.
Expressões musicais brasileiras saem fortalecidas e enfraquecidas
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A pesar da diversidade algumas vezes estapafúrdia de combinação de estilos e artistas, a Tenda Brasil passa pelo Rock in Rio bem-sucedida e bem organizada. Chegou aqui e ali a ocupar o vácuo de novidade a que o Palco Mundo relegou a música daqui.
No desfalque de O Rappa, Skank, Raimundos, Charlie Brown Jr., Jota Quest e Cidade Negra, o festival simplesmente ignorou quase toda a evolução do
pop brasileiro nos 90.
O vexame se agravou pela exclusão de bandas jovens, importantes e politicamente atuantes, como Racionais MC's, Planet Hemp, Mundo Livre S/A e Nação Zumbi.
Conclusão? O mundo melhor tantas vezes preconizado por Roberto Medina parece desprovido de indignação, de participação política ou social, e isso tem cheiro ruim, muito ruim. Colocaria em risco a credibilidade da causa, não fosse tão sólido o oba-oba.
Não é que o público não o percebesse instintivamente. Aparições de Xuxa no telão quase sempre eram acompanhadas de vaias, e apupos uníssonos só foram reservados, provavelmente não sem razão de ser, ao discurso moralista de Carlinhos Brown e ao engodo colossal protagonizado por Britney Spears (não porque fez playback, mas porque não soube fazer playback).
Quanto a nós, se no palco principal apenas Sheik Tosado, Diesel e o duvidoso O Surto encarnaram rostos realmente novos no pop nacional, na Tenda Brasil eles se apresentaram às fileiras.
O público foi caloroso com a maioria deles, fazendo subir um degrau nomes como Max de Castro, Wilson Simoninha, Wilsom Sideral, AfroReggae, Paulinho Moska, Pedro Mariano, Tianastácia, Cidadão Quem, Autoramas, até o curioso Vinny.
Ali houve pouca vaia, e até shows arriscados, como os de Tom Zé, Pepeu
Gomes com Armandinho, Luiz Melodia e Jair Rodrigues, terminaram em pique de pequena consagração.
Jair Rodrigues, em especial, causou espanto. Sambista da antiga, provou que o samba despreconceituoso também sabe ser rock'n'roll. Parecia um metaleiro, cuspindo versões musculosas de "Deixa Isso pra Lá" e de temas ainda mais improváveis, como a toada caipira de festival "Disparada" e, adivinhe, "Não Deixe o Samba Morrer".
Sem mortos e feridos, as expressões musicais brasileiras saíram do organizadíssimo festival a um tempo fortalecidas (pelos fartos momentos de integração entre artistas e platéia, fossem eles quais fossem) e enfraquecidos (porque, de novo, tratadas como artigos de segunda categoria). No balanço, nada de novo no front.
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