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23/08/2010 - 21h08

"Voo para a Escuridão" conta história de gay preso como traficante; leia capítulo

da Livraria da Folha

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A história real e o drama do comissário gay Jak Mohamed Harb
A história real e o drama do comissário gay Jak Mohamed Harb

O comissário de bordo colombiano Jak Mohamed Harb nunca se imaginou no inferno. Até ser preso injustamente e conhecer as profundezas dos presídios brasileiros. Sua história está relatada em "Voo para a Escuridão", do publicitário e especialista em marketing político Marcelo Simões.

O drama de Harb teve início quando uma colega de trabalho pediu que ele entregasse uma encomenda para um amigo. Mal sabia ele que o dono da entrega era o traficante Nestor Alonso Castañeda Arevelo, que já estava na mira da Polícia Federal. A partir deste episódio, o comissário se vê protagonista de um drama sem precedentes em sua vida.

Homossexual, bonito, acostumado a frequentar bons hotéis, restaurantes e as festas mais badaladas, Harb teve de se acostumar a nova rotina convivendo com homicidas, assaltantes e líderes da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em ambientes insalubres.

As memórias dos 400 dias que passou no cárcere estão relatadas nas 240 páginas de "Voo para a Escuridão". Leia o primeiro capítulo da obra.

*

PASSAVA DAS CINCO horas quando o Boeing 757 da Avianca pousou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, procedente de Bogotá, naquela manhã chuvosa de 25 de junho de 2008. O comissário de bordo Jak Mohamed Harb, colombiano de 48 anos, descendente de árabes, postara-se à porta da aeronave para os cumprimentos de praxe aos passageiros, procedimento que repetiu rotineiramente ao longo dos 27 anos em que trabalhou naquela companhia. O movimento suave da cabeça a cada passageiro que desembarcava era acompanhado de um sorriso gentil, que mal escondia o cansaço de seis horas de voo. No bolso, levava um bilhete reafirmando um pedido de favor feito no dia anterior por uma colega da empresa, a aeromoça Marta Ortegon, para que ele trouxesse do Brasil uma certa quantia em dólares, sem, contudo, precisar o valor, que, segundo imaginava, seria em torno de 2 ou 3 mil.

Marta Ortegon é uma das mais antigas funcionárias da Avianca, com milhares de horas de voo. Aos 50 anos, ainda conserva os traços da beleza exigida pelas companhias aéreas para as jovens que querem seguir a carreira de aeromoça. Simpática e envolvente, já havia viajado muitas vezes com Jak, embora não mantivessem relacionamento mais próximo de amizade. Alegou, para justificar a necessidade do favor, o fato de não estar escalada em nenhum voo para São Paulo nos próximos 15 dias e o tranquilizou, garantindo que quem o procuraria era um amigo e que o dinheiro era parte de uma dívida.

O portador, de nome Nestor, iria entregar a "encomenda" em mãos no hotel onde a tripulação pernoitaria em São Paulo. O bilhete, colocado em sua caixa de correspondência no aeroporto de Bogotá, continha o telefone de Nestor. O mesmo favor havia sido solicitado a outro comissário do voo 085, Gilberto Boada Ramirez, que também encontrou um bilhete com mensagem semelhante em sua caixa postal no aeroporto. Gilberto, colombiano, 48 anos, alto e de porte atlético, é casado e pai de dois filhos. Também tinha 27 anos na Avianca. Assim como Jak, considerava Marta uma boa colega, acima de qualquer suspeita, embora também não mantivesse relacionamento mais próximo com ela.

Os dois comissários chegaram a conversar sobre o assunto durante o voo e questionaram sobre o perigo e a inconveniência do pedido, mas, como imaginaram tratar-se de quantia pequena - e legal -, concordaram em fazer o favor, embora a contragosto. Um ou outro receberia e levaria a "encomenda", assim acreditava Marta.

Após encerrar os procedimentos de finalização do voo, Jak desembarcou, passou pela alfândega e seguiu com o restante da tripulação para o carro que o levaria ao Hotel Marryot, nas proximidades do aeroporto de Guarulhos. Na pequena mala de mão, apenas uma muda de roupa, suficiente para a permanência de um dia em São Paulo. Na manhã seguinte, retornaria a Bogotá em voo programado para as 8 horas.

