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25/05/2002 - 01h12

Spam custava caro; agora põe em risco a vida do internauta

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FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

A notícia mais impressionante desta semana, além, claro, das demissões na General Motors por causa da troca de e-mails pornográficos entre funcionários, certamente foi a de um internauta britânico que, depois de receber cerca de 250 mil e-mails não-solicitados em sua caixa postal, reclamou com o provedor e passou a ser ameaçado pelos remetentes do spam.

"Temo ser alvo de violência física", disse o internauta, que também passou a receber telefonemas anônimos, de pessoas que ficavam mudas do outro lado da linha. Ele preferiu não se identificar ao site de notícias The Register.

O caso é de polícia, certamente. E não só ele. Porque todos nós internautas, de alguma forma, somos afetados por essa coisa nefasta chamada spam —aqueles e-mails comerciais que chegam não se sabe da onde, da mesma forma que as cartas com anúncio de pizzaria, as propostas de cartão de crédito e os catálogos de lojas em que você nunca pisou, todos entregues na porta de casa.

O pior é que essa analogia com a mala direta, frequentemente utilizada por quem vende listas de e-mails pela internet ou prega as "vantagens" do marketing via e-mail, já foi utilizada por uma juíza brasileira para absolver spammers.

Isso foi no início do ano, em Campo Grande (MS). Num processo aberto contra provedores que atuam na cidade, a juíza Rosângela Lieko Kato comparou o spam às correspondências comerciais de papel e chegou a considerar um "contra-senso" precisar de autorização para enviar correspondência para os outros.

Essa analogia, caro leitor, é uma das maiores falácias em que pode incorrer alguém que julgue o spam sem conhecer um pouco do mundo da tecnologia. Não é só o suporte material que muda da mala direta para o spam. E são exatamente as diferenças entre as duas práticas que tornam o spam proibitivo e passivo de uma legislação mais rígida.

No caso da mala direta, os gastos são praticamente todos da empresa remetente. O papel, a impressão, a embalagem, enfim. O máximo que o destinatário perde é tempo para abrir a correspondência e depois jogá-la no lixo. No caso do spam, o gasto se dilui e acaba na sua conta de telefone. Isso porque, para baixar e-mails de seu provedor, você gasta impulsos telefônicos. Se você baixa lixo, pagará também por ele.

Estudo realizado pela União Européia em fevereiro do ano passado revelou que a circulação diária de lixo eletrônico por e-mail custa US$ 9,36 bilhões para os internautas a cada ano. Se considerarmos que há 500 milhões de internautas no mundo, como revelam levantamentos recentes, o spam custa para você, leitor, US$ 20. Praticamente R$ 50 —dinheiro que você não acha na sargeta, certo?

A partir desse momento, passa a ser necessário sim autorização para enviar esse tipo de correspondência. Porque o gasto não está concentrado na empresa remetente, como no caso da mala direta. Por mais incômodo que seja receber lixo por papel, a prática não chega a custar o que custa o spam.

De qualquer forma, o caso é polêmico. Envolve negligência de diversas partes, muitas vezes até mesmo dos provedores. As empresas de marketing e propaganda chamam de "marketing direcionado" esse negócio de spam. Tão direcionado que jovens de 14 anos recebem por e-mail anúncios de viagra ou de empréstimos.

No Brasil, há um projeto de lei sobre o spam em tramitação na Câmara dos Deputados em Brasília desde março deste ano. A proposta é do deputado Ivan Paixão (PPS-SE).

Ela prevê que todo spam só poderá ser enviado uma única vez e deverá conter, no cabeçalho, uma identificação clara de que se trata de mensagem não solicitada. O texto deverá conter a identificação do remetente e um endereço eletrônico válido.

A resolução, no entanto, deve resolver pouco ou nada. Tudo bem —você só recebe o spam uma vez, mas você continua sendo lesado, porque usou impulsos para receber a mensagem. E spams geralmente não se repetem sob a mesma forma. Bastará mudar o texto da mensagem e pronto. (Quantos filtros você já criou para aquele spam chato, e ele continua chegando porque o remetente muda características da mensagem exatamente para driblar essas barreiras?)

E perceba, leitor, que até agora só falei sobre os prejuízos para o usuário final que usa conexão discada. Pense agora em receber spam no e-mail de sua empresa ou por banda larga —dá-lhe banda para lidar com o entupimento do tráfego. Imagine também os servidores de e-mail do provedor de acesso —mais banda jogada fora.

Tudo isso para quê? Para que o internauta receba um anúncio que o deixará, na maior parte das vezes, irritado. Para que ele apague o spam, tendo sentido sua privacidade invadida. E também para que ele rebaixe seu conceito sobre o tal produto.

Comparar a internet com o mundo real exige cuidado, ainda mais nessa questão do spam. Na internet, embora haja a questão do anonimato, há como chegar dentro da casa das pessoas, nos seus quartos, no íntimo de suas vidas —e de seus bolsos.

Enquanto não surge uma legislação decente, que impeça o abuso dessa prática nefasta que se tornou o spam na internet, aproveito para deixar algumas humildes sugestões para viver melhor com o estorvo:

  • Não peça, de forma alguma, para ter seu e-mail retirado da lista do spammer. Isso é a prova que ele precisa para saber que seu e-mail existe e você está recebendo as mensagens dele. Inclusive, seu e-mail passa a valer mais na lista de endereços do spammer.

  • Prefira, nesses casos, usar algum programa que envia de volta a mensagem para o spammer, como se seu e-mail não existisse. Tente o MailWasher 1.23 ou procure pela palavra chave "bounce" em armazéns de programas como o www.download.com.

  • Não acredite nessa história de que "um e-mail não pode ser considerado spam se tiver uma forma de retirar seu destinatário da lista de endereços". Os caras têm uma imaginação incrível para justificar coisas absurdas, ilegais ou pelo menos imorais.

  • Além de seu e-mail particular, procure criar um webmail gratuito. E use esse endereço de e-mail nos cadastros que você fizer em lojas virtuais e outros sites. Isso porque grande parte das páginas não têm políticas de privacidade confiáveis e vendem seus dados pessoais para outras empresas. De onde você acha que os spammers tiram dezenas de milhões de endereços?

  • Quando você repassar um e-mail para seus colegas (esse tipo de mensagem, sabe? esse tipo... como o que causou as demissões na GM...) use o campo de CÓPIA OCULTA (Cco) para omitir seus destinatários. E apague o cabeçalho da mensagem anterior, que provavelmente tem dezenas de e-mails de pessoas que receberam o correio antes de você. Toda essa informação é um prato cheio para aquele spammer que quer ampliar seu catálogo de endereços.

  • Acesse www.antispam.org.br. É o site do Movimento Brasileiro de Combate ao Spam. Tem muita coisa bacana lá —artigos, como reclamar, métodos de bloqueio etc.

    É isso. Aproveito também para acalmar os leitores ansiosos, que escreveram pedindo para que eu continue as "Aventuras de um micreiro". Como diz o garçom que atende no boteco aqui perto da Folha, onde a gente almoça quando está com pressa: "Demora, mas chega rápido". O que ele quer dizer com isso? ;-)

    Escreva para o autor da coluna usuário.com
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