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11/04/2003 - 03h26

No Brasil, apenas 12,5% têm computador

PEDRO SOARES
da Folha de S.Paulo, no Rio

O acesso a computadores reflete as desigualdades econômicas e sociais do Brasil, de acordo com o "Mapa da Exclusão Digital", divulgado ontem pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Apenas 12,46% dos brasileiros têm computador em casa. O percentual dos que estão conectados à internet é ainda menor: 8,31%.

O estudo, baseado em dados de 2001, revela ainda uma situação de "apartheid digital": para cada negro/pardo com acesso à informatização existem 3,5 brancos na mesma situação.

Entre os pardos, 4,06% possuem computador em casa. No caso dos negros, esse percentual é de 3,97%. Para os brancos, o índice chega a 15,14%. No Brasil, os pardos representam 38,45% da população, de acordo com o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os negros são 6,21% dos brasileiros. Os brancos, 53,74%.

A partir dos dados do estudo, é possível traçar o seguinte perfil de quem tem computador: branco, morador de uma grande cidade do Sudeste, com idade entre 40 e 50 anos, renda superior à media da população e com mais de 12 anos de estudo formal.

"A chance de um branco ter acesso a computador é muito maior. Considerando condições iguais de renda e anos de estudo -ou seja, pessoas que são iguais em tudo, menos na raça-, a possibilidade de um branco ter acesso à internet é 167% maior", afirmou Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV.

Essa diferença, segundo Neri, justifica criar "programas de inclusão digital específicos" voltados para afrodescendentes.

Entre todos os que têm computador, 79,77% são brancos, 15,32% são pardos e 2,42%, negros. A taxa de inclusão dos índios é um pouco menor do que a dos negros: 3,72%. No extremo oposto estão os amarelos (orientais): 41,66% deles possuem computador em suas casas.

Política estrutural

Citando o exemplo do Fome Zero, Neri defende uma campanha de doação de recursos para projetos de disseminação da informática. É um tipo de política social estrutural, diz, que deixa "raízes" na vida dos beneficiados. "Não é só ensinar a pescar, mas também financiar a compra da vara [o computador]", afirmou, sugerindo a criação de linhas de microcrédito para a aquisição de terminais.

Segundo Rodrigo Baggio, diretor do CDI (Comitê para Democratização da Informática), programas de inclusão digital devem ser destinados a jovens "em situação de risco social" -desempregados e alvos do recrutamento de grupos criminosos- das periferias dos centros urbanos.

Nesses locais, que já contam com infra-estrutura como a luz elétrica, existe uma carência de profissionais de informática, afirma Neri. Ele defende a doação de computadores, já que o seu preço de revenda é baixo. A cada 18 meses o produto perde aproximadamente 50% do seu valor por causa da renovação tecnológica.

Apesar de parcela pequena da população ter acesso ao computador, o "Mapa da Exclusão Digital" mostrou que, a cada quatro meses, cerca de 1 milhão de pessoas entram no grupo dos "incluídos".

Por isso, embora não haja dados oficiais para este ano, a FGV estima que os "informatizados" passaram de 17,3 milhões, em 2000, para 26,7 milhões, em março deste ano -ou 15,43% da população. Restariam ainda 149,4 milhões de brasileiros excluídos.

A pesquisa utilizou dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílio) de 2001 e do Censo de 2000 -os primeiros levantamentos em que o IBGE pesquisou o acesso a computadores e à internet.

O mapa -uma iniciativa conjunta do CDI, da FGV, da empresa de informática Sun Microsystems e da Usaid (agência internacional de desenvolvimento dos EUA)- mostrou também que as mulheres têm um grau de inclusão pouco maior do que os homens -12,65% contra 12,26%.

"As mulheres deveriam ter taxas de acesso muito maiores porque têm atributos, como educação, superiores aos dos homens. É uma brecha digital", diz Neri.

Quanto maior a escolaridade, maior é o acesso ao computador. Na faixa de 1 a 4 anos de estudo, por exemplo, a taxa de inclusão é de 4,84%. Já entre os que estudaram mais de 12 anos, é de 58,92%. A escolaridade média dos incluídos é de 8,72 anos -quase o dobro da dos excluídos.

A renda média de quem tem computador é de R$ 1.677, quase quatro vez maior do que a dos excluídos, que é de R$ 452. O rendimento médio apurado pela Pnad de 2001 era de R$ 569.
 

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