ANDRÉ BENEVIDES
colaboração para a Livraria da Folha
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Paulo Markun acaba de lançar livro com as aventuras do explorador Cabeza de Vaca |
As peripécias do fidalgo espanhol do século 16 dom Álvar Núñez Cabeza de Vaca foram tantas que quase não couberam na capa do livro que o jornalista Paulo Markun acaba de lançar, "Cabeza de Vaca". Soldado, alcoviteiro, conquistador, escravo, curandeiro e governador são apenas algumas das qualificações a ele atribuídas.
Leia um trecho de "Cabeza de Vaca"
Além disso, ele parece ter contado com uma boa dose de sorte. Em uma das passagens que mais chamaram a atenção do autor, o aventureiro teria se salvado de afundar um navio por causa de um grilo. "Naquela época era muito comum que as pessoas levassem estes insetos a bordo como animais de estimação. No meio da noite o grilo começou a cantar, e alguém lembrou que eles só faziam isso quando estavam em terra. Quando foram ver, o navio estava se aproximando de rochedos na costa brasileira", conta. Desta vez, a tripulação conseguiu desviar a tempo.
Em outros episódios, no entanto, Cabeza de Vaca acabou naufragando, mas sobreviveu nas três ocasiões. Em 1527, o navio em que viajava afundou no litoral da Flórida e ele foi escravizado pelos índios da região. Durante cerca de dez anos, viveu nu e descalço, perambulando por tribos, vivendo do comércio e, posteriormente, como curandeiro, até que conseguiu contato com espanhóis que ocupavam o México.
Voltou à sua terra natal e foi gratificado com o cargo de governador de Santa Catarina. Lá chegando, não conseguiu ficar muito tempo no ócio administrativo, e foi logo empenhar mais uma de suas lendárias andanças. Desta vez, procurava por uma serra na região de Assunção que diziam ser feita inteiramente de prata. Contraiu malária e sucumbiu. Quando voltou à ilha, foi deposto do cargo e feito prisioneiro por oficiais cujos interesses entravam em confronto com os seus.
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Conheça a impressionante trajetória do fidalgo espanhol nas Américas |
Na Espanha, ainda precisou encarar um processo com o fiscal Juan de Villalobos, dono de um histórico rigoroso. "Ele já havia processado Colombo, Cortés e Pizarro. Em um dos casos, ele tentou demonstrar que Colombo não havia descoberto a América --e acabou sendo punido por isso", conta Markun. A documentação que registrou estes autos acabou sendo uma grande fonte de informações para a elaboração da obra. O jornalista também se valeu das memórias do próprio Cabeza de Vaca, "Naufrágios e Comentários". "No entanto, este livro está escrito na linguagem de 1500, e não é todo mundo que suporta isso, embora a história seja muito interessante", observa.
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Markun relata que acabou se deparando com este peculiar personagem ao acaso: "Em 98, quando comecei escrever a história da Anita Garibaldi, acabei me deparando com o Cabeza de Vaca, que foi um dos primeiros governadores de Santa Catarina. E eu constatei que não havia uma biografia sobre a vida dele em português", explica.
Ele descobriu também que em Sevilha, por conta do processo movido contra o explorador, havia fartos registros sobre sua vida. No processo de pesquisa, acabou por escanear e traduzir centenas de páginas oficiais em espanhol antigo. Tudo isso foi compilado, organizado e ficará disponível a partir dos próximos dias no site www.cabezadevaca.com.br.