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30/08/2009 - 08h16

Corretor deixa de marcar termos alterados por Novo Acordo Ortográfico

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THAIS NICOLETI DE CAMARGO
consultora de língua portuguesa da Folha de S.Paulo

A euforia em torno do Novo Acordo Ortográfico e a perspectiva de não precisar aprender as novas regras devem estimular a venda de programas de correção automática.

Um deles é o recém-lançado Novo Corretor Aurélio, que promete ajustar os textos ao novo padrão ortográfico do português. Para que isso ocorresse de fato, porém, seria necessário que tivesse sido usada a base de dados do "Volp" ("Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"), da ABL (Academia Brasileira de Letras), documento que estabelece a grafia oficial das palavras.

Reprodução
Programa aponta erro em palavras grafadas corretamente; revisor não consegue detectar a perda de hífens em determinadas palavras
Programa aponta erro em palavras grafadas corretamente; revisor não consegue detectar a perda de hífens em determinadas palavras

As mudanças que não estavam tão claras no texto oficial, mas que estão no "Volp", não foram incorporadas ao Novo Corretor Aurélio. Assim, expressões como "mão de obra", "pai de santo" ou "calcanhar de aquiles" perderam os hifens, mas o revisor não consegue detectar essa mudança.

O mesmo vale para as palavras iniciadas pelo prefixo "não" ("não índio"), para os adjetivos compostos ligados por conjunção ("preto e branco", "verde e amarelo") e para as palavras iniciadas por quase ("quase contrato"). Há, portanto, um grande de número de termos cuja grafia atual o programa desconhece.

O programa é eficiente para acentuar as palavras. O velho acento de "idéia" é retirado automaticamente, assim como o de "vôo" e outros. Já os diferenciais nem sempre recebem um alerta para conferência do texto. Numa frase como "Decidiu por as ideias no lugar", a forma "por" não recebeu nenhum sinal de que poderia ser confundida com outra, a correta "pôr".

No teste, o programa não percebeu a falta de acento em uma forma como "espera-la". Termos como "papeis" ou "fieis" (formas verbais) recebem grifo verde, pois podem estar sendo confundidos com "papéis" ou "fiéis".

Os termos latinos "deficit", "superavit" e "quorum" perderam o acento, mas o corretor não reconhece isso. As grafias "coerdeiro" (nova) e "co-herdeiro" (antiga) são apontadas como erradas. O corretor sugere "cordeiro" e outros termos.

A forma "benfeito", que substituiu "bem-feito", é considerada errada. O mesmo vale para "antifumo", grafia correta. Termos onomatopaicos ganharam hifens ("ziguezague" agora se escreve "zigue-zague"), mudança que o corretor não identifica. Reconhece as grafias "subumano" e "sub-humano", mas não identifica "carbo-hidrato", uma das grafias possíveis.

O diacronismo "benção" continua figurando na base de dados, o que impede a correção para a forma atual "bênção".

Gramática e estilo

O programa, que promete corrigir a gramática e até o estilo, aponta erro no plural de "haver" e em uma estrutura como "nós vai", mas uma construção como "a gente vamos" tem seu estilo aprovado. Aponta erro em alguns acentos indicadores de crase (à ela, à todos), mas não resolve casos mais sutis.

As grafias de "porque" e as diferenças de significado entre termos parecidos ("infligir as regras de trânsito", "iminente senador", "seção de cinema") escapam do crivo da análise gramatical do Novo Aurélio.

Diante da grafia incorreta da forma verbal na construção "ele intermedia", o programa faz a correção automática para "intermédia", quando o esperado seria "ele intermedeia", que não aparece nem como sugestão. Não consegue perceber a correta conjugação dos irregulares no subjuntivo (se eu "transpor" em vez de "transpuser"). Numa frase como "Todos dias fazia a mesma coisa", não acusa a falta do artigo ("todos os dias") e sugere que o verbo vá para o plural ("faziam").

Defeitos de regência como preferir uma coisa "do que" outra passam despercebidos. Parece que a língua portuguesa e suas sutilezas continuam desafiando a tecnologia.

 

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