Livraria da Folha

 
28/05/2010 - 18h23

Autor explica as diferenças sociais entre Brasil e Estados Unidos

da Livraria da Folha

Como os norte-americanos se tornaram tão ricos e prósperos, e nós, brasileiros, nem tão ricos, nem tão prósperos? As respostas para essa pergunta estão no livro "Brasil e Estados Unidos: O que Fez a Diferença" (Civilização Brasileira, 2008).

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Volume revela ambições, conflitos econômicos e valores antagônicos
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Mesmo semelhantes em suas bases, como grande territórios e disponibilidade de matérias-primas, os Estados Unidos se firmou como a nação poderosa, e o Brasil se conserva como um país emergente.

Ricardo Lessa, autor do volume, examina as correntes sociais, econômicas e políticas que determinaram o perfil de cada país, gerando diferenças e encontros.

De acordo com Lessa, as diferenças começaram com a chegada dos primeiros colonizadores em cada país. Enquanto no Brasil, em 1500, Pedro Álvares Cabral mal aportou e já seguiu rumo à Índia, que era seu objetivo, nos EUA, o barco Mayflower aportou com ingleses que fugiam de perseguições religiosas e pretendiam construir na América um novo país.

Leia um trecho que retrata das diferenças entre as colonizações do Brasil e dos Estados Unidos.

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".

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O princípio da história dos países que viriam a ser Brasil e Estados Unidos já mostra que os dois teriam de seguir obrigatoriamente caminhos diferentes. Em 1500, Cabral passou por aqui, largou dois degredados, rezou uma missa e foi-se embora para a Índia - que era o que lhe interessava. Lá bombardeou e tomou o porto de Calicute, assaltou a cidade e voltou para Portugal com as caravelas cheias de especiarias, jóias, roupas e outros produtos do saque.

Já o povo que estava no Mayflower em 1620 e fundou os Estados Unidos - os 101 peregrinos que desembarcaram no que chamaram Nova Inglaterra - não tinha a menor intenção de voltar para a Europa nem estava interessado em saques e botins. Eles eram crentes das religiões surgidas do cisma com a Igreja católica. Brigaram com a Igreja anglicana (chefiada pelo rei da Inglaterra), que consideravam muito parecida com a católica, e queriam um lugar para viver, prosperar e rezar da forma que melhor lhes aprouvesse.

Como bem definiu o historiador americano Arthur Schlesinger Jr.: "O novo país era em grande parte povoado por gente arrancada à sua própria história, em fuga para escapar-lhe ou em revolta contra ela."

Embora o ano de 1500 seja comemorado como a data de início da nação brasileira, de fato quase nada do que seria o Brasil começou naquela data, a não ser a miscigenação racial, que se tornou regra na história brasileira. Os dois degredados (Afonso Ribeiro e um segundo, nunca nomeado) mais dois grumetes foragidos, possivelmente, geraram com as índias os primeiros brasileiros - mistura de brancos e índios.

Os degredados e os grumetes portugueses se perderam no ambiente totalmente novo e desconhecido. Um dos degredados, o anônimo, foi esquecido sem deixar traços na história; o outro depois foi recolhido e levado de volta a Portugal. Não se sabe o que aconteceu com os grumetes. Mas sabe-se que os portugueses que chegaram depois no Brasil encontraram mestiços, que eles chamavam de mamelucos, filhos das índias com os portugueses ou espanhóis - viajantes que aqui naufragaram.

Já os peregrinos ingleses, desde o início, tinham a intenção de fazer um novo país. Assim proclamava o núcleo homogêneo de famílias inglesas e puritanas que formou a colônia em Cape Cod, no atual estado de Massachusetts. Depois do primeiro núcleo chegaram outros semelhantes, com idêntica disposição de criar um país para si, onde pudessem viver longe da exploração da nobreza inglesa (também da pobreza e da falta de oportunidades que viviam) e rezar de acordo com as normas mais rígidas que pregavam, sem a suntuosidade dos católicos e anglicanos. E os núcleos se multiplicaram como células por toda a chamada Nova Inglaterra, a porção Nordeste do que seriam os Estados Unidos da América do Norte e que venceria os estados do Sul, na Guerra de Secessão de 1861-65. As colônias fundadoras do Sul: Virgínia, Carolinas do Norte e do Sul e Geórgia, ligadas à Coroa inglesa e intensamente escravistas, tomaram caminho oposto.

Os peregrinos que desembarcaram na América achavam que o Mundo Novo era a terra ideal para que o povo de Deus pudesse criar uma sociedade sem vícios e sem corrupção, como a que eles tinham deixado para trás. A crença de muitos migrantes ingleses consistia em que eles pertenciam a uma nova raça eleita e a América era a virgem Maria que daria à luz uma nova nação para louvar a Deus e iluminar o restante do mundo, como diziam autores do início do século XVII. Para eles, naquela época, Deus era inglês.

O mundo passava por momentos muito diferentes nas festejadas datas das fundações de Brasil e Estados Unidos. Em 1500, Portugal era o senhor do mercantilismo nos mares. A prática mercantil, conseqüentemente, se impregnaria nos primórdios da formação brasileira. O que importava era conseguir mercadorias valiosas que pudessem ser trocadas com vantagem nos portos europeus, sob controle monopolista do Estado.

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"Brasil e Estados Unidos: O que Fez a Diferença"
Autor: Ricardo Lessa
Editora: Civilização Brasileira
Páginas: 160
Quanto: R$ 25,00
Como comprar: pelo telefone 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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