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08/09/2010 - 12h00

Versos de poeta Henriqueta Lisboa descobrem crianças novas a cada manhã

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Como já bem disse o poeta e crítico literário Nelson Asher, "não é todo dia que, do passado, um livro surpreendente chega para ficar". Asher, em sua antiga coluna na Folha, se referia ao livro "Poesia Traduzida", de Henriqueta Lisboa (1901-1985), coletânea lançada em 2002.

Reprodução
Melódicos e sensíveis, versos encantaram olhos de grandes autores
Melódicos e sensíveis, versos encantaram grandes autores

Espantoso constatar que os anos passaram, mas o mesmo fenômeno volta a acontecer agora com outra obra da autora. "O Menino Poeta" (Peirópolis), é um clássico da poesia brasileira, responsável por inspirar elogios e sonhos em adultos, crianças e quem mais passasse os olhos por seus versos originais e sensíveis. As ilustrações da obra ficam por conta de Nelson Cruz, e com muita competência o premiado ilustrador, vencedor do premo jabuti, traduz os versos em cores de sonhos.

Do mesmo modo que há quem defenda que o "O Pequeno Príncipe", de Saint-Exupery, não seja um livro para crianças, o mesmo se diz de "O Menino Poeta" . O que se concorda é que ambas são arte e ponto final.

O trabalho destacado da mineira Henriqueta, publicado inicialmente em 1943, ganhou notório apreço da crítica e do público, e despertou o "lado infantil" de cada um, fazendo com que o livro recebesse o título de a primeira obra de poesia brasileira destinada ao público infantil.

Sobre isso, Mário de Andrade escreveu em carta que os poemas "são simplesmente um encanto pros ouvidos, pros olhos, pro corpo todo. O menino poeta, isso achei maravilha integral." Ao que posteriormente, o modernista define os versos não como destinado à crianças, mas que possuem tamanha musicalidade, encantamento e pureza que coincidem com a infância, sendo contudo, capazes de despertar graça em leitores de qualquer idade.

Independente das especificações de gênero, cor, grau ou qualquer outra análise mais detalhada, o que fica é que as palavras de Henriqueta são das mais encantadoras, e de fato, tendem a agradar pessoas de qualquer idade.

Contemporânea de Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade, trocou inúmeras correspondências e confidências com os intelectuais, e arrancou elogios dos mais admiráveis.

Sua obra revista, aos poucos, ganha destaque com o público novo, sempre renovável, e que não cansa de descobrir a infância nos versos da poeta.

Leia a poesia O Menino Poeta

*

O menino poeta
não sei onde está.
Procuro daqui
procuro de lá.
Tem olhos azuis
ou tem olhos negros?
Parece Jesus
ou índio guerreiro?

Trá-lá-lá-li
trá-lá-lá-lá

Mas onde andará
que ainda não o vi?
Nas águas de Lambari,
nos reinos do Canadá?
Estará no berço
brincando com os anjos,
na escola, travesso,
rabiscando bancos?
O vizinho ali
disse que acolá
existe um menino
com dó os peixinhos.
Um dia pescou
- pescou por pescar -
um peixinho de âmbar
coberto de sal.
Depois o soltou outra vez nas ondas.

Ai! que esse menino
será, não será?...

Certo peregrino
(passou por aqui)
conta que um menino
das bandas de lá
furtou uma estrela.
Trá-lá-li-lá-lá

A estrela num choro
o menino rindo.
Porém de repente
(menino tão lindo!)
subiu pelo morro, tornou a pregá-la
com três pregos de ouro
nas saias da lua.

Ai! que esse menino
será, não será?...
Procuro daqui
procuro de lá.

O menino poeta
quero ver de perto
quero ver de perto
para me ensinar
as bonitas cousas
do céu e do mar.

*

"O Menino Poeta"
Autor: Henriqueta Lisboa
Editora: Peirópolis
Páginas: 120
Quanto: R$ 48
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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