Livraria da Folha

 
27/05/2010 - 02h19

Cronista vencedor do Jabuti descreve como é a "mulher perdigueira" em livro

da Livraria da Folha

Divulgação
Autor tenta decifrar o que está nas entrelinhas do viver do ser humano
Autor tenta decifrar o que está nas entrelinhas do viver do ser humano

Como registrar em páginas a dor, o amor, o silêncio e o prazer de forma delicada? Fabrício Carpinejar, melhor cronista do tradicional prêmio Jabuti no ano passado, consegue imprimir nas crônicas de seu recente "Mulher Perdigueira" esses temas e cativar a leitura do público.

No livro, o escritor cria sentido para o que não se vê, não tem cor, não pesa mas sentimos o desequilíbrio, não tem forma mas muda, não nomeamos mas existe.

Carpinejar consegue rasgar as histórias, enlaçar as almas, construir e destruir os sentidos sem deixar de falar sobre tudo aquilo que importa. Em crônicas como "Gay Heterossexual", disseca a alma feminina, transforma plástico em verdades em "Pratinho do Vaso" e evidencia sua ironia em "Ou Entra em Tratamento ou Termino o Namoro".

O escritor aproxima-se do etéreo e atravessa as pessoas com lupa com essas 125 crônicas. Leia abaixo um trecho do volume, no qual Carpinejar descreve como é a chamada "mulher perdigueira", que dá nome ao livro.

Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar uma ideia ou uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando. A mulher que ninguém quer eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer.

 
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