Conheça obras vencedoras do Prêmio São Paulo de Literatura

Folhapress

Carrero foi o grande vencedor do Prêmio SP de Literatura 2010

Camila, de "A Minha Alma É Irmã de Deus", nasceu de uma página de jornal pelas mãos do escritor pernambucano Raimundo Carrero. Paulo e Eduardo de "Se Eu Fechar os Olhos Agora", a partir de um registro histórico, passado pelo crivo ficcional do jornalista fluminense Edney Silvestre.

As obras vencedoras do Prêmio São Paulo de Literatura 2010, anunciadas na noite da última segunda-feira (2), são marcadas pela acidez e também pelo lirismo narrativo. Camila e os dois meninos, ambos protagonistas, possuem uma sina de vida apregoada a algo maior que o destino. Só o leitor pode avaliar o que incide em suas trajetórias.

Com "A Minha Alma É Irmã de Deus" --eleito melhor livro do ano de 2009--, Carrero conclui a tetralogia "Quarteto Áspero", composta por "Maçã Agreste", "Somos Pedras que Se Consomem" e "O Amor Não Tem Bons Sentimentos". O profano versus o religioso contrapõem-se para examinar os tons trágicos que permeiam a vida de Camila.

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Obra completa tetralogia "Quarteto Áspero", de Raimundo Carrero

Em seu site, Carrero descreveu como a personagem surgiu no dia 9 de março de 2006, em uma reportagem de jornal. "Cedo da manhã lendo, descobria-a: ela estava ali, completa, embora apenas os olhos - dois olhinhos inquietos e sofridos - aparecessem numa foto colorida, mas cheia de sombras. Era o dia 9 de março de 2006. A matéria contava a história de uma menina de 12 anos que vivia nas estradas, prostituída, e que se tornara amante de um caminhoneiro. Preguei o recorte no meu álbum e garanti: ela vai me acompanhar durante, pelo menos, dois anos. Errei por um ano. Ela ficou três anos. Aliás, nunca mais vai sair de mim."

O pernambucano afirma ter ficado marcado "a ferro e fogo" pela trajetória da menina. Aos poucos, a garota tornou-se cada vez mais calada, silenciosa e humilhada. "Até que se encontra naquela situação em que só pode ser consolada pelo caminho das águias. Nenhum gemido, nenhum ruído, só a vida com o seu sentimento de adeus", explica o autor.

Camila é uma jovem solitária que quer ser santa para desfilar no exército das 11 mil virgens do Paraíso. Em uma tarde de domingo no Recife, conhece o pastor-músico Leonardo, criador da seita "Os Soldados da Pátria por Cristo", que passa o dia tocando saxofone pelas calçadas. Decide acompanhá-lo para proclamar as maravilhas religiosas em meio à miséria, à bebida e ao misticismo. O pastor desaparece e Camila fica sujeita à violência e ao descaso das ruas.

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Edney Silvestre publicou seu primeiro romance no ano passado

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Silvestre compõe uma história comovente, repleta de referências

Após três livros que reúnem crônicas, memórias e entrevistas, Edney Silvestre estreou na ficção com "Se Eu Fechar os Olhos Agora", seu primeiro romance. Com ele, foi considerado o melhor autor estreante no Prêmio São Paulo de Literatura.

Ao dosar lirismo e registro histórico, o autor narra a investigação de um crime brutal durante um dos períodos mais importantes da história brasileira. Em uma cidade da zona do café do Rio dos anos 1960, dois garotos de 12 anos encontram o corpo de uma mulher mutilada às margens de um lago.

O mês de abril de 1961 marca dois períodos importantes na obra --Yuri Gagarin deixa a órbita terrestre para alcançar o espaço pela primeira vez e o crime relatado por Silvestre. Enquanto o cosmonauta descortina um universo de possibilidades para a humanidade e uma vitória tecnológica para a época, os garotos embrenham-se em um universo de violência e de perdas, no qual são tratados como suspeitos e não como testemunhas.

Diante do descaso absoluto com o assassinato, a dupla não aceita a explicação oficial do crime. Auxiliados por um senhor que mora no asilo da cidade iniciam então uma investigação. Com esse livro, Silvestre transita entre os gêneros policial e histórico até chegar ao romance.