Os tripulantes deixaram o aeroporto uma hora e meia após o pouso. O frio naquele começo de inverno em São Paulo incomodava. Jak recostou-se no banco da van que transportava a tripulação até o hotel e fez breve comentário com Gilberto a respeito do café da manhã do Marryot, que desfrutaria antes de se recolher ao apartamento e dormir até o começo da tarde. A chuva, o frio e a baixa velocidade do carro provocavam-lhe um certo estado de letargia durante o percurso de seis quilômetros entre o aeroporto e o hotel. O movimento hipnótico do limpador do para-brisa estimulava-lhe o cansaço e o remetia a outras viagens, outras cidades, outros hotéis, muitas lembranças. Fazia um mês que terminara, em Barcelona, o relacionamento com Renato, seu companheiro durante um ano e meio e, certamente, o grande amor da sua vida. Não conseguia tirá-lo da memória, muito menos do coração. A tripulação chegou ao hotel, dirigiu-se à recepção para o check-in e todos foram ao restaurante para o café da manhã. O bufê estaria completo se tivesse pão árabe e arepa1, como é servido el desayuno da Casa Harb, hotel-butique pertencente à sua família, à beira do mar-azul-turquesa na ilha caribenha de San Andres.

Antes de se recolher ao apartamento, Jak combinou com Gilberto que, por volta de uma ou duas da tarde, ligariam para Nestor, para que ele levasse até o Hotel Marryot a encomenda de Marta. Jak dormiu mal, teve pesadelos confusos, com personagens estranhos e lugares desconhecidos. Acordou ao meio-dia, abriu as cortinas do apartamento e não se surpreendeu com a chuva fina que iria persistir ao longo de toda a tarde e noite daquela quinta-feira. Tomou banho, vestiu uma calça jeans, tênis, camiseta branca e o casaco de frio que trouxera na bagagem. Antes de descer, ligou do seu celular para um casal amigo, Marcelo e Juliana, combinando encontro para um chope à noite num bar da Vila Madalena. Em seguida, interfonou para Gilberto e desceu para o almoço, quando, então, ligou para o número indicado por Marta no bilhete.

Ao terceiro toque do celular, o também colombiano Nestor Alonso Castañeda atendeu:

- Nestor, tudo bem? Eu sou Jak, colega de Marta, que me pediu para ligar para você sobre uma encomenda para ela. Eu estou hospedado aqui em Guarulhos, no Hotel Marryot, apartamento 805.

- É longe de onde estou - ponderou Nestor -, será que não daria para a gente se encontrar no Shopping Ibirapuera?

Jak, demonstrando um pouco de irritação, contestou o pedido de Nestor, alegando que estava cansado, tinha chegado pela manhã, ficaria pouco tempo em São Paulo e que tinha voo marcado para o dia seguinte, muito cedo. E, afinal de contas, estava fazendo um favor. Combinaram o encontro no hall do hotel para dali a uma hora. Repassou a Gilberto o conteúdo da ligação e acertaram que receberiam a encomenda juntos. Gilberto concordou e disse que depois do encontro ficaria no apartamento assistindo futebol pela televisão. Estavam despreocupados.

Os dois comissários alongaram o almoço por mais de uma hora e saíram do restaurante para aguardar a chegada de Nestor no hall do hotel. Sentaram-se voltados para a porta principal. Jak percebeu um movimento incomum de duas viaturas da Polícia Federal do lado de fora e incomodou-se com a insistência de um homem de traços asiáticos circulando, fora do contexto, na área interna do hotel. Não parecia ser hóspede, muito menos funcionário. O homem passou próximo, olhando desconfiado para eles por duas vezes, numa das quais falando ou fingindo que estava falando ao celular. Jak percebeu e comentou com Gilberto o movimento estranho das viaturas e do "japonês", sem suspeitar que eles eram exatamente o objeto da presença policial ostensiva. Nestor estava atrasado cinco minutos. Jak e Gilberto ficaram apreensivos e levantaram a hipótese de desistir do encontro. Gilberto sugeriu esperar mais cinco minutos. Ambos tinham no bolso os bilhetes deixados por Marta Ortegon.

