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07/09/2002 - 13h36

As aventuras de um micreiro, capítulo 5

FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

Ele estava sentado diante do computador, naquela sala gélida —pelo ar condicionado e pelo ambiente— do novo emprego. Na tela, o programa que a firma usava. Um tal de Excel. Com seus cinqüenta e tantos anos de idade, até tinha disposição de aprender. Difícil mesmo era arranjar alguém com disposição para ensinar.

No dia anterior, já sabendo que ele ia precisar, tinha pedido uma ajuda do filhão de 18 anos.

— Ó pai, senta aqui [puxa a cadeira para o lado do computador, acende a luminária]. Isso aqui é uma tabela, você vai colocando os números e depois insere as funções. Tem as variáveis, é só você ir clicando [e apontava umas telinhas malucas que pulavam de um canto para outro da tela]. E pronto!

Digamos que a "aula" não foi muito útil. Que o Excel era uma tabela... bem, isso ele podia descobrir sozinho. Mas como escrever naquele monte de quadradinhos? E o que fazer com tudo isso depois? Função? Meu Deus... não vejo isso desde o ginásio!

Inadiável, o momento chegou. O novo chefe entrou na sala e colocou uma pilha de papel sobre a mesa.

— Quero isso pronto até a hora do almoço.

Seco. Rude. Ele não seria a pessoa ideal, disposta a ensinar Excel. Eram passados dez minutos das 8h, ele tinha algum tempo para perder tentando transformar aqueles relatórios numa tabela.

Tentou olhar para o micro do colega de trabalho. Metade de sua idade, aparentemente. Os cliques eram rápidos. Não dava para acompanhar. Em meia hora, o dito já tinha levantado da cadeira para pegar a coisa toda pronta na impressora.

Bom, sobrou a ajuda do Excel... Sobre o Excel. Ué? Só tem o nome da fabricante... Ajuda do Excel. Pergunta? Há! Todas! :-) Desiste.

Abre janela. Fecha janela. Tenta digitar textos nos quadradinhos. Quinze para as dez.

Naquele momento, um certo barulho começou a irritar. Um menino (devia ser o filho de algum empregado) sentado no sofá do corredor, fungava sem parar. Não tinha mais de dez anos, certamente.

A sala estava vazia. A idéia apareceu na hora.

— Oi! Você pode vir aqui um minutinho? [puxa a cadeira para o lado do computador, acende a luminária].

— Ah! É fácil! Clica ali, no primeiro quadradinho. Agora digita. Agora aperta Enter. Tá bom. Agora clica naquela letrinha "e". Isso. Ele somou, viu?

Era aquilo que ele precisava. Aquelas coisas chamavam "quadradinho" mesmo! O menino falava a mesma língua dele, então eles conseguiam se entender.

Em uma hora, o trabalho estava pronto. Com a ajuda do moleque.

Santo moleque.



A série de crônicas "As aventuras de um micreiro" é publicada na coluna Usuário.com, no primeiro fim de semana de cada mês.

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