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13/04/2002
-
00h03
FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online
Dizem que há as vantagens de ser jornalista. Alguns sentem o sangue pulsar mais forte por estarem na frente dos outros, diante das últimas novidades. Assim também me senti, não nego, quando tive um celular com acesso à internet em minhas mãos pela primeira vez.
"Imagine", pensei. "Navegar usando um aparelho que cabe na palma da mão."
Não importa que eu tenha vindo para casa e tenha visto, no mínimo, umas dez pessoas passando frio e fome pelas ruas. Estacionei o carro e entrei no calor de minha casa sem remorsos: sou um típico cidadão da classe média brasileira.
A grande verdade é que adorei o tal de WAP. Pude, pela primeira vez na história de minha vida, acessar um mundo de informação enquanto estava no banheiro, ao trono. Antes precisava levar o notebook, aquilo era grande e pesado demais!
Pude, como o maior magnata do mundo, saber quanto tinha na conta do banco enquanto sentava tranquilo na sala. É terapêutico sentir-se um pouco "Bill Gates" de vez em quando, nem que em dez encarnações eu não consiga -ou precise de- rendimentos semelhantes aos dele.
Quando deitei ao lado de minha mulher, à noite, senti que ela queria algo mais. "Já volto, meu bem", disse à ela enquanto levantava da cama. Peguei o celular sobre a cômoda e zap! Fui ver meu horóscopo sexual! Será que dava pé naquele dia?
Que noite maravilhosa! Que maravilha é a tecnologia!
Acordei no dia seguinte e viajei para o interior. Sabe como é, quem vive para cima e para baixo na cidade precisa se desligar um pouco da loucura de quando em vez. E consegui -pasme, leitor!- verificar as dezenas da loteria enquanto dirigia pela via Dutra. Fantástico!
O dia estava belo na casa de campo. Saímos para dar uma caminhada e fruir a paisagem. Não sem o celular, claro. E se o mundo acabasse, algum terrorista maluco decidisse jogar um avião contra prédios cheios de pessoas como eu? Eu tinha que saber das coisas, precisava consumir a informação de qualquer forma!
Voltei refeito na segunda-feira. Passei o fim de semana fruindo a paisagem, aproveitando a vida, curtindo aquele verde -o que servia de fundo para os minúsculos caracteres da tela de cristal líquido. E depois dizem que sou ausente em casa...
Escreva para o autor da coluna @usuário.com
A internética vida sem fio no celular
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Editor de Informática da Folha Online
Dizem que há as vantagens de ser jornalista. Alguns sentem o sangue pulsar mais forte por estarem na frente dos outros, diante das últimas novidades. Assim também me senti, não nego, quando tive um celular com acesso à internet em minhas mãos pela primeira vez.
"Imagine", pensei. "Navegar usando um aparelho que cabe na palma da mão."
Não importa que eu tenha vindo para casa e tenha visto, no mínimo, umas dez pessoas passando frio e fome pelas ruas. Estacionei o carro e entrei no calor de minha casa sem remorsos: sou um típico cidadão da classe média brasileira.
A grande verdade é que adorei o tal de WAP. Pude, pela primeira vez na história de minha vida, acessar um mundo de informação enquanto estava no banheiro, ao trono. Antes precisava levar o notebook, aquilo era grande e pesado demais!
Pude, como o maior magnata do mundo, saber quanto tinha na conta do banco enquanto sentava tranquilo na sala. É terapêutico sentir-se um pouco "Bill Gates" de vez em quando, nem que em dez encarnações eu não consiga -ou precise de- rendimentos semelhantes aos dele.
Quando deitei ao lado de minha mulher, à noite, senti que ela queria algo mais. "Já volto, meu bem", disse à ela enquanto levantava da cama. Peguei o celular sobre a cômoda e zap! Fui ver meu horóscopo sexual! Será que dava pé naquele dia?
Que noite maravilhosa! Que maravilha é a tecnologia!
Acordei no dia seguinte e viajei para o interior. Sabe como é, quem vive para cima e para baixo na cidade precisa se desligar um pouco da loucura de quando em vez. E consegui -pasme, leitor!- verificar as dezenas da loteria enquanto dirigia pela via Dutra. Fantástico!
O dia estava belo na casa de campo. Saímos para dar uma caminhada e fruir a paisagem. Não sem o celular, claro. E se o mundo acabasse, algum terrorista maluco decidisse jogar um avião contra prédios cheios de pessoas como eu? Eu tinha que saber das coisas, precisava consumir a informação de qualquer forma!
Voltei refeito na segunda-feira. Passei o fim de semana fruindo a paisagem, aproveitando a vida, curtindo aquele verde -o que servia de fundo para os minúsculos caracteres da tela de cristal líquido. E depois dizem que sou ausente em casa...
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