Livraria da Folha

 
13/08/2010 - 17h02

"Macumba é uma ficção", diz José Mojica Marins, o Zé do Caixão

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

17.nov.2006/Autumn Sonichsen/Folha Imagem
José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é uma das atrações da Bienal Internacional do Livro de São Paulo
José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é uma das atrações da Bienal Internacional do Livro de São Paulo

Sexta-feira 13, às 12h17. A maldição dos apagões caiu sobre a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no pavilhão de exposições do Anhembi, zona norte de São Paulo. Após sete minutos, os estandes recuperaram a iluminação, mas a perderiam novamente antes do cineasta José Mojica Marins iniciar sua apresentação no Salão de Ideias, às 13h.

O público pensou que fosse um efeito para que o personagem Zé do Caixão tomasse a cena (e a alma de todos) antes de iniciar o debate "Zé do Caixão levará sua alma". Quem estava ali era o cineasta José Mojica Marins, 63 anos de bagagem cinematográfica, desejoso de uma máquina do tempo para avançar ou retroceder as reflexões do público.

Em entrevista à Livraria da Folha, Mojica Marins afirmou que considera a macumba uma espécie de ficção, tem respeito por ela e só acredita naquilo que vê e que lhe narram. Do contrário, é comércio, como os livros sobre esoterismo e ocultismo que invadem o mercado editorial.

Ele acredita que o brasileiro tem mais medo da inveja do que da macumba. Para essa sexta-feira 13, recomenda esquecer as coisas banais e focar o pensamento na realidade e nos sentimentos.

Leia abaixo a íntegra da conversa.

*

Livraria da Folha - Na infância, você lia histórias de terror? Se sim, quais?

José Mojica Marins - Eu me criei no cinema. Na matinê, aos 7/8 anos, vi que as fitas de terror assustavam as meninas e elas caíam nos braços dos meninos. Era uma maneira de nascer um namorico. Eu achei isso uma boa ideia e comecei a me interessar a fazer coisas do gênero. Aos 10 anos, quando meu pai ia me dar uma bicicleta, eu pedi uma câmera de 16mm e já começaria meus primeiros filmes. Nos anos 1950, entraria no profissionalismo, que eram os de 35mm.

Livraria da Folha - O brasileiro tem mais medo da inveja ou da macumba?

Marins - Infelizmente a gente tem que ter mais medo da inveja. A inveja é uma coisa que sai de dentro da outra pessoa, é um sentimento muito forte e muito pegajoso. A macumba eu já vejo como uma espécie de ficção muito floreada, mas a mente do ser humano é muito fraca. Eles acabam --quem sabe por causa do visual dos macumbeiros e das maldições que rogam-- acreditando na macumba, quando, na verdade, a macumba é uma ficção.

Livraria da Folha - Você já leu livros sobre macumba?

Marins - Já, mas não me agradaram muito. Houve época em que eu tive que ler alguma coisa, porque mexia nessa parte. Li histórias em quadrinhos, vi filmes e li livros. A macumba é uma coisa nossa. Eu diria isso que quase como uma religião, é uma religião espírita dentro do espiritismo. Então, tudo que é religião a gente deve respeitar. Eu respeito quem acredita em feitiçaria, macumba e coisas do outro mundo.

Livraria da Folha - Qual sua opinião sobre o boom dos livros de esoterismo e ocultismo nos últimos anos?

Marins - Eu acredito que é cópia um do outro e é quase sempre a mesma coisa. Eu sou um homem que tudo que acontece no Brasil de estranho me chamam pra ir ver. Aquilo que eu vejo na realidade, de repente, vejo num livro floreado e fantasiado, não creio nos livros. Eu creio mesmo na versão de uma pessoa que viu alguma coisa e pode relatar para você.

Livraria da Folha - Além de olhar fixamente para uma parede por 13 minutos e se mirar no espelho na noite de hoje, o que você recomenda para essa sexta-feira 13?

Marins - Eu acho que as pessoas não deveriam ver nada de terror. Hoje é um dia que a pessoa deveria se concentrar, é um dia muito forte para se concentrar naqueles que você gostava e que partiram para uma outra, como amigos, irmãos, pais. Eu acho que se tem que levar para esse outro lado. Esquecer as coisas banais e pôr, realmente, a nossa mente em coisas mais reais, em coisas que mexem com nosso sentimento.

 
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