Livraria da Folha

 
04/06/2010 - 17h07

Escritora publica no Brasil livro proibido em Cuba

da Livraria da Folha

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Por meio de um alter ego, escritora revela história da secretária de Fidel
Por meio de um alter ego, escritora revela história da secretária de Fidel

De madrugada, quando até os censores dormem, Nadia Guerra desce a lenha. Em Havana, Cuba, pelo microfone da rádio Ciudad del Sol, ela mostra o tamanho da sua bronca com o regime de Fidel e os heróis da revolução. A locutora camicase que "vos fala" nada mais é que o alter ego da romancista e poeta cubana Wendy Guerra, no livro "Nunca Fui Primeira-dama" (Saraiva).

Em meio ao enfado da moça, nos momentos de pausa musical, dá até para imaginar mentalmente um Pablo Milanés ou o ritmo do Buena Vista Social Club. Mas os momentos de intervalo são poucos. Ficção e realidade estão de braço dado neste caso e a escritora joga palavras como bombas. Na boca da personagem, Cuba é um ideal flutuante boiando no centro do Caribe. Um não lugar.

A história de Nadia é uma busca pela mãe. A busca de todos os mais jovens por entender a geração dos pais, militantes anônimos e desaparecidos com a revolução. Como em uma história surreal de Gabriel García Márquez, ela lembra o delírio dos pais em reconstruir Cuba - a maquiar o feio, a esfumar o terrível, a mudar de assunto com maestria quando não há beleza na resposta.

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A escritora cubana Wendy Guerra também tem presença confirmada para o evento
Cubana Wendy Guerra vai participar da Flip 2010, em Paraty (RJ), em agosto

No vácuo entre as duas gerações, a incompreensão e o silêncio sob a mão pesada do censor. O programa sai do ar, mas a personagem não. O desabafo é o escape para não esquecer, para declarar que a educação cubana moldou, forjou, projetou mentes, colou "como um estigma". Para dizer ao outro, "estamos contaminados". Em Havana, a personagem vive seu museu pessoal repleto de memórias.

A notícia do infarto de Fidel e seu posterior afastamento traz o peso da incerteza do que virá. Afinal, diz a escritora, em Cuba "todos os caminhos levam a Fidel". Sem ele, nada se move, nada acontece, nada existe. Com a sua retirada, vem a suspeita de que alguma coisa está terminando, mas Nádia ainda não sabe o que é. Vale lembrar que o livro de Wendy Guerra, publicado hoje em oito países, é até agora proibido em Cuba.

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"Nunca Fui Primeira-Dama"
Autora: Wendy Guerra
Editora: Saraiva
Páginas: 256
Quanto: 39,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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