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22/09/2010 - 22h22

Historiadora analisa morte e luto no século 19; leia trecho

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Pode parecer clichê, mas a morte é única certeza que temos. Mesmo sem sofrer alteração perceptível desde a pré-história, esse fenômeno biológico comum intriga e estimula a imaginação dos seres humanos, seja na filosofia, nas artes ou nas ciências. No entanto, após milênios de investigações e conjecturas, ela continua a ser um mistério.

Divulgação
Este volume apresenta uma análise histórica sobre o luto no século 19
Este volume apresenta uma análise histórica sobre o luto no século 19

Independente do que vem depois da vida --ressurreição, reencarnação ou ciclo do carbono--, o comportamento frente ao fato muda de acordo com a época e a cultura, e, por isso, pode ser objeto da história, pois os grupos humanos deixam registros de suas representações sociais.

Na Idade Média, os europeus preferiam morrer a sofrer o castigo eterno. Com o iluminismo e a Revolução Industrial, a fé perdeu força e a situação mudou. Segundo o medievalista George Duby (1919-1996), um dos mais influentes pensadores da teoria da nova história, "mais do que a morte, nossos ancestrais temiam o juízo final, a punição do além e os suplícios do inferno."

Concebido originalmente para ser um estudo sobre o vestuário vitoriano, o livro "Mortes Vitorianas" (Alameda, 2010), escrito pela historiadora Juliana Schmitt, apresenta uma detalhada análise histórica sobre o luto e a morte no século 19. Leia um trecho.

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A sociedade vitoriana concebeu uma forte presentificação da morte em seu cotidiano. Não somente pelos hábitos sociais cada vez mais espontâneos, pondo fim à naturalidade dos atos, ou pela adoção do luto como traje diário. Também o tabu, indesejada e, no extremo, negada. Como se fosse possível contorná-la, apegou-se aos corpos, supervalorizou o morto, mantendo-o ao mundo dos vivos. Uma melancólica recusa da efemeridade da vida.

Talvez nunca na história ocidental, a morte tenha sido tão dramatizada, tão apaixonante sofrida. A intolerável perda da presença humana evidencia-se nas mais desesperadoras manifestações sentimentais diante da morte do outro: um ente querido, a pessoa amada. O homem agarrou-se como nunca aos seus próximos, ainda que só lhe restassem seus cadáveres. O morto tornou-se objeto de culto. Dedicar-se aos finados foi a resposta vitoriana à perda de sentido de uma vida cada vez mais materialista e mundana. Desde fins do século XVIII é possível notar essa nova sensibilidade, que modificou sobremaneira a relação dos indivíduos com a morte, a própria e a de outrem.

Entretanto, durante um longo período histórico, o ser humano lidou com o desaparecimento eterno de forma notadamente diferente. Houve um tempo em que a vida e morte eram conceitos tão indissociáveis que não se concebia um sem se considerar o outro. O modo como se vivia refletia-se nos acontecimentos que a morte era, antes de tudo, uma transição, uma passagem para outra esfera, faltando motivos para temê-la.

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"Mortes Vitorianas"
Autor: Juliana Schmitt
Editora: Alameda
Páginas: 198
Quanto: R$ 34,00 (preço promocional)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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