Livraria da Folha

 
22/08/2010 - 19h27

Cartunista João Montanaro entrega seu livro para Ziraldo na Bienal do Livro

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

"Ziraldo pediu para você ir até lá [estande da Globo Livros]", disse Mario Sergio Barbosa, 47, editor, para seu filho, o cartunista da Folha João Montanaro. A "cola" foi passada em tom baixo, enquanto João conversava com a Livraria da Folha na manhã deste domingo (22), por volta das 11h30, no pavilhão da Bienal do Livro de São Paulo.

Lilian Cardoso
Cartunistas Ziraldo e João Montanaro se encontraram na 21ª Bienal do Livro de São Paulo; na foto, Ziraldo dividiu a cadeira com João
Cartunistas Ziraldo e João Montanaro se encontraram na 21ª Bienal do Livro de São Paulo; na foto, Ziraldo dividiu a cadeira com João

Em um aceno positivo com a cabeça, o jovem de 14 anos respondeu ao pai sobre o recado de Ziraldo. "Ele [Ziraldo] disse pro João desligar o computador e fazer tudo à mão", completou Barbosa. O conselho foi e é seguido pelo jovem cartunista, que começou a desenhar copiando o Bob Esponja para mostrar ao pai e não parou mais.

Inspirando-se nos traços e no humor de Angeli e Laerte, João começou a colaborar com publicações. Tem charges publicadas na revista MAD, Folhinha, e aos sábados está na página 2 da Folha.

"Influência do Angeli todo cartunista tem. Eu descobri o Angeli e o Glauco (1957-2010) com meu pai, que tinha gibis antigos. Eu não lia "Chiclete com Banana" aos 11 anos [risos]. Era um livro de charges, que saía na Folha. "Brasil 85" era do Angeli com vários cartunistas."

João lançou em agosto "Cócegas no Raciocínio", seu primeiro livro, pela Garimpo Editorial. Nele, há charges, esquetes e rascunhos. Algumas delas estão no seu blog.

Pela quarta vez no estande da Garimpo Editorial para autografar o exemplar, João falou sobre como o público acredita que seus desenhos sejam direcionados para as crianças. "Uma senhora veio aqui e me pediu para autografar um livro para o neto dela de três meses de idade. Eu disse que minhas charges não eram para crianças", explica.

Seus colegas de escola não entendem os traços do amigo cartunista no jornal. João explica a eles o significado do que desenha. Na Bienal, o jovem cartunista disse que comprou alguns volumes do selo LeYa Cult, como "Mundinho Animal", de Arnaldo Branco, além de quadrinhos.

"Comprei uma graphic novel do Demolidor, do Frank Miller, bem pesadona. É o último dia da Bienal e eu já gastei tanto, pô! Gastei mais do que deveria, uns R$ 200, por causa daquele "MSP+50", do Mauricio de Sousa, que eu queria pra caramba. Os vendedores só colocaram em capa dura [no estande]. É bom, é bom, mas é caro."

Questionado sobre quais quadrinhos estão entre suas leituras favoritas, João disse que não gosta dos cartunistas norte-americanos, porque todos têm o traço igual, exceto as tirinhas de Calvin e Haroldo e Peanuts. Acrescentou que gosta mais de ilustradores, como o norte-americano Jim Flora (1914-1998) e o britânico Ralph Steadman.

"Na hora em que vou fazer uma charge penso 'Ah, o que o Angeli faria?' e desencano, porque eu não faria uma coisa igual. O que um dia eu espero fazer é a charge como ele. O Angeli critica, vai lá e coloca o dedo na ferida. Você não dá risada, você pensa com a charge", explica.

Além do pai, Sueli Montanaro, 49, a mãe, e os irmãos Rafael, 14 (gêmeo de João), e Felipe, 10, acompanharam João até o estande da Globo Livros para encontrar Ziraldo. Lá, João autografou "Cócegas no Raciocínio" e entregou o volume para o cartunista.

"Se você tem uma mão boa, sai da frente. Não adianta ter uma mão boa e uma cabeça ruim. Ele é muito inteligente, muito criativo e começou muito cedo. Ele está num bom começo", nota Ziraldo, que acompanha as charges de João na Folha.

Segundo Lilian Cardoso, assessora de imprensa da Garimpo, mais de cem exemplares de "Cócegas no Raciocínio" foram vendidos na Bienal.

 
Voltar ao topo da página