Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/09/2006 - 04h35

Vista atrapalhará antivírus, diz especialista

Publicidade

JULIANO BARRETO
da Folha de S.Paulo

Mais de década após o fim da Guerra Fria, os russos e ex-soviéticos ainda fazem o papel de vilões nos filmes de Hollywood. No mundo da segurança digital, também. Enquanto os EUA são o lar das empresas líderes no mercado de antivírus, a Rússia e os seus vizinhos têm a fama de ser os maiores celeiros de criminosos on-line. O pesquisador-chefe e co-fundador da produtora de softs de proteção Kaspersky Lab (www.kaspersky.com), Eugene Kaspersky, não concorda com essa visão. Em entrevista à Folha, durante visita ao Brasil, o especialista apontou a China e os países Latinos como principais fontes de vírus e disse que o Windows Vista trará novas dores de cabeça para os usuários. Confira.

Folha de S.Paulo - Qual o motivo de sua visita ao Brasil?
Eugene Kaspersky - Estamos desenvolvendo nosso produto em vários países ao mesmo tempo, mas como somos uma empresa pequena, não temos recursos para promover negócios internacionais simultaneamente em todos os lugares. Começamos a divulgar nosso produto nos EUA, na Europa e na China. E agora estamos passando pela Índia, pelo Oriente Médio e pelos países da América Latina.

Folha de S.Paulo - Porque ainda precisamos de um programa contra vírus e de outro contra o spyware? Quando um soft fará direito as duas coisas?

Kaspersky - Isso já é possível há alguns anos. Vários antivírus detectam os programas espiões. Em testes independentes, a qualidade dos serviços muitas vezes é até superior nos antivírus do que nos pacotes anti-spyware. Creio essa é mais uma questão de marketing do que uma discussão técnica.

Folha de S.Paulo - Então porque muitas vezes uma varredura do antivírus não encontra os problemas que um anti-spyware encontraria?

Kaspersky - Isso acontece porque todos os antivírus e todos os anti-spyware não são capazes de detectar 100% dos códigos maliciosos. Essas duas categorias de programas têm qualidades diferentes. Há casos nos quais os programas espiões estão em arquivos "limpos" tanto na análise dos antivírus quanto na dos anti-spyware. Nessas situações, é preciso fazer um estudo do problema e criar novas soluções, novas atualizações de proteção.

Folha de S.Paulo - Por que os vírus de alcance global deixaram de aparecer?

Kaspersky - Sim, exatamente. Os criadores de vírus mudaram. Eles preferem agir tendo os lucros como meta. Preferem roubar contas de banco ou invadir um número limitado de máquinas. Por isso, os criminosos da internet não precisam de uma epidemia global. Eles usam alguns milhares de computadores para os ataques, porque não precisam de milhões de máquinas para ter sucesso. Muitos dos hackers que criaram vírus famosos foram presos. Por essa razão, não é uma boa idéia chamar atenção, é melhor agir local. Ninguém quer ser preso. Hoje, quem iniciar uma epidemia global certamente será investigado e preso.

Folha de S.Paulo - Atualmente, qual é a pior ameaça aos computadores na internet?

Kaspersky - Creio que sejam os programas de roubo de senhas bancárias, chamados Bank Trojans. Com esse tipo de invasão, o criminoso vai direto ao dinheiro da vítima.

Folha de S.Paulo - Você enxerga os computadores de mão e os telefones celulares como alvos de vírus num futuro próximo?

Kaspersky - Acredito que os PDAs não serão atacados com freqüência. Eles têm conexões esporádicas com a internet e geralmente não carregam dados pessoais importantes. Já os smartphones são como os computadores. Praticamente todas as atividades criminosas presentes na internet atual podem ser feitas nos celulares de última geração. Por enquanto, os golpistas não estão interessados nisso. Não existem tantos aparelhos desse tipo por aí, e é muito mais fácil infectar milhares de computadores. Mesmo assim, o número de smartphones vendidos está aumentando. Temo que no futuro, tão logo o preço dos aparelhos começar a cair, eles sejam alvos cada vez mais comuns para os criminosos.

Folha de S.Paulo - Os antivírus serão capazes de proteger os telefones?

Kaspersky - É difícil prever. Hoje os programas são capazes de detectar esse tipo de ameaça, mas não de impedi-la de acontecer. É um jogo infinito. Temo que a maior dificuldade nesse caso, seja consertar os estragos feitos pelos vírus. Problemas de segurança precisam de flexibilidade dos sistemas, e os smartphones oferecem isso. Quanto mais moderno, menos seguro. Pegue como exemplo os celulares antigos. Eles não têm vírus, mas não podem baixar novos programas, e-mails, músicas. O problema todo é como os hooligans no futebol. Nunca acaba.

