PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha
Ganhador de seis prêmios literários --Portugal Telecom de Literatura, Bravo! Prime de Cultura, APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Jabuti, São Paulo de Literatura e Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura--, Cristovão Tezza publicará "Um Erro Emocional" pela editora Record em setembro deste ano. O escritor leu um trecho do livro durante a 7ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).
Divulgação |
Novo livro de Cristovão Tezza trata da história de uma paixão intensa |
Depois do sucesso de "O Filho Eterno", Tezza passou a escrever alguns contos em antologias e revistas com a mesma personagem (Alice). O primeiro deles, "Alice e o escritor", foi publicado na revista digital "Trópico" e sairá na antologia norte-americana "Brazil: A Traveler's Literary Companion". "Minha personagem nasceu ali, embora só faça uma ponta no conto", conta.
Outro conto saiu na revista "Bravo!" e foi traduzido na "Bomb!", de Nova York. "Alice e a velha senhora" virou curta-metragem, com direção de Leo del Castillo, e com as atrizes Cynthia Falabella e Miriam Mehler. O vídeo deve ficar pronto em poucos meses.
Há dois anos e meio, Tezza começou a escrever "Um Erro Emocional". "Era para ser uma breve história de dez páginas, mas o texto foi avançando, a personagem foi ficando mais complexa, a estrutura narrativa começou a duplicar e percebi que estava, de fato, escrevendo um novo romance", explica.
A personagem principal amadureceu. Alice passou a ser Beatriz, e "Um Erro Emocional" não engatinhava mais, seguia a passos de romance.
Em entrevista à Livraria da Folha, Tezza comentou sobre o processo de composição de suas obras e de seus personagens, teceu uma prévia da história do novo livro, falou da sua relação com o leitor, entre outros temas.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
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Livraria da Folha: "Um Erro Emocional" era o título provisório do seu novo livro. Continua ou mudou?
Cristovão Tezza: Continua o mesmo. Esse romance é um caso único no meu trabalho --é um romance que nasceu de um conto. Ao avançar para o romance, conservei o título original do conto, "Um Erro Emocional", que tem um toque irônico. O leitor vai perceber a ironia do título logo nas primeiras páginas.
Livraria da Folha: O trecho de "Um Erro Emocional" que você leu na Flip do ano passado foi modificado ou permanece inalterado na obra? Pergunto, porque um menino vê seu pai agredindo a mãe. Esse é o erro emocional que dá título ao livro?
Tezza: "Um Erro Emocional" é a história de uma paixão intensa e de uma aproximação amorosa. O "tempo" linear do romance é muito curto --tudo se passa em poucas horas. Mas a memória dos dois personagens (Beatriz e Donetti, um escritor) vai compondo um duplo mosaico do passado. Por essa memória fragmentária e silenciosa, o leitor vai entrando na cabeça, nas motivações e sonhos de um e de outro. O romance é feito inteiro dessa memória, não exatamente do momento presente. A cena que eu li na Flip continua igual no livro, com poucas modificações. É uma das memórias obsessivas de Donetti. O livro percorre a vida de um e de outro, centrando-se em seus momentos fortes.
Livraria da Folha: Em entrevista à uma revista de culinária, você disse que a alimentação é fundamental por ser o traço mais radicalmente comum da condição humana. Seus personagens possuem qual tipo de "tempero" que lhes confere humanidade?
Tezza: O "tempero" dos meus personagens é a convivência humana. Todos os meus livros tratam da relação entre as pessoas. O tempero vai da situação mais amorosa (que eu acho que é a atmosfera inteira de "Um Erro Emocional") até as mais azedas e insuportáveis convivências.
Livraria da Folha: Considera seus personagens alimentados pela própria narrativa da qual participam ou pela leitura do público?
Tezza: Meus personagens são seres puramente narrativos, que se alimentam pela força das palavras e da lógica interna que desde a primeira página eu ponho em jogo. O público nunca é uma variável quando escrevo. Depois do livro escrito, aí sim consigo lê-lo de fora, como simples leitor. Mas é preciso eu me afastar da escrita para ler o livro assim.