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11/05/2002 - 00h12

Era da tecnologia cria "geração ansiedade"

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FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

Na semana passada, tive a chance de conhecer —ainda que por e-mail— Jon "Maddog" Hall, um dos maiores gurus de Linux do mundo. Simpático e bem humorado, ele conversou comigo sobre software, computadores e o mundo da tecnologia.

A certa altura da conversa, perguntei a Hall —cujo apelido deriva de "cachorro louco" mesmo, por sua atitude intempestiva quando professor— quanto tempo ainda demoraria para que o Linux chegasse com força nos micros domésticos.

"Um dos problemas que temos no mundo de hoje é essa questão do 'instante'. Todo mundo quer as coisas para ontem. Temos até macarrão 'instantâneo', molho de tomate 'instantâneo'. As pessoas se esquecem de que existe inércia no mundo", disse o linuxista de barba branca, que, neste momento, mais pareceu um ancião, um sábio ao estilo ocidental, que não se retira aos templos, mas programa computadores.

"As pessoas se esquecem de que existe inércia no mundo."

É interessante pensar no conceito de inércia para nosso tempo —ou então na ausência desse conceito na mentalidade que criamos nos anos 90.

Tudo parecia possível. Democracias emergentes. Tecnologia. Abertura de mercados. Ações em alta. Parecia que o mundo estava entrando no forno e, dali em diante, a temperatura só iria aumentar.

"Abram as cortinas! A geração do computador!"

O clique. O instantâneo. As coisas imediatas. Independentes de processos complexos. Investimentos pequenos viram fortunas em meses. Tudo muito simples —tão simples, mas tão simples que conduziu à uma sensação de um imenso vazio.

Principalmente depois da tal "crise" que o noticiário atual —também simples e vazio, de tão voltado para o instantâneo— insiste em destacar.

Gigantes da indústria ruíram. Fortunas desapareceram. O dinheiro sumiu. A publicidade afundou em crise. Foram como vieram. Num clique.

Quem viveu com intensidade esse fenômeno da década de 90 deve pensar como seria bom se, na vida real, existisse aquele comando chamado "undo". Os erros poderiam ser desfeitos, os enganos, resolvidos com um simples acertar de rumo.

Mas a vida real não tem "undo". E ela é mais que um clique. A vida tem inércia. Tem tempo de digestão. E nenhuma publicidade ou estratégia de marketing pode fazer meu estômago trabalhar mais depressa para digerir mais e mais (não até que a genética trabalhe a serviço disso).

Quem sabe seja essa a crise do mundo da tecnologia, do nosso tempo. Um tropeço na própria pressa, o "mal-estar do instante". Uma superprodução ilusória, até certo ponto parecida com a de 1929, de uma indústria que se imaginou capaz de concentrar riqueza e, ao mesmo tempo, manter o nível de consumo em todo o mundo.

Só que ainda há, por toda parte, muitos estômagos vazios. E, se o imediatismo auto-defensivo ainda não deixou muitos perceberem, matar essa fome é que poderá manter a roda girando.

Escreva para o autor da coluna @usuário.com
 

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