Livraria da Folha

 
17/08/2010 - 22h29

Não conspirei com Diogo Mainardi para difamar Lula, diz repórter do "New York Times"

SÉRGIO RIPARDO
da Livraria da Folha

Divulgação
Livro está em promoção por R$ 12,90, por tempo limitado
Livro de Rohter está em promoção por R$ 12,90, por tempo limitado
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No futuro, os estudiosos da história da imprensa brasileira vão ser obrigados a consultar as 416 páginas do livro "Deu no New York Times" (2007, editora Objetiva) como fonte para entender os conflitos de relacionamento entre mídia e o governo Lula.

A obra foi escrita por Larry Rohter, jornalista do "The New York Times", que foi correspondente no Brasil e ficou famoso por uma reportagem de maio de 2004 em que insinuava que o presidente Lula abusava da bebida. O governo tentou expulsá-lo do país, abrindo uma polêmica sobre o grau de intolerância do presidente com relatos incômodos à sua administração.

No livro, Rohter nega que tenha conspirado com os jornalistas Diogo Mainardi, autor de "Lula é minha Anta", e Cláudio Humberto (que foi porta-voz de Fernando Collor) para difamar Lula.

"Depois que minha matéria foi publicada, o Palácio do Planalto e seus aliados procuraram desqualificar a reportagem alegando que minhas únicas fontes foram Diogo Mainardi e Cláudio Humberto. Isso é balela, um completo absurdo. Nunca na vida me encontrei nem conversei com nenhum desses dois colunistas, e em todo caso jamais teria baseado uma reportagem em declarações de um par de críticos sem nenhum acesso a Lula ou a seu círculo íntimo", escreve o autor na página 177.

Bruno Veiga/Divulgação
Jornalista americano Larry Rohter, ex-correspondente do "NYT" no Brasil, lança "Deu no New York Times" pela editora Objetiva
Jornalista americano Larry Rohter, ex-correspondente do "NYT" no Brasil, lançou "Deu no New York Times" pela editora Objetiva

No volume, o ex-correspondente avalia que sua controversa reportagem surtiu um efeito positivo em Brasília.

"O hábito de beber de Lula continua a ser um tópico sensível no Palácio do Planalto ainda hoje. Mas as evidências disponíveis sugerem que ele moderou seu consumo nos últimos anos, e que minha reportagem pode ter desempenhado um papel nesse processo. Sei com certeza que pessoas dentro do PT que queriam que ele bebesse menos terminaram usando a matéria para reforçar sua argumentação. Sei disso porque um deles, um membro do Congresso, me disse isso pessoalmente quando, vários meses depois da controvérsia, estávamos falando sobre outro assunto e ele mudou o tema de nossa conversa para a polêmica de maio de 2004", escreve o jornalista na página 192.

O repórter relembra que Lula sugeriu que a reportagem era "encomendada" presumivelmente pela CIA (agência norte-americana de inteligência) para minar o papel de liderança do presidente na formação do G-20 (grupo dos ricos que inclui países emergentes).

O livro conta os bastidores do escândalo, desde a discussão da reportagem na redação do "The New York Times" até a repercussão do caso no mundo inteiro. Ele diz que recebeu ligação do embaixador Roberto Abdenur, que teria declarado "Não o sei o que você está pretendendo com isso, mas os mercados vão enlouquecer amanhã. Você está fazendo um dano enorme ao Brasil" e pedido para falar com a editora de Internacional do "New York Times".

"Não sei o que foi dito nas conversas por telefone de Abdenur, um diplomata capacitado cuja integridade e julgamente sempre respeitei, com a editora de Internacional e finalmente com o editor-chefe, Bill Keller. Mas minha matéria tinha sido revisada duas vezes por nossos advogados antes da publicação, e eu estava confiante de que ela poderia suportar qualquer contestação legal", defende-se o repórter na página 182.

Leia um trecho de "Deu no New York Times".

*

O PT e parte da imprensa também se apressaram a explorar a única fenda na armadura da história que eu não previra e para a qual não estava preparado: o título da reportagem. Repórteres não escrevem os títulos de suas matérias, e quando vi as palavras "Gosto do dirigente brasileiro pela bebida torna-se preocupação nacional" no alto de minha reportagem, tive de estremecer, porque suspeitava que aquilo ia criar um problema. Na matéria em si, eu era explícito em declarar que o zunzun a respeito do hábito de beber de Lula estava basicamente confinado a políticos e jornalistas e mal era percebido pela população em geral. Embora eu citasse exemplos da sociedade como um todo, meu foco era o da elite, especialmente em Brasília.

Contudo, devo confessar que nunca pensei que Lula e seus assessores seriam tolos ao ponto de ordenar minha expulsão do país. Fiquei tão chocado quanto qualquer outra pessoa quando a medida foi anunciada na noite de terça-feira, e soube, assim que ouvi o noticiário, que eles tinham superestimado sua força e iam sofrer uma derrota. Uma coisa era eles invectivarem contra um gringo metido e narigudo que estava "manchando" a "honra" do Brasil. Mas ao tentarem me expulsar, empregando uma lei que datava dos piores dias da ditadura militar, eles tinham ido longe demais e agora estavam também pisando nos calos dos brasileiros. A imprensa em particular tendia a ser ameaçada. Lula estava sempre se queixando, às vezes com justa razão, do "corporativismo" na imprensa brasileira. Mas nesse caso ele ignorou uma lição que sua própria experiência o ensinara, e ao fazê-lo transformou-se imediatamente de vítima em vilão.

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"Deu no New York Times - O Brasil Segundo a Ótica de um Repórter do Jornal Mais Influente do Mundo"
Autor: Larry Rohter
Editora: Objetiva
Páginas: 416
Quanto: R$ 12,90 (preço promocional, por tempo limitado)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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