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15/06/2002 - 00h05

Scanner na mão e sacanagem na cabeça

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FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

Um scanner nas mãos e segundas intenções em mente. Não é necessário mais do que isso para adulterar, sacanear, iludir —enfim, pregar peças, dar uma boa mascarada na verdade de uma foto, ou então criar outra, completamente diferente.

A fotografia sempre foi considerada revolução. Capturar um momento realmente é algo fascinante. Funciona como se o observador da futura fotografia estivesse no local onde, momentos ou anos antes, estava o fotógrafo.

Mas o dito realismo da fotografia começa a cair quando visitamos a semiótica. Dá para dizer que, realmente, o observador assume o olho do fotógrafo. Mas, como o fotógrafo tem um olhar peculiar —ele tem opiniões, preconceitos, alinhamentos ideológicos etc.—, o observador pode cair no erro de acreditar que a verdade do fotógrafo é a verdade absoluta.

Quando chegamos à era do computador, então... a objetividade fotográfica vai mesmo por água abaixo. Não há absolutamente nada que um bom programa de edição de imagens não faça.

Sempre existiu o mito das revistas masculinas. Aquela acertadinha no culote, arredondar o bumbum, tirar aquela celulite. No último mês, circulou pela internet um e-mail com duas fotos da ex-Big Brother Brasil Leka. Uma supostamente sem edição, originária da revista Playboy —com a cintura "amassada" pelo biquíni, barriguinha, manchas no rosto etc.— e outra supostamente com edição —a mulher de corpo perfeito, que passa horas na academia.

A Playboy não comenta o assunto, segundo apurou a coluna Ooops, de meu amigo Ricardo Feltrin. Mas, cá entre nós, nem é necessário que comente.

Na semana passada, precisei scannear uma foto minha para um trabalho acadêmico. Meu cabelo não estava legal. Dá-lhe Photoshop! A luz do ambiente criou uma sombra estranha na região dos meus olhos. Dá-lhe Photoshop! Eu não tinha aparado a barba no dia em que tirei a foto. Dá-lhe Photoshop!

Resultado: até eu consegui ficar bonito! :-)

Também há uma foto que, há três anos, tirei com minha noiva. O sorriso dela ficou perfeito na imagem, mas, claro, o meu não. Beleza! Recortei um sorriso meu de outra foto —esse estava um pouco melhor— e colei sobre o sorriso feio. Pronto!

Inocência perdida
Isso sem falar nas foto-montagens que circulam por e-mail a torto e a direito. O senhor Madruga (lembra? aquele do Chaves!), o "tourist guy" (que, além de aparecer no alto do World Trade Center no momento do atentado de 11 de setembro, foi visto até em filmes do James Bond...) e Bin Laden são exemplos bem ilustrativos.

E nem dá para falar que o pessoal que trabalha na área de imagem digital é inocente. A mais recente versão do Photoshop, por exemplo, tem uma ferramenta chamada "Healing brush". Ela serve para atenuar (ou... eliminar) rugas, traços, riscos e outros "defeitos" nas fotos.

Com o computador, eu transformo as realidades que não me agradam. Ganho cabelo, perco peso, livro-me das rugas. Sou loiro, alto, tenho olhos azuis e tenho a pele perfeita. Até pareço, de verdade, esses modelos de capa de revista.

Ou será que eles também usam Photoshop?

Escreva para o autor da coluna usuário.com
 

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