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12/07/2010 - 22h12

Autor de "História da Sexualidade" escreve introdução especial para brasileiros

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A fama de que os brasileiros são mais abertos para temas sexuais parece ser verdadeira. O historiador norte-americano Peter Stearns escreveu uma introdução mais liberal para a edição brasileira de "Historia da Sexualidade" (Contexto, 2010).

"Para esta edição brasileira escrevi uma nova introdução, em que os alertas sobre o tema, ainda necessários em função dos elementos puritanos nas culturas norte-americanas, são substituídos por uma visão mais entusiasmada sobre o tópico. Pois o público leitor brasileiro não precisa de lembretes acerca da importância da sexualidade ou da desejabilidade da discussão do tema", afirmou.

Divulgação
Obra não usa curiosidades eróticas ou escatológicas como atrativo
Obra não usa curiosidades eróticas ou escatológicas como atrativo

Segundo o autor "a televisão brasileira, incluindo as novelas, faz referências bem mais explícitas à sexualidade do que seu congênere nos Estados Unidos".

Com abordagem acadêmica, a obra não apresenta elementos escatológicos ou curiosidades eróticas para atrair o público, as práticas sexuais são debatidas usando conhecimentos de história, antropologia e sociobiologia.

O especialista salienta que escrever sobre a história da sexualidade apresenta problemas documentais, pois, em maior ou menor grau, todas as sociedades possuem regras, valores e tabus que se aplicam ao sexo.

Stearns cita os babilônios, considerados imorais, como exemplo, "o primeiro código legal conhecido, o da Babilônia, dedica grande atenção à regulamentação sexual".

Leia trecho extraído da introdução brasileira.

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A história da sexualidade começa com o fato de que, como muitos antropólogos apontaram, o animal humano tem algumas características distintivas. A sexualidade é, afinal de contas, uma questão de comportamento animal, embora, no caso dos seres humanos, outras coisas estejam envolvidas. Em comparação com muitas espécies de mamíferos, os humanos têm um número incomum de zonas erógenas pelo corpo, o que obviamente pode fomentar a estimulação sexual. Embora as fêmeas da espécie sejam férteis durante apenas alguns dias do mês, seus períodos férteis são mais frequentes do que os de muitos outros mamíferos, e elas podem ser estimuladas sexualmente até mesmo em períodos não férteis, ou depois que sua fertilidade cessa, com a menopausa; assim, diferentemente de muitos outros animais, sua atividade é menos dependente de alguns momentos do ano em que estão "no cio". Há outra distinção interessante com relação à maioria dos mamíferos (exceto os chimpanzés): os humanos desenvolvem a capacidade para e o interesse em atividade sexual antes mesmo que a maior parte das jovens mulheres comece a ovular regularmente, o que significa que podem ter relações sexuais durante alguns anos com menor probabilidade (o que não quer dizer, é bom que se avise, que a probabilidade é nula) de gravidez. As crianças humanas, por sua vez, demonstram certos tipos de consciência sexual, pelo menos com relação ao próprio corpo.

Esses aspectos, simples, mas básicos, implicam que a atividade sexual humana pode ser, e invariavelmente é, bastante frequente, e pode ter menos vinculações com o esforço reprodutivo do que se verifica em muitas outras espécies. A ideia de um hiato parcial entre o apetite sexual e a capacidade reprodutiva praticamente inclui uma possível vontade de experimentalismo da parte dos adolescentes, e certamente algumas questões sociais acerca do controle ou regulação desses impulsos de experimentação. De fato, todo o aparato biológico humano, no que diz respeito ao sexo, inevitavelmente impõe algumas necessidades de regulação da espécie, de modo a garantir que a atividade sexual não saia de controle ou se torne por demais desestabilizadora, tanto da vida dos indivíduos como das relações sociais. Isso é particularmente pertinente, porque os humanos têm maior capacidade de reprodução do que a maioria das famílias ou sociedades geralmente gostaria. Se um casal tentar maximizar seu comportamento reprodutivo, iniciando as relações sexuais logo nas primeiras etapas do desenvolvimento da fertilidade e continuar até o fim da capacidade fértil, terá em média cerca de 14 filhos. É a chamada fórmula hutterite, seita religiosa do Canadá que durante vários anos praticou esse esforço procriativo desenfreado. Ao longo da história, sempre houve alguns casais que formaram famílias igualmente numerosas. Porém, na maior parte dos períodos históricos, a fórmula hutterite gera mais filhos do que se pode criar ou sustentar com facilidade; por isso, a maioria das sociedades desenvolve alguns costumes cujo intuito é estimular uma reprodução mais moderada, o que, por sua vez, significa atividade sexual menos frequente ou alguma forma de controle sobre a atividade sexual. Aqui também a capacidade sexual humana rapidamente gera a necessidade de resposta social. A natureza exata dessa resposta pode, obviamente, variar de uma sociedade para outra, e pode se alterar. Isso faz parte da história da sexualidade. Mas certa tensão entre a capacidade biológica e as necessidades sociais é mais ou menos constante, embora suas manifestações específicas mudem tremendamente ao longo do tempo.

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"Historia da Sexualidade"
Autor: Peter N. Stearns
Editora: Contexto
Páginas: 288
Quanto: R$ 42,30
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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