Livraria da Folha

 
26/11/2009 - 17h18

Picharam "odeio nordestino" em muro de SP; veja como um grafiteiro reagiu

SÉRGIO RIPARDO
colaboração para a Livraria da Folha

"Odeio nordestino" foi o que picharam no muro de uma pensão na r. Fortunato, em Santa Cecília, região central de São Paulo, onde migrantes vivem em hospedarias baratas (R$ 250 por mês) e se divertem em botecos e casas de forró. Mas o que era uma mensagem de ódio se transformou, no dia seguinte, em um grafite com uma imagem de um sertanejo no cenário da caatinga. E ninguém no bairro falou mais nisso.

A poetisa Francis Bezerra explica a reviravolta no caso: "Há muitos grafiteiros em São Paulo que são filhos ou netos de nordestinos. O grafite é um dos nossos principais aliados contra a discriminação por origem", diz a fundadora e presidente da Anesp (Associação dos Nordestinos do Estado de São Paulo).

Sérgio Ripardo
Picharam "ODEIO NORDESTINO" em muro de pensão em SP; dias depois, grafite "apagou" mensagem de ódio
Picharam "ODEIO NORDESTINO" em muro de pensão em SP; dias depois, grafite "apagou" mensagem de ódio

Ela afirma que o preconceito contra migrantes diminuiu nas últimas décadas na capital paulista. Há atualmente uma lei estadual condenando a discriminação por origem. Francis diz que, apesar do menor número de casos, ainda surgem pichações, sendo que algumas ainda incorporam outros tipos de ódios, como contra negros, judeus e homossexuais.

A presidente da Anesp já cuidou de casos de crianças nordestinas que tiveram de abandonar a escola por conta da "nordestinofobia". Ela conta que até universitários também sofrem esse tipo de "bullying" (constrangimento e intimidação).

"O preconceito está menor. Hoje muitos nordestinos ocupam posições de destaque em São Paulo. Temos diretores do Hospital das Clínicas, coronéis de brigada, promotores, juízes, estamos em todos os segmentos", diz Francis.

O surgimento de uma geração de descendentes de nordestinos também contribui, na sua avaliação, para tornar raras as manifestações explícitas de discriminação. A Anesp trabalha com o dado de que 82% da população de São Paulo tem algum parentesco com migrantes nordestinos. A associação realiza palestras de conscientização, como a promovida recentemente na favela de Paraisópolis.

Sérgio Ripardo
"Ame São Paulo" em grafite da dupla Osgêmeos (Otávio e Gustavo Pandolfo) em prédio abandonado na av. São João
"Ame São Paulo" em grafite da dupla Osgêmeos (Otávio e Gustavo Pandolfo) em prédio na av. São João

No mundo das letras, o grafite e a pichação também são temas de livros. Em "Grafite, Pichação e Cia", Celia Maria Antonacci Ramos, doutora em comunicação e semiótica pela PUC-SP, faz um estudo sobre como esse movimento das ruas funciona como uma mensagem da rotina visual dos habitantes das grandes cidades.

Em "O Que É Graffiti", Celso Gitahy destaca como o grafite se tornou uma grande galeria de arte a céu aberto, com postes, calçadas e viadutos expressando, às vezes com imagens misteriosas, as diferentes percepções da vida urbana e de seus problemas.

Monte sua biblioteca sobre grafite

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"Grafite, Pichação e Cia"
Autora: Celia Maria Antonacci Ramos
Editora:Annablume
Páginas: 176
Quanto: R$ 18
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

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"O Que É Graffiti"
Autor: Celso Gitahy
Editora:Brasiliense
Páginas: 84
Quanto: R$ 19
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

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"Ttsss a Grande Arte da Pixação em São Paulo Bilíngue"
Autor: Boleta
Editora: Editora do Bispo
Páginas: 152
Quanto: R$ 68
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

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"O Mundo do Grafite"
Autor: Nicholas Ganz
Editora: WMF EDITORA
Páginas: 376
Quanto: R$ 85,40
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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