A porta eletrônica se abriu. Um sujeito atarracado e gordo, com calvície acentuada, entrou. Era Nestor. Ele caminhou dois passos, parou por dois segundos, olhou em volta e se dirigiu ao encontro dos comissários, as únicas pessoas sentadas na recepção do hotel. Carregava uma sacola de tamanho médio preta, aparentemente de grife. O traficante não sabia qual dos dois era Jak e se dirigiu a Gilberto:

- Jak!

A abordagem dos agentes da Polícia Federal foi fulminante e frenética, no exato momento em que Nestor entregava a sacola a Gilberto, que mal teve tempo de olhar o que tinha dentro. Os agentes federais, armados de metralhadoras e pistolas 765, deram voz de prisão aos três colombianos, aos gritos de "Polícia Federal!", "mãos na cabeça!", "calado!", "ninguém se mexe!", " todo mundo preso!". Jak sentiu o frio do cano da pistola do agente "japonês" na cabeça e a pressão das algemas apertando os seus pulsos nas costas. Em vão, tentou saber o que estava acontecendo. Os gritos de "traficantes filhos da puta!" ecoavam em seus ouvidos, o sangue congelava em seu corpo. Hóspedes e funcionários do hotel, que observavam toda a ação com olhares curiosos e atônitos, eram os figurantes de um pesadelo real, que, naturalmente, associara ao que tivera horas antes no curto sono maldormido daquela manhã fria de São Paulo.

A Federal apreendeu 49 mil dólares americanos e um casaco que cobria o dinheiro que estava na sacola. Acreditava que havia fechado ali o último elo da Operação San Lucca, que consumiu sete meses de investigações, com centenas de horas de escuta telefônica e que culminou com a apreensão de 125 quilos de cocaína e o indiciamento de 12 pessoas, nove das quais, presas.

O comissário de bordo Jak Mohamed Harb começava naquele instante a fazer o voo mais longo da sua vida. Uma viagem sem percurso definido e com destino incerto. Um voo para a escuridão.

A tripulação foi informada sobre o que estava acontecendo e desceu para o hall do hotel. O comandante procurou interceder com os policiais, afirmando que tudo não passava de um equívoco e que tanto Jak quanto Gilberto eram funcionários antigos da empresa, com reputação ilibada, sem nenhuma mancha ou deslize moral em quase três décadas como comissários da Avianca. O chefe da operação contestou:

- Não tem essa não, comandante. Todo mundo limpo até a hora em que é flagrado com a mão na botija. Há muito tempo esses caras estão levando dinheiro do tráfico para a Colômbia debaixo do seu nariz e do nosso. A festa pra eles acabou

Os apartamentos de Jak, de Gilberto e de todos os outros tripulantes, inclusive do comandante, foram milimetricamente revistados, sem que a PF encontrasse qualquer vestígio de droga ou dinheiro ilegal. Jak insistia desesperadamente na versão de que não conhecia Nestor e que apenas estava fazendo um favor para a colega colombiana, funcionária da Avianca, que lhe deixara um bilhete contendo o nome e o número da pessoa que lhe entregaria a "encomenda" em São Paulo. E pediu para que o policial pegasse o bilhete de Marta no bolso dianteiro da sua calça.

Gilberto, por sua vez, manteve-se calado e acreditou que tudo seria esclarecido na sede da Polícia Federal, no bairro da Lapa, quando depusesse ao delegado-chefe da Operação San Lucca e, diante de testemunhas, entregasse o outro bilhete de Marta, que guardava no bolso.

Tinha certeza de que tudo acabaria bem.

Algemados, Jak, Nestor e Gilberto, nessa ordem, foram colocados no "bonde", como é conhecido o camburão para transporte de presos utilizado pela polícia. A traseira do veículo é subdividida em compartimentos minúsculos, separados por placas de aço que inviabilizam qualquer contato ou comunicação entre os presos. Pequenas frestas laterais permitiam a entrada de ar, o que, de alguma forma, amenizava o desconforto da posição fetal em que os presos se acomodaram. O comboio da Federal arrancou de maneira escandalosa do hotel e abriu caminho pelo tráfego caótico da engarrafada Marginal Tietê com suas sirenes a todo volume e suas luzes piscando ameaçadoramente.

