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24/08/2010 - 10h14

Motivações de crimes paranoicos podem ocorrer por coisas fúteis; obra analisa impulsos

da Livraria da Folha

Divulgação
Obra trata da leitura de Freud feita por Lacan e os conceitos criados pelo francês
Obra trata da leitura de Freud feita por Lacan e os novos conceitos

O psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981) foi um grande estudioso da mente humana. Interessado nos sintomas apresentados por paranoicos, obsessivos, castrados ou psicóticos, no começo da carreira entrou em contato com pessoas pertubadas e que cometiam crimes sem consciência dos acontecimentos.

O livro "Psicanálise Lacaniana", (Iluminuras) de Márcio Peter de Souza Leite, promove uma descoberta aos interessados em entender expressões como "paranoia de autopunição", "Castração", "Nome do Pai", "Estádio do Espelho", "Real, Simbólico e Imaginário", além dos questionadores diálogos lacanianos com as leituras de Kant, James Joyce e Sade.

Análises de casos criminosos feitos por Lacan são transportados e estudados para o livro, a fim de mostrar o percurso inicial que levou Lacan a deixar de lado a psiquiatria e optar pela psicanálise e o retorno a Freud.

Logo no começo da obra, o leitor é apresentado a dois marcantes episódios: a do Caso Aimée e o crime das irmãs Papin.

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"Ler Lacan nunca foi fácil para ninguém". A afirmação do psicanalista Oscar Cesarotto é assustadora, mas verdadeira para todos que se iniciam nos escritos do psicanalista francês. Contudo, "Psicanálise Lacaniana" abre espaço para novas interepretações e entendimentos da teoria desenvolvida por Lacan, não apenas no campo de crimes, mas de qualquer perversão, loucura e covardias postas à prova do ato analítico esboçado por suas teorias.

Escrito inicialmente para apresentar as ideias de Jacques Lacan para uma plateia de analistas kleinianos, os cinco seminários discursados viraram palavras escritas e sustentam a argumentação livre para quem quiser ouvir, ler e viver as experiências do incosciente.

Leia trecho do caso da paranoia de Aimée e do crime das irmãs Papin.

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Paranoia e Estádio do Espelho

Lacan graduou-se em medicina, especializou-se em psiquiatria e logo depois trabalhou na enfermaria especial de alienados da Chefatura de Polícia, sob a direção de Clérambault, um dos mestres da psiquiatria francesa da época, criador do conceito de "automatismo mental", de muita importância para o pensamento de Lacan.

Na enfermaria onde Lacan trabalhou eram levadas pessoas que haviam cometido algum crime, mas que não poderiam ser responsabilizadas caso apresentassem um distúrbio mental. Foi nesse lugar que Lacan elaborou sua tese de psiquiatria "Da psicose paranóica e suas relações com a personalidade". Nela Lacan relata o fato de alguns pacientes se curarem após cometerem um crime. A partir dessa observação, Lacan propôs um novo diagnóstico, denominado "paranoia de autopunição".

A característica principal da paranoia de autopunição é o efeito de cura que um ato criminoso produz num sujeito que o comete em decorrência de um delírio. Apesar de ter recolhido muitos casos dessa manifestação, Lacan escreveu sua tese fundamentando-se no Caso Aimeé, que se tornou o paradigma da paranoia de autopunição.

Aimeé era uma mulher que pertencia à burguesia, uma funcionária pública fascinada por uma atriz famosa. Ela foi à saída do tetro onde a atriz trabalhava e atacou-a com uma navalha. A atriz teve os tendões das mãos cortados, e Aimeé foi então presa e levada para a clínica de Clérambault.

A conclusão a que Lacan chegou foi que o que estava em jogo naquele caso era uma idealização patológica, a princípio pela irmã, depois pela atriz. Porém, as únicas noções que poderiam explicar a razão da conduta da paciente não estavam na psiquiatria: eram conceitos que só existiam na psicanálise. No caso, o conceito de Superego.

Logo em seguida, em 1933, Lacan publicou dois textos: "O problema do estilo e a concepção psiquiátrica das formas paranoicas da experiência" e "Motivações do crime paranoico: o crime das irmãs Papin", sendo este o relato do caso de duas irmãs, empregadas domésticas em Paris, que em certo dia, por um motivo fútil - a falta de luza em casa - mataram e esquartejaram suas patroas.

Ao publicar esse texto, propondo as razões do crime paranoico, Lacan avançou em relação à sua tese anterior: a concepção de que o outro é o que o criminoso quer ser, então, ele tem de anular o outro para que possa existir - caso contrário, se perde nesse outro. Segundo Lacan, o que provocou o crime foi a realização de fantasias de estripação, fantasias que Lacan chamou de "corpo despedaçado". Assim como Freud descobriu as fantasias neuróticas, Lacan evidenciou as "fantasias paranoicas", porém dirá que todos temos essas fantasias, e o paranoico seria o sujeito que as coloca em prática.

Em 1936, com 35 anos de idade, já como psicanalista, Lacan apresentou no Congresso Marienbad, o texto "O Estádio do Espelho". Na época, o subtítulo desse texto era "Teoria do momento estruturante genético da constituição da realidade conhecida em relação à experiência analítica".

Nele, Lacan produziu uma teoria sobre a conformação da estrutura psíquica do sujeito, e o que ela elabora nele não é mais o motivo do crime paranoico, e sim a constituição da realidade.

Em 1949, ao ser apresentado como nós conhecemos, "O Estádio do Espelho" recebeu o título de "O Estádio do Espelho como formador da função do Eu tal como nos é revelado pela experiência analítica", escrito desde o ponto de vista da observação e da metodologia da psicanálise - e o que se deduz: a constituição do Eu (Je).

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"Psicanálise Lacaniana"
Autor: Márcio Peter de Souza Leite
Editora: Iluminuras
Páginas: 272
Quanto: R$ 49
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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