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24/08/2002 - 00h16

As laranjas e a era da incerteza no mundo da tecnologia

FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

A economia vai mal. O dólar sobre. O tal do risco país —que virou expressão da moda— assusta e vira manchete. Mesmo assim, 454 empresas decidem investir em algo que, quando bem feito, espanta crise em qualquer tempo: visibilidade.

Durante essa semana, elas transformaram o Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo, numa grande vitrine. Não das mais inovadoras, promissoras ou atraentes. Mas elas estavam lá.

Por mais que os dois principais eventos de tecnologia e informática do país —Fenasoft, que agora ocorre em abril, e a Comdex— tenham sido sensivelmente abalados pelo contexto econômico este ano, o marketing ainda é a alma do negócio.

Enquanto pensava no evento, lembrei de uma história que circulava por e-mail logo no início da internet —nunca mais a vi num spam.

Falava de um senhor cujo negócio era uma barraca de laranjas na beira da estrada. Ele expunha as laranjas no acostamento, fazia promoções, dava brindes para os fregueses.

Formou uma clientela bastante fiel, gente que passava por ali com freqüência e sempre parava para comprar suas laranjas. Com o tempo, conseguiu expandir a barraquinha para uma venda de frutas na beira da estrada. Colocou placas centenas de metros antes. O negócio só fazia crescer, tudo ia bem.

Mas seu filho, que tinha se mudado para a capital para estudar na universidade, voltou para casa naqueles dias. Ele trazia notícias da crise internacional, dizia que a situação era delicada, que o mundo todo estava em retração.

Então o pai, acreditando no filho —que, afinal, era "doutor"—, resolveu tirar as placas da estrada. Reduziu a jornada de trabalho. Parou de dar brindes para os fregueses. Cortou gastos, enxugou a estrutura.

Findo o mês, as vendas caíram vertiginosamente. "Você tinha razão, meu filho", dizia o pai.

Se você percebeu alguma semelhança entre a história e o contexto econômico atual, não é mera coincidência. Tudo "assusta" o mercado, há uma verdadeira histeria coletiva cada vez que um banco de investimentos internacional resolve abrir a boca. E, em vez de pensar nas próprias laranjas, as empresas se assustam com os "doutores" da economia e se esquecem dos próprios potenciais. Ainda mais num país com o Brasil, que ainda não cresceu nada em tecnologia, se comparado a países mais desenvolvidos.

Claro, o mercado não é tão simplório como uma venda de laranjas na beira de estrada. Mas deixar de fazer barulho num momento como esse seria tirar as placas da estrada. Bill Gates e sua Microsoft são um exemplo bem sucedido —enquanto todo mundo derrapa, a empresa continuou com lucros estáveis e ampliou investimento em pesquisa nos últimos meses. Sem ser a favor ou contra o homem, será a toa que ele é o mais rico do mundo?

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