Livraria da Folha

 
30/06/2010 - 15h33

"O público nunca é uma variável quando escrevo", revela Cristovão Tezza

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Ganhador de seis prêmios literários --Portugal Telecom de Literatura, Bravo! Prime de Cultura, APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Jabuti, São Paulo de Literatura e Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura--, Cristovão Tezza publicará "Um Erro Emocional" pela editora Record em setembro deste ano. O escritor leu um trecho do livro durante a 7ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

Divulgação
Novo livro de Cristovão Tezza trata da história de uma paixão intensa
Novo livro de Cristovão Tezza trata da história de uma paixão intensa

Depois do sucesso de "O Filho Eterno", Tezza passou a escrever alguns contos em antologias e revistas com a mesma personagem (Alice). O primeiro deles, "Alice e o escritor", foi publicado na revista digital "Trópico" e sairá na antologia norte-americana "Brazil: A Traveler's Literary Companion". "Minha personagem nasceu ali, embora só faça uma ponta no conto", conta.

Outro conto saiu na revista "Bravo!" e foi traduzido na "Bomb!", de Nova York. "Alice e a velha senhora" virou curta-metragem, com direção de Leo del Castillo, e com as atrizes Cynthia Falabella e Miriam Mehler. O vídeo deve ficar pronto em poucos meses.

Há dois anos e meio, Tezza começou a escrever "Um Erro Emocional". "Era para ser uma breve história de dez páginas, mas o texto foi avançando, a personagem foi ficando mais complexa, a estrutura narrativa começou a duplicar e percebi que estava, de fato, escrevendo um novo romance", explica.

A personagem principal amadureceu. Alice passou a ser Beatriz, e "Um Erro Emocional" não engatinhava mais, seguia a passos de romance.

Em entrevista à Livraria da Folha, Tezza comentou sobre o processo de composição de suas obras e de seus personagens, teceu uma prévia da história do novo livro, falou da sua relação com o leitor, entre outros temas.

Leia abaixo a íntegra da entrevista.

*

Livraria da Folha: "Um Erro Emocional" era o título provisório do seu novo livro. Continua ou mudou?
Cristovão Tezza: Continua o mesmo. Esse romance é um caso único no meu trabalho --é um romance que nasceu de um conto. Ao avançar para o romance, conservei o título original do conto, "Um Erro Emocional", que tem um toque irônico. O leitor vai perceber a ironia do título logo nas primeiras páginas.

Livraria da Folha: O trecho de "Um Erro Emocional" que você leu na Flip do ano passado foi modificado ou permanece inalterado na obra? Pergunto, porque um menino vê seu pai agredindo a mãe. Esse é o erro emocional que dá título ao livro?
Tezza: "Um Erro Emocional" é a história de uma paixão intensa e de uma aproximação amorosa. O "tempo" linear do romance é muito curto --tudo se passa em poucas horas. Mas a memória dos dois personagens (Beatriz e Donetti, um escritor) vai compondo um duplo mosaico do passado. Por essa memória fragmentária e silenciosa, o leitor vai entrando na cabeça, nas motivações e sonhos de um e de outro. O romance é feito inteiro dessa memória, não exatamente do momento presente. A cena que eu li na Flip continua igual no livro, com poucas modificações. É uma das memórias obsessivas de Donetti. O livro percorre a vida de um e de outro, centrando-se em seus momentos fortes.

Livraria da Folha: Em entrevista à uma revista de culinária, você disse que a alimentação é fundamental por ser o traço mais radicalmente comum da condição humana. Seus personagens possuem qual tipo de "tempero" que lhes confere humanidade?
Tezza: O "tempero" dos meus personagens é a convivência humana. Todos os meus livros tratam da relação entre as pessoas. O tempero vai da situação mais amorosa (que eu acho que é a atmosfera inteira de "Um Erro Emocional") até as mais azedas e insuportáveis convivências.

Livraria da Folha: Considera seus personagens alimentados pela própria narrativa da qual participam ou pela leitura do público?
Tezza: Meus personagens são seres puramente narrativos, que se alimentam pela força das palavras e da lógica interna que desde a primeira página eu ponho em jogo. O público nunca é uma variável quando escrevo. Depois do livro escrito, aí sim consigo lê-lo de fora, como simples leitor. Mas é preciso eu me afastar da escrita para ler o livro assim.

 
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