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10/10/2010 - 15h12

Entenda por que o cordel tornou-se a poesia popular brasileira

da Livraria da Folha

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Primeiros cordelistas não tinham compromisso com a métrica e com o número de versos
Primeiros cordelistas não tinham compromisso com a métrica e com o número de versos

Como classificar as modalidades de versos na literatura de cordel? Surpreende-se quem pensa que os mais conhecidos são somente os dos brasileiros Patativa do Assaré (1909-2002), Ariano Suassuna, Orígenes Lessa (1903-1986), Roberto Câmara Benjamin e Carlos Alberto Azevedo.

O francês Robert Mandrou (1921-1984) e o espanhol Julio Caro Baroja (1914-1995) também têm escritos com raízes cordelistas profundas e difusas. Porém, os versos orais dos repentistas são aqueles que imperam nas estrofes.

A literatura de cordel brasileira possui origens portuguesas. Instalou-se primeiro em Salvador por meio dos colonizadores. De lá, irradiou-se para os demais Estados do Nordeste. Por volta de 1750, os primeiros versos orais apareceram, e o cordel se tornou a poesia popular brasileira.

Atualmente, as estrofes são compostas por versos de quatro ou cinco sílabas até alexandrinos, de 12. Os cordelistas contemporâneos primam pela uniformização ortográfica e rítmica de seus escritos.

Conheça abaixo um panorama das modalidades de versos que foram desenvolvidas em cerca de 260 anos de história de literatura de cordel no Brasil.

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1. A literatura de cordel oral no Brasil foi precursora da escrita. Os primeiros cordelistas não tinham compromisso com a métrica e com o número de versos. As disparidades residiam na brevidade ou no alongamento das estrofes. Porém, o entrave de palavras já era delineado --o interlocutor rimava a última palavra do seu verso com a última do parceiro.

2. Conhecida como "parcela" ou verso de quatro sílabas é a forma mais curta da literatura de cordel. A palavra não pode ser longa por conta do sentido e dos limites da métrica. A "parcela" --hoje em desuso-- tinha o objetivo de confundir o oponente nos combates poéticos. Não se tem indícios de sua autoria.

3. A parcela de cinco versos é recente. Também era cantada em ritmo acelerado e exigia uma rapidez de raciocínio do repentista. Tanto os versos de quatro quanto os de cinco surgiram quase um século depois das primeiras manifestações que continham quatro versos de sete sílabas.

4. A sextilha origina-se dos quatro versos de sete sílabas, acrescida de mais duas linhas. Indicada para os longos poemas romanceados, é a forma de cordel atual mais completa. Sua presença faz-se obrigatória no início de qualquer embate poético, em longas narrativas, e sátiras políticas e sociais. Apresenta cinco estilos: aberto, fechado, solto, corrido e desencontrado.

5. Já as setilhas --estrofes de sete versos de sete sílabas-- são indicadas para ser cantadas em reuniões festivas e em feiras.

6. "Oito Pés de Esquadrão" ou oitavas são compostas por estrofes de oito versos de sete sílabas. Há dois tipos: a de cunho popular e a clássica. O que difere ambas é a rima.

7. Com dez versos de sete sílabas, as décimas são as mais usadas pelos poetas e repentistas. São indicadas para delinear motes narrativos.

8. Criado pelo prof. Jaime Pedro Martelo, o "Martelo Agalopado" --estrofe de dez versos de dez sílabas-- é uma das modalidades mais antigas na literatura de cordel. As martelianas alongavam-se com rimas pares, até completar o sentido desejado. O estilo começou a ser esquecido a partir do desaparecimento do professor, em 1727. Foi retomado em 1898 pelo cordelista José Galdino da Silva. Há também o martelo de seis versos, que é mais refinado.

9. O chamado "Galope à Beira-Mar", com versos de onze sílabas, é mais longo que as martelianas. Já o "Galope Alagoano", que contém dez versos de dez sílabas, tem obrigatoriamente um mote.

10. A "Meia Quadra" ou versos de quinze sílabas possui rimas emparelhadas.

 
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