O "bonde" entrou na garagem do prédio da Polícia Federal depois de um percurso turbulento, que parecia ter a distância entre Bogotá e São Paulo. Jak não tinha onde se apoiar para evitar o sacolejo da viatura. Seu corpo doía, tinha cãibras. Suava de calor e de medo. Os três minutos em que permaneceu dentro do camburão parado sufocavam-lhe a alma. Buscou o abraço de Mary Ann, sua irmã, imaginando como seria bom se ela estivesse ali para protegê-lo com sua ternura, seu afeto. E Renato, onde estaria agora? Jak viajou, foi longe. Imaginou como seria bom sentar-se com ele num café das Ramblas, em Barcelona, para tomar cappuccino e depois caminhar de mãos dadas, sem o constrangimento de olhares inquisidores e preconceituosos, incapazes de perceber e entender que o amor entre dois homens vai além do mero encontro proibido de dois corpos, e pode, sim, ser a conjunção natural de duas almas. E Franco, o irmão querido! Como seria bom se ele o estivesse aguardando do lado de fora quando aquela porta se abrisse, para soltar suas algemas e empregar todo o poder de sua paciência e sabedoria, para mostrar àqueles homens, que não lhe davam ouvidos, que tudo aquilo era uma grande injustiça, um engano perfeitamente remediável ante à luz da razão. Jak, conformado, pensou em Deus; certamente, "Ele sabia o que estava fazendo". Quis chorar. Uma única e incontrolável lágrima percorreu sua face, sem que pudesse enxugá-la. As algemas não permitiam.

A porta do camburão foi aberta e Jak mal conseguia ficar de pé. Parecia que suas articulações haviam calcificado definitivamente. Os três saíram e foram trancafiados em celas separadas, para que não tivessem contato e, assim, combinar os depoimentos. O tempo de isolamento e a demora em ficar diante do delegado aumentavam a angústia e alimentavam a desesperança. Ele já não tinha mais certeza de que tudo aquilo seria resolvido nas próximas horas. A noite avançava e Jak temia ser abandonado por todos. Nos olhares de outros presos não tinha capacidade para distinguir solidariedade de desconfiança. Seria ele ali o único injustiçado? Teve vontade de gritar, a plenos pulmões e forças que lhe restavam, que era inocente, para que aqueles que estivessem longe, além-muros, além-portas e grades pudessem ouvi-lo e ajudá-lo. O delegado poderia ouvir o seu grito; Franco, Renato e Mary Ann poderiam ouvir o seu grito. Deus, quem sabe, poderia ouvir o seu grito.

Jak buscou um canto na parede e acomodou o corpo. Esticou as pernas e deixou que o silêncio frio e escuro da cela, agora o cúmplice maior da sua dor, tomasse conta do seu sono. Dormiu por cerca de duas horas, quando foi convocado a depor. Quem sabe depois de contar a sua versão, falar do bilhete que deu ao policial, provar que não tinha nenhuma ligação com o tráfico de drogas e que apenas estava no lugar errado, na hora errada e, principalmente, com a pessoa errada, sairia livre dali. Voltaria ao hotel, tomaria um banho, comentaria com o restante da tripulação o calvário vivido, ligaria para os amigos reconfirmando o chope na Vila Madalena e, no dia seguinte, assumiria o seu posto no voo 086 da Avianca com destino a Bogotá, postado à porta com o indefectível sorriso, acompanhado do burocrático bom-dia. E na bagagem, claro, apenas uma nova história de viagem para contar, dramática, certamente, mas sempre uma boa história.

