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02/08/2001
-
13h51
LEONARDO MEDEIROS
da Folha Online
Apesar de ser formado em psicologia, direito e engenharia civil, ele gosta mesmo é de software. Mais especificadamente do Linux, que afirma usar em 100% do tempo.
Um de seus ídolos da informática é Linus Torvalds. Tem como livro de cabeceira "A Catedral e o Bazar", que fala das tendências do software de código aberto. Essas evidências são óbvias quando falamos de Sandro Nunes Henrique, 38, presidente e um dos fundadores da Conectiva, maior companhia de distribuição de Linux da América Latina.
Para ele, o Linux é "filho primogênito" da internet. "Para você ter uma idéia, durante a produção do primeiro Linux em português, em 97, também participou gente da Malásia, da Rússia e dos Estados Unidos", afirma.
Depois de se envolver em um projeto que economizava milhões com a utilização de sistemas de códigos livres, ele e mais sete amigos abandonaram uma multinacional francesa para se dedicar exclusivamente ao mais forte concorrente do Windows. Em 1997, o grupo lançou a primeira distribuição de software aberto fora dos EUA e Europa.
Atualmente, a Conectiva possui centenas de funcionários, exporta para 12 países e fatura por volta de R$ 6,5 milhões anuais. Confira agora trechos de uma entrevista exclusiva que Henrique concedeu à Informática Online.
Folha Online - O Linux vai superar o Windows?
Sandro Nunes Henrique - Se falarmos em termos técnicos, o Linux pouco deve para o software comercial. Numericamente, é bastante possível considerando uma país como o Brasil. Atualmente existem cinco computadores para cada grupo de cem habitantes. Destes cinco, 56% utiliza software ilegal. O custo é o grande limitador para a difusão da informática no país entre os cidadãos de renda média. Então é natural que o uso do software livre, com custo de licença igual a zero, tenda a superar o comercial.
Folha Online - Mas a dificuldade de manejamento do Linux não torna o acesso ao software mais difícil?
Henrique - Não. Hoje existem 14 interfaces gráficas para Linux à opção do usuário. Se ele quiser, pode navegar por um ambiente idêntico ao do Windows.
Folha Online - Qual sua opinião sobre o processo movido contra a Microsoft a respeito das práticas comerciais?
Henrique - A Microsoft usou de práticas comerciais agressivas, pouco ortodoxas e eticamente discutíveis para conquistar alguns setores do mercado. A companhia acusa o software livre de ser um "vírus" da propriedade intelectual. Mas o que nós estamos discutindo não é nem qualidade técnica, mas são dois modelos: o comercial e o livre. A filosofia do Linux é "adote se quiser, melhore se quiser e adapte às suas necessidades". Mas, se considerarmos um país com exclusão social e digital como o nosso, fica claro que o modelo do software aberto é o mais adequado.
Folha Online - Como é a relação entre as fabricantes de computadores e as empresas de distribuição de Linux?
Henrique - As fabricantes de computadores têm grande interesse no Linux porque barateira o produto. No valor total do computador, entre 10% a 15% são referentes ao custo do software. Além disso, existem razões estratégicas. Essas empresas dependem de um único fabricante de software, então as duas opções que eles têm é pagar ou pagar. Agora, por que os fabricantes não adotam de uma vez o Linux? É uma questão de mercado. O mercado apenas começa a se formar.
Folha Online - E as empresas de hardware que relutam em criar drivers para que modems ou outras placas funcionem no Linux?
Henrique - Isso é uma realidade que vem mudando. O Linux é hoje o segundo sistema operacional em número de compatibilidade de hardware. Ele só perde para as versões mais recentes do Windows. Mas, realmente, muitas novidades que saem no mercado e com foco no público doméstico não rodam. O Linux está mais presente no mercado corporativo.
Folha Online - Por quê?
Henrique - O usuário doméstico utiliza mais os recurso multimídia do computador e navega na internet. E, de fato, esse é um segmento pouco desenvolvido no mundo do software livre. Por enquanto, o Linux está mais presente nas empresas e segmentos corporativos, seja por questões de segurança ou econômicas. Isso também envolve necessidades.
Folha Online - O que você acha alguns Estados e municípios baixarem leis obrigando a utilização de software livre como o Linux nas repartições públicas?
