Livraria da Folha

 
02/08/2010 - 17h33

Autora recria diário de anotações de Virginia Woolf em "Sou Dona da Minha Alma"

da Livraria da Folha

Divulgação
Anglicista reuniu excertos de cartas, diários, memórias e anotações de textos de Virginia
Anglicista reuniu excertos de cartas, diários, memórias e anotações de textos de Virginia

Certa vez, a escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) disse que a loucura a salvou. Com o termo "pessoas complicadas" definiu, em parte, o temperamento de sua família. Revelações como essas constam em sua nova biografia, "Sou Dona da Minha Alma" (Bertrand Brasil, 2010), escrita pela anglicista Nadia Fusini.

A autora recria o diário de Virginia, as anotações de seus romances, as cartas e os fragmentos de suas memórias. O leitor é transportado da Kensington vitoriana e burguesa à vida no bairro boêmio de Bloomsbury.

Pelo texto de Nadia, percebe-se a inquietude de Virginia, traduzida em cada linha e em cada vivência descritas. Depressiva e apaixonada pela essência humana, a escritora não cansou de buscar o conhecimento da alma por meio da catarse literária. Criou personagens como seus sósias.

Virginia nasceu em Londres, no ano de 1882. Filha do editor Sir Leslie Stephen (1832-1904), desde cedo frequentou o mundo literário. Em 1917, fundou com o marido (Leonard Woolf) a Hogarth Press, editora que lançou nomes como a neozelandesa Katherine Mansfield (1888-1923) e o norte-americano T.S. Eliot (1888-1965).

Fez parte do grupo Bloomsbury, intelectuais que questionaram as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana. "A Viagem" (1915) e "Noite e Dia" (1919) foram suas obras iniciais. Com "Mrs. Dalloway" (1925), Virginia inovou nos recursos narrativos para retratar a experiência individual (e também pessoal) da personagem que dá título ao volume.

Em 1941, sofrendo de uma grave depressão, encheu os bolsos de pedra e entrou em um rio perto de sua casa. Colocou o mar para fora, afogando-se.

Leia abaixo um trecho extraído da biografia.

*

"Não se pode julgar, muito menos condenar alguém pela paixão - seja ela qual for - que o faz viver. A simples paixão e o desejo fogem às definições. 'Somos pessoas complicadas, os Stephen', escreveu Virginia a um amigo, evocando com o nome do pai a marca de seu temperamento. 'Somos frios, exigentes, severos, de gostos muito difíceis.' Com efeito, entre os ramos da árvore genealógica, reluziam os sinais de um temperamento tumultuoso que, em alguns casos, levou ao delírio; em outros, à depressão. Quanto a si própria, Virginia proclamou: 'A loucura me salvou.' Se, em seu caso, a 'loucura' estivesse intimamente ligada ao temperamento artístico - admitindo que exista algo como 'uma boa loucura', uma loucura que tenha a ver com a criação artística -, não sei nem porei minha mão no fogo. Reconheço, porém, tanto na vida como na obra de Virginia, aquele aspecto feroz do pensamento e do sentimento que se associa à melancolia. Reconheço a inteligência rápida, a exaltação, a inebriação, a capacidade visionária, a febre, a impaciência - toda uma matéria erótica, pulsante, diferente da loucura, se não por uma questão de graus -, que é típica dos melancólicos. Reconheço a obstinada energia que a arrasta para escrever. E também o humor negro que a emudece. E reconheço que, em companhia daquela estranha escória de artistas, escritores, homossexuais, lésbicas, deprimidos e histéricos que são seus amigos, Virginia não se sentiu sozinha. Sabia que de Strachey a Forster, Fry e Carrington, incluída até mesmo Vanessa, eram mais ou menos todos, como ela, uns 'incuráveis'. Viviam cheios de aflições, de enfermidades, de sombras - sombras da desordem que eles próprios haviam evocado, na vontade de libertar-se do passado. De resto, Byron tinha dito de si e de seus amigos poetas: nós que temos esse ofício somos todos loucos; alguns são acometidos pela alegria, outros pela tristeza, outros pela melancolia, outros ainda pela euforia, mas somos todos mais ou menos 'atingidos'."

 
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