Os quatro policiais foram os primeiros a depor. Relataram o flagrante no Hotel Marryot com as mesmas palavras, pontos e vírgulas, colocando no mesmo patamar de periculosidade os dois comissários e Nestor, um dos principais alvos da investigação e que aparece em inúmeras escutas telefônicas de ligações durante os sete meses de investigação da Operação San Lucca. Gilberto não é citado e não tem a voz registrada em nenhuma escuta; Jak aparece apenas na única chamada feita a Nestor, marcando o recebimento da "encomenda" de Marta, onde não há nenhuma referência sobre valores em dinheiro. O inquérito policial, muito embora registre a alegação de Jak e Gilberto quanto ao pedido de favor da aeromoça e a existência dos bilhetes com o número do celular de Nestor, o que, em tese, comprovaria a versão deles, não cita o teor da conversa, nem o desinteresse e a negativa de Jak em se deslocar para buscar o dinheiro, muito menos que os dois comissários eram peças estranhas à investigação até aquela data, porque, simplesmente, não tiveram nenhum contato anterior com Nestor ou qualquer outro membro da quadrilha internacional de tráfico de drogas. Prevaleceu, tão-somente, a versão policial, ignorando-se por completo as evidências desses fatos. A combinação do conteúdo dos bilhetes com o teor da gravação e a conversa entre Jak e Nestor, por si só, já seriam elementos suficientes para que se estabelecesse, no mínimo, o objeto da dúvida em favor da versão dos dois comissários.

Jak não pegou o dinheiro, não viu o seu conteúdo e só tomou conhecimento do valor quando os policiais retiraram os 49 mil dólares sob o casaco de dentro da sacola preta. Questionado pelo delegado, disse que se soubesse que a quantia seria maior que dois ou três mil dólares não levaria de maneira alguma, porque saberia que se tratava de dinheiro ilegal, das implicações policiais e jurídicas e que não arriscaria a reputação, o nome da família, a sua carreira e 27 anos de trabalho numa mesma empresa apenas para prestar um favor.

Mas isso qualquer um diria.

Jak era colombiano, suspeitíssimo, portanto. A circunstância da sua nacionalidade e o fato de ter falado ao telefone, mesmo que numa única ligação, com um traficante, também colombiano, para a PF eram evidências suficientes para imputar-lhe culpa.

Desde o momento da prisão no hotel, Jak e Gilberto não tiveram oportunidade de se comunicar. Ainda assim, os depoimentos foram absolutamente coincidentes. Contudo, a Polícia Federal e, posteriormente, o Ministério Público e a juíza federal da Vara Criminal da Primeira Subseção Judiciária de São Paulo, não consideraram também esse detalhe, que, somado às outras evidências citadas, certamente dariam outro rumo ao curso dessa história. Mas Jak e Gilberto tinham o agravante de ter nascido no país que é o maior produtor e exportador de cocaína do mundo.

A admissão de que Jak e Gilberto estavam sendo "usados" pela organização criminosa, por certo comprometeria o "sucesso" do desfecho da Operação San Lucca. Um desfecho fora do script, porque, afinal de contas, estavam sendo presos os "elementos" responsáveis pelo transporte do dinheiro do tráfico, fechando com chave de ouro todo o processo, ou seja, a apreensão de 125 quilos de cocaína e quase 50 mil dólares provenientes do tráfico de drogas. Admitir um erro no final da operação, nem pensar. Melhor, portanto, deixar tudo como estava. Havia um traficante de nacionalidade colombiana com os passos e contatos monitorados, com envolvimento já devidamente comprovado e, na outra ponta, dois comissários de voo, também colombianos, que alegavam inocência. E como no universo policial todo mundo que é preso, criminoso ou não, invariavelmente, alega inocência, ou, no mínimo, se diz utilizado como inocente útil, não seriam aqueles dois colombianos a exceção. Checar as informações dos dois seria, portanto, perda de tempo e de recursos. Ninguém na PF se predispôs a procurar informações sobre Marta Ortegon, na Avianca, muito menos se interessou em averiguar os antecedentes dos dois comissários na Colômbia ou na empresa em que trabalhavam. Marta continuou no seu emprego de comissária e, coincidentemente, nunca mais foi escalada nos voos da empresa para o Brasil.

1 Espécie de bolacha feita de banana-da-terra prensada e assada.

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"Voo para a Escuridão"
Autor: Marcelo Simões
Editora: Geração Editorial
Páginas: 240
Quanto: R$ 34,90 (veja preço especial)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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