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01/12/2003 - 09h20

A internet e a desesperança na espécie humana

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ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Colunista da Folha de S.Paulo

"Escuta Aqui" viveu uma experiência inédita na semana passada. É que, por algumas poucas horas, esta coluna foi lida por um público... normal.

Vamos explicar. Na versão impressa da Folha, "Escuta Aqui" está aqui, no Folhateen, numa página par de um suplemento semanal, publicado em formato tablóide e dirigido a adolescentes. Cada item listado na frase anterior mostra que a coluna atinge um público muito específico, não exatamente majoritário entre a massa de leitores que acompanha o jornal.

Na internet, é a mesma coisa. É preciso entrar na página do UOL, depois na da Folha, depois na parte de "semanais", para aí achar o Folhateen e, se for o caso, esta coluna. De novo, há uma segmentação forte de público.

Mas eis que, na segunda-feira passada, "Escuta Aqui" ganhou um destaque inédito na "homepage", isto é, na página de entrada do UOL. Estava lá, no canto superior direito, acima de todas as manchetes do dia, uma chamada para "Escuta Aqui", que tratava de um assunto muito popular --a vida louca de Michael Jackson.

E foi assim, por causa de algum tempo em lugar de honra no UOL, que travei esse inédito contato com gente... normal. Não o leitor do Folhateen, interessado em música e comportamento. Falo do cara comum, que abriu a rede como milhões de outras pessoas e viu lá uma chamada sobre Michael Jackson e foi conferir o que o mané que assina estas linhas tinha a dizer sobre o assunto.

Foram centenas de e-mails. A maioria de fãs de Elvis Presley revoltados porque o citei como exemplo de celebridade que teve um fim patético. Mas fã é assim mesmo, então, não conta.

O que me impressionou entre tantas mensagens "normais" foi justamente o quão "normais" elas são. Não encontrei uma opinião inesperada, uma crítica bem-fundamentada, um texto com bom humor. Só o de sempre: mensagens cristão-moralistas, platitudes sobre a vida, elogios nada a ver, xingamentos idem.

Em contraste a tudo isso, chegou também uma longuíssima mensagem, mandada mais no final da semana por um leitor que assina apenas Rogério. O rapaz, que diz acompanhar "Escuta Aqui" há muitos anos, aproveitou o contato para disparar o que em inglês se chama de "rant" -ou seja, um desabafo violento, míssil verbal contra tudo e todos.

Entre as várias críticas de Rogério, destaco esta: "Para 95% da galera, a internet só serve para games, chat, besteirol e trabalhos escolares sem pesquisa, inclusive na faculdade."

Tive a mesma impressão com essa inédita popularidade de "Escuta Aqui". Foi tudo "normal" demais.

Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo.
 

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