Livraria da Folha

 
02/10/2010 - 11h20

"Andy Warhol: O Gênio do Pop" revira bastidores da vida do artista-charada

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Richard Drew/AP
Warhol sorri com uma câmera fotográfica polaroid em foto tirada em 1976, em NY
Warhol sorri com uma câmera fotográfica polaroid em foto tirada em 1976, em NY

Depois de pintar ícones do pop norte-americanos, como Marilyn Monroe (1926-1962) e Elvis Presley (1935-1977), a lata da sopa Campbell's e a garrafa de Coca-Cola, entre outros, o artista plástico e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928-1987) comprou uma câmera de 16mm e deu início à sua carreira cinematográfica.

Interessado em transformar suas anônimas personagens em celebridades, ele foi o primeiro a divulgar a ideia de que todos algum dia teriam seus 15 minutos de fama. Essa e outras passagens, que marcaram a carreira de Warhol, são relatadas na biografia "Andy Warhol: O Gênio do Pop", recém-lançada no Brasil pela Editora Globo.

Nela, os norte-americanos Tony Scherman e David Dalton se propõem a desvendar o homem por trás da charada pop. O leitor é transportado aos bastidores da cena artística de Warhol. Extensas entrevistas foram utilizadas para compor o volume.

Os autores concentram a narrativa na "primeira vida" de Warhol, como definem. De sua infância na classe baixa norte-americana como Andrew Warhola, intercalando os anos no estúdio Factory, até 1968, quando o artista levou um tiro de Valerie Solanas (1936-1988), autora do "SCUM Manifesto", tratado ultra-feminista.

Divulgação
Novas entrevistas e informações compõem biografia do artista pop
Novas entrevistas e informações compõem biografia do artista pop

Filho de imigrantes tchecos, Andy Warhol nasceu na Pensilvânia (EUA) e foi batizado com o nome de Andrew Warhola. Seu pai foi para os Estados Unidos para não ser recrutado pelo exército austro-húngaro na Primeira Guerra Mundial. Warhol estudou arte no Carnegie Institute of Technology, em Pittsburgh.

Na década de 1960, assumiu o fascínio pela beleza humana diante das telas. Discretamente, seus filmes se estendiam para dentro e fora dos interiores das pessoas, interagindo com elas. O artista prolongava os momentos de seus vídeos.

Ao contrário do que ocorre diante de uma pintura, a contemplação da obra de Warhol ocorre por uma confluência de olhares. Não há o choque, muito menos revelação diante daquilo que é mostrado.

Chamados originalmente de "stillies" pelo cineasta, seus "screen tests" eram retratos filmados de pessoas, sentadas e imóveis diante de uma câmera. Warhol captou, por exemplo, a escritora Susan Sontag (1933-2004) fazendo caretas e o pintor surrealista Salvador Dalí (1904-1989) de ponta-cabeça.

O artista dirigiu mais de cem curtas e longas-metragens, incluindo uma série de filmes mudos. "Sleep" (1963), por exemplo, mostra o poeta Jonh Giorