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18/09/2010 - 19h57

Hell's Angels ameaçaram Rolling Stones quando fizeram segurança de show

da Livraria da Folha

Divulgação
Jornalista alemão acompanha a história dos Rolling Stones desde o nascimento da banda
Jornalista alemão acompanha a história dos Rolling Stones desde o nascimento da banda

Quando os Rolling Stones ganharam fama, sua imagem era a de caras que os pais deveriam temer que estivessem com suas filhas. Mick Jagger e sua banda eram os rebeldes, que iam para cama com todas e usavam todo tipo de drogas.

Eles flertavam com o satanismo, com Jagger encarnando o próprio demônio nas execuções de "Sympathy for the Devil". Suas letras eram violentas, as imagem que passavam era de violência, eles eram rock'n'roll.

Não é a toa que a volta dos Stones aos EUA explodisse em violência. Jagger estava determinado a ir parar nos cinemas, com a turnê de 1969 filmada como um documentário e, de preferência, antes do filme sobre o Woodstock.

Jerry Garcia, guitarrista do Greatful Dead, deu a ideia para o final perfeito. Um show gratuito para no mínimo 1 milhão de pessoas ao fim das apresentações.

Foi assim que surgiu a ideia para o show de Altamont, documentado pelo filme "Gimme Shelter" e com a segurança feita pela gangue Hell's Angels. Bêbados, os "seguranças" perderam a cabeça e espancaram o público, o que resultou na morte de algumas pessoas.

Este é um dos episódios da longa e tumultuada trajetória dos Rolling Stones, registrada no livro "Mick Jagger e os Rolling Stones". Escrito pelo jornalista alemão Willi Winkler, acompanha os quase cinquenta anos de carreira do grupo. Além das histórias vividas pelo grupo, conta a infância e o caminho de cada integrante até a formação da banda. Complementam a edição imagens de diferentes épocas.

Leia abaixo trecho do livro que narra o ápice do caos do show em Altamont, Estados Unidos:

*

Poderia ter acontecido antes, em Woodstock ou em Isle of Wight, mas Altamont tinha as melhores condições para Altamont: os Hell's Angels, dispostos à violência, com uma "visão de mundo um pouco mais à direita de Adolf Hitler" (Tony Sanchez), os fãs completamente malucos, macabramente decididos a recuperar alguma coisa que tinham perdido, e os Rolling Stones, que chegaram aos Estados Unidos para provar que ainda eram os mais malvados. Aquilo deveria ser uma festa, porque combinava bem com o filme que estava sendo gravado em turnê. Um assassinato foi seu ápice - inesperado, mas nenhum dramaturgo poderia tê-lo encenado melhor.

(...)

Foi uma apresentação fraca, é possível conferi-la no filme Gimme shelter. Os músicos estavam tão pouco envolvidos quanto o público. Sim, a banda também tocou Sympathy for the devil, Jagger, o Sr. Demônio em pessoa, apareceu vestido de veludo vermelho-escuro. Uma mulher foi surrada pelos Angels diante do palco e Mick Jagger diz que sempre acontecem umas coisas engraçadas quando eles tocam essa música. Mas a cena controversa aconteceu apenas depois do clássico de Robert Johnson, Love in vain, que deveria a dar sequência a Let it bleed.

Eles estavam tentando começar Under my thum, entre pânico e mal-entendidos mútuos. Mick Jagger estava realmente com medo e pediu aos espectadores que se sentassem. Afinal, eles poderiam se levantar novamente perto do final. Mas o público, os Hell's Angels, seja lá quem for, estão inspirados para ações ainda mais mortais. Jagger e os seus, por um lado, estão tão ocupados com seu início errado que nem percebem o que está se passando a 5, 5 metros do palco: um negro de 18 anos, ele se chama Meredith Hunter, escapa dos seguranças, olha mais uma vez rápido para trás e está perdido. Um dos anjos do inferno, que mais tarde vai afirmar que o homem tinha puxado uma arma, mete uma faca nas costas de sua vítima, depois lhe dá uma surra e distribui chutes por tanto tempo até ela ter certamente morrido.

No filme dá para ver: Mick Jagger, que aos poucos se dá conta do que aconteceu, tentando acalmar os espectadores, chamando-se de "people!" de maneira cada vez mais indefesa e comovente, querendo chamar a atenção de volta para si e para a música. Era tarde demais. A banda tocava e Mick Jagger cantou Midnight rambler, mas quem percebeu o que tinha acontecido diante do palco podia, no máximo, admirar o gerenciamento de crise dos Stones. Eles tinham, entretanto, um pequeno ajudante chamado "Maximum Leader": Sonny Barger, chefe dos Hell's Angels de Oakland, que, por causa de diversas dorzinhas, hoje está enfurnado no ensolarado e seco Arizona, como qualquer aposentado remediado americano. Em 1969, naquela fria noite de dezembro em Altamont, Barger era o chefe do processo e em pleno domínio de sua força. Os Rolling Stones queriam interromper o show, mas Barger conseguiu persuadir Keith Richards a continuar tocando. "Eu estava ao seu lado, apertando o revólver contra ele e ordenando que tocasse imediatamente, senão iria morrer." A banda de "prima-donas bichas, metidas" continuou, embora certamente sentisse medo da morte.

Os Jornalistas, os roadies e muitos fãs salvaram-se subindo ao palco. Os Hell's Angels continuaram bebendo e surrando, e mais três pessoas morreram naquela noite. Embora os Rolling Stones mostrassem tão pouca vontade de se meter na inflamada política, subitamente faziam parte dela. É surpreendente que a morte de um negro por um branco bêbado não tenha levado a uma inquietação racial ou, como se dizia na época, a um "levante de negros". A moda dos hippies cessou, os anos 1960, o conto de fadas de tempos imemoriais tinham definitivamente passado.

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Mick Jagger e os Rolling Stones
Autor: Willi Winkler
Editora: Larousse
Páginas: 240
Quanto: R$ 32,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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