Folha de S.Paulo - Quais são os próximos passos para a proteção dos PCs?

Kaspersky - O passo número um será integrar várias tecnologias de defesa em um só produto. Juntar as bibliotecas de vírus, varredura heurística e outras técnicas. O segundo passo é educar os usuários. È preciso explicar quais são as atividades perigosas, como evitá-las etc. O terceiro é o investimento na polícia. Os países precisam investigar e prender um maior número de criminosos da internet.

Folha de S.Paulo - O pacote Microsoft OneCare e os outros antivírus baseados na internet não seriam uma solução?

Kaspersky - Eles não resolverão todos os problemas atuais, porque a qualidade do serviço não é boa o suficiente se comparada a outros antivírus.

Além disso, isso não é uma novidade. É apenas marketing.

Folha de S.Paulo - Qual sua opinião da nova geração de antivírus representada pelo Norton 360 e pelo McAfee com a tecnologia Falcon?

Kaspersky - Eles apenas colocaram programas para backup e para desfragmentação de disco rígido no mesmo pacote que o antivírus. Não estou certo de que isso seja algo útil. Essas tarefas podem ser feitas no Windows XP e no Vista sem a ajuda de nenhum programa. É outra estratégia de marketing. Estão vendendo algo que você já tem no computador.

Folha de S.Paulo - A chegada do Windows Vista trará mais segurança ou apenas novos problemas?

Kaspersky - Até o momento, vimos que o Vista é mais seguro do que o XP. Isso não quer dizer que ele seja 100% seguro. Vários programas nocivos atuais não funcionarão no próximo Windows. Em compensação, ele não resolve todos os problemas. Novas ameaças poderão tirar proveito de funções exclusivas do sistema. Alguns dos seus padrões e mecanismos internos não permitem que os antivírus funcionem corretamente.

Temo que as empresas de segurança tenham dificuldades de adaptar os seus produtos para o Vista. Nas versões que testamos até agora, a integração entre antivírus e sistema apresentou problemas.

Folha de S.Paulo - Que tipo de problemas?

Kaspersky - Os antivírus não conseguem interceptar informações de tarefas que são realizadas por uma parte muito profunda do código do sistema operacional. Atualmente quando um programa é aberto pelo Windows, uma mensagem interna é mostrada e o antivírus intercepta essa informação para analisar o código desse soft. No Vista existem mecanismos que tornam essa intervenção mais complicada. Mesmo com ajustes, algumas vezes, o antivírus simplesmente não funciona. Esse problema será superado, mas não será fácil.

Folha de S.Paulo - Essas dificuldades estariam relacionadas à entrada da Microsoft no mercado de antivírus?

Kaspersky - Não. Elas ocorrem porque o Vista tem novas funções embutidas de segurança que atrapalham os antivírus.

Folha de S.Paulo - Diversos relatórios sobre cibercrime apontam a Rússia e os países do Leste Europeu como maiores criadores de vírus e de golpes on-line. Isso é verdade?

Kaspersky - O criminosos comuns estão em todos os lugares e isso também vale para os criminosos que agem pela internet. Para mim, porém, a maioria dos códigos maliciosos é produzida na China. Depois, vêm os países que falam português e espanhol. Os programas de invasão não usam passaporte, por isso quando encontramos um código com trechos em espanhol ou em português não sabemos se ele veio de Portugal, do Brasil ou de San Francisco. A Rússia e os países da antiga União Soviética estão apenas em terceiro lugar. Isso não quer dizer que outros países não produzam ameaças perigosas. Os códigos maliciosos são produzidos em todos os lugares, nos EUA, no Japão. Já os programas que exibem propaganda indesejada (adware) são, em sua maioria, criados pelos norte-americanos.

Folha de S.Paulo - Também há um rumor sobre a existência de um mercado negro de falhas de segurança na Rússia.

Kaspersky - Já ouvi falar disso. Não tenho provas de que ele realmente exista. O que posso afirmar com certeza é que há pessoas vendendo bancos de dados roubados de agências do governo. Eles vendem CDs e DVDs na rua com informações pessoais, como nomes e endereços, de milhões de cidadãos russos.

Folha de S.Paulo - Qual é a ação do governo Russo em relação aos problemas de segurança na internet?

Kaspersky - Há uma divisão da polícia, do órgão que antigamente era conhecido como KGB, que cuida disso. Eles investigam esses casos, mas não são autorizados a prender as pessoas na rua. É um trabalho de inteligência, a tarefa deles é descobrir quem roubou as informações.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página