Henrique - Isso nasceu na Bahia e tem feito suas crias pelo país. É muito óbvio as instituições públicas usarem o software livre, que é mais econômico. Só acho estranho a necessidade de uma lei; as próprias leis de mercado já deveriam apontar esse caminho. Mas a iniciativa serve para suscitar a discussão.
Folha Online - A internet foi importante para dar impulso ao Linux?
Henrique - O Linux é o filho primogênito da internet. Ele nasceu e só é possível por causa da internet. Para você ter uma idéia, durante a produção do primeiro Linux em português, em 97, também participou gente da Malásia, da Rússia e dos Estados Unidos.
Folha Online - Não existe o risco do Linux se tornar um software especializado para o setor corporativo ou para a área de segurança de rede, assim como o Mac o é para o trabalho com imagens e vídeo?
Henrique - Nós não estamos focando mesmo os recursos multimídia. Mas não corremos esse risco por causa das estatísticas. Se o Linux significar 10% da população, isso justifica um trabalho de desenvolvimento comercial de jogos. Mas ainda não existe demanda do mercado doméstico, apesar de já existirem vários jogos.
Folha Online - Se qualquer um pode fazer download do Linux na internet, como ficam os lucros das empresas que investem no desenvolvimento desse sistema?
Henrique - A empresa que desenvolve sistemas abertos já tem uma redução de custos porque ninguém cobrou licença para utilização dos códigos. Agora, o grande paradigma do software aberto é abandonar o lucro sobre a licença e viver sobre o suporte, treinamento, update do programa que se desenvolveu. Essa empresa fatura sobre serviços.
Folha Online - E como fica a propriedade intelectual? Quem desenvolve um programa não pode vender?
Henrique - A licença sobre o Linux diz o seguinte: se você desenvolver um software para rodar em sistema livre, ele pode ficar aberto ou fechado, de acordo com a empresa. Se você usar o software livre para desenvolver outro, necessariamente o código deve estar aberto se você quiser passar isso para terceiros.
Folha Online - Quais são seus sites prediletos sobre Linux?
Henrique -Meus sites favoritos para são o www.freshmeat.net, que é um site de notícias. Também gosto do www.linux.org, da www.revistadolinux.com.br, que é a única publicação latino-americana de software livre, e da www.lwn.net.
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Apesar de ser formado em psicologia, direito e engenharia civil, ele gosta mesmo é de software. Mais especificadamente do Linux, que afirma usar em 100% do tempo.
Um de seus ídolos da informática é Linus Torvalds. Tem como livro de cabeceira "A Catedral e o Bazar", que fala das tendências do software de código aberto. Essas evidências são óbvias quando falamos de Sandro Nunes Henrique, 38, presidente e um dos fundadores da Conectiva, maior companhia de distribuição de Linux da América Latina.
Para ele, o Linux é "filho primogênito" da internet. "Para você ter uma idéia, durante a produção do primeiro Linux em português, em 97, também participou gente da Malásia, da Rússia e dos Estados Unidos", afirma.
Depois de se envolver em um projeto que economizava milhões com a utilização de sistemas de códigos livres, ele e mais sete amigos abandonaram uma multinacional francesa para se dedicar exclusivamente ao mais forte concorrente do Windows. Em 1997, o grupo lançou a primeira distribuição de software aberto fora dos EUA e Europa.
Atualmente, a Conectiva possui centenas de funcionários, exporta para 12 países e fatura por volta de R$ 6,5 milhões anuais. Confira agora trechos de uma entrevista exclusiva que Henrique concedeu à Informática Online.
Folha Online - O Linux vai superar o Windows?
Sandro Nunes Henrique - Se falarmos em termos técnicos, o Linux pouco deve para o software comercial. Numericamente, é bastante possível considerando uma país como o Brasil. Atualmente existem cinco computadores para cada grupo de cem habitantes. Destes cinco, 56% utiliza software ilegal. O custo é o grande limitador para a difusão da informática no país entre os cidadãos de renda média. Então é natural que o uso do software livre, com custo de licença igual a zero, tenda a superar o comercial.
Folha Online - Mas a dificuldade de manejamento do Linux não torna o acesso ao software mais difícil?
Henrique - Não. Hoje existem 14 interfaces gráficas para Linux à opção do usuário. Se ele quiser, pode navegar por um ambiente idêntico ao do Windows.
Folha Online - Qual sua opinião sobre o processo movido contra a Microsoft a respeito das práticas comerciais?
Henrique - A Microsoft usou de práticas comerciais agressivas, pouco ortodoxas e eticamente discutíveis para conquistar alguns setores do mercado. A companhia acusa o software livre de ser um "vírus" da propriedade intelectual. Mas o que nós estamos discutindo não é nem qualidade técnica, mas são dois modelos: o comercial e o livre. A filosofia do Linux é "adote se quiser, melhore se quiser e adapte às suas necessidades". Mas, se considerarmos um país com exclusão social e digital como o nosso, fica claro que o modelo do software aberto é o mais adequado.
Folha Online - Como é a relação entre as fabricantes de computadores e as empresas de distribuição de Linux?
Henrique - As fabricantes de computadores têm grande interesse no Linux porque barateira o produto. No valor total do computador, entre 10% a 15% são referentes ao custo do software. Além disso, existem razões estratégicas. Essas empresas dependem de um único fabricante de software, então as duas opções que eles têm é pagar ou pagar. Agora, por que os fabricantes não adotam de uma vez o Linux? É uma questão de mercado. O mercado apenas começa a se formar.
Folha Online - E as empresas de hardware que relutam em criar drivers para que modems ou outras placas funcionem no Linux?
Henrique - Isso é uma realidade que vem mudando. O Linux é hoje o segundo sistema operacional em número de compatibilidade de hardware. Ele só perde para as versões mais recentes do Windows. Mas, realmente, muitas novidades que saem no mercado e com foco no público doméstico não rodam. O Linux está mais presente no mercado corporativo.
Folha Online - Por quê?
Henrique - O usuário doméstico utiliza mais os recurso multimídia do computador e navega na internet. E, de fato, esse é um segmento pouco desenvolvido no mundo do software livre. Por enquanto, o Linux está mais presente nas empresas e segmentos corporativos, seja por questões de segurança ou econômicas. Isso também envolve necessidades.
Folha Online - O que você acha alguns Estados e municípios baixarem leis obrigando a utilização de software livre como o Linux nas repartições públicas?
Henrique - Isso nasceu na Bahia e tem feito suas crias pelo país. É muito óbvio as instituições públicas usarem o software livre, que é mais econômico. Só acho estranho a necessidade de uma lei; as próprias leis de mercado já deveriam apontar esse caminho. Mas a iniciativa serve para suscitar a discussão.
Folha Online - A internet foi importante para dar impulso ao Linux?
Henrique - O Linux é o filho primogênito da internet. Ele nasceu e só é possível por causa da internet. Para você ter uma idéia, durante a produção do primeiro Linux em português, em 97, também participou gente da Malásia, da Rússia e dos Estados Unidos.
Folha Online - Não existe o risco do Linux se tornar um software especializado para o setor corporativo ou para a área de segurança de rede, assim como o Mac o é para o trabalho com imagens e vídeo?
Henrique - Nós não estamos focando mesmo os recursos multimídia. Mas não corremos esse risco por causa das estatísticas. Se o Linux significar 10% da população, isso justifica um trabalho de desenvolvimento comercial de jogos. Mas ainda não existe demanda do mercado doméstico, apesar de já existirem vários jogos.
Folha Online - Se qualquer um pode fazer download do Linux na internet, como ficam os lucros das empresas que investem no desenvolvimento desse sistema?
Henrique - A empresa que desenvolve sistemas abertos já tem uma redução de custos porque ninguém cobrou licença para utilização dos códigos. Agora, o grande paradigma do software aberto é abandonar o lucro sobre a licença e viver sobre o suporte, treinamento, update do programa que se desenvolveu. Essa empresa fatura sobre serviços.
Folha Online - E como fica a propriedade intelectual? Quem desenvolve um programa não pode vender?
Henrique - A licença sobre o Linux diz o seguinte: se você desenvolver um software para rodar em sistema livre, ele pode ficar aberto ou fechado, de acordo com a empresa. Se você usar o software livre para desenvolver outro, necessariamente o código deve estar aberto se você quiser passar isso para terceiros.
Folha Online - Quais são seus sites prediletos sobre Linux?
Henrique -Meus sites favoritos para são o www.freshmeat.net, que é um site de notícias. Também gosto do www.linux.org, da www.revistadolinux.com.br, que é a única publicação latino-americana de software livre, e da www.lwn.net.
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