Livraria da Folha

 
16/08/2010 - 20h11

Sunitas e xiitas participam pela primeira vez da Bienal do Livro de SP

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Paula Dume/Folhapress
Livros islâmicos expostos no estande xiita, na rua M, do pavilhão da Bienal do Livro
Livros islâmicos expostos no estande xiita, na rua M, do pavilhão da Bienal do Livro

Nas ruas B e M, respectivamente, a Fambras (Federação das Associações Muçulmanas no Brasil) e o Centro Islâmico do Brasil recepcionam o público no pavilhão da Bienal, ávido por colher informações sobre o Islã. Pela primeira vez, sunitas e xiitas --duas vertentes do islamismo-- participam do evento.

No estande da Fambras, o Alcorão em português é o exemplar mais solicitado. Rokkia Racy, 48, afirma que os sunitas preveem distribuir gratuitamente 12 mil volumes, dentre outros sete títulos disponíveis, durante a Bienal. Após o Ramadã, mês sagrado islâmico, mais 30 títulos virão do Egito para serem entregues no país.

"Eles pedem o Alcorão. Parece que estavam sedentos dessa informação, que nunca chegava gratuitamente para eles. Era sempre difícil, sempre corrompida", nota Rokkia.

Padres e evangélicos são os que mais buscam o livro sagrado dos muçulmanos no estande sunita. "Jesus no Islã", que descreve a vida de Jesus, é o segundo volume mais procurado pelas pessoas.

Leitores do Oriente Médio também vão ao estande em busca do Alcorão e outros títulos em árabe. Há volumes em outras três línguas --italiano, inglês e alemão. Em breve, terão também livros em espanhol.

Há três anos convertida, Rokkia dedica-se ao estudo do árabe, mas ainda não domina o idioma. Ela foi apresentada à religião por um egípcio. "Ele me falou 'Vá conhecer que a sua vida vai mudar totalmente'. Eu fui, conheci e a minha vida está mudando progressivamente."

No estande xiita, o Alcorão está apenas exposto. Os interessados podem fazer o download do volume sagrado e de outros livros islâmicos em francês, inglês, português, espanhol, persa e árabe no site do Centro Islâmico.

"Os sunitas já têm muita coisa e os xiitas estão caminhando, mas já tem bastante livro traduzido", explica Alecssandra Alves de Brito, 32, que recepcionava o público no evento. Elisa Beltrão Frediane, 51, destacou as diferenças e convergências. "Mudam verbos e adjetivos de uma língua para a outra, mas o Alcorão é sempre o mesmo".

Alecssandra e Elisa foram convertidas há nove anos. Casada com um iraquiano, Alecssandra diz que não sofreu preconceito da sua família nem da do marido, mas da sociedade brasileira. "É bem aceito pela comunidade [islâmica], mas não pelos brasileiros".

"Comecei a frequentar a mesquita, conheci e depois me converti. Levou um ano e meio. Comecei a usar o véu antes da minha conversão, desde que comecei a frequentar o templo, e pra entrar lá, você deveria usar", explica.

Elisa só usa o hijab (véu muçulmano) na mesquita. "Não uso fora. É permitido no Brasil", diz.

Questionada sobre as diferenças entre as duas vertentes, Rokkia esclarece que é diferente e, ao mesmo tempo, igual. "Após a morte do profeta, houve essa divisão, mas nós não temos rixa, não temos problema algum. Somos muçulmanos, porque eu frequento a mesquita deles, eles frequentam a minha. Somos irmãos e seguimos o mesmo livro. Tanto é que eles têm nossos livros lá [estande xiita] e nós temos o livro deles aqui [estande sunita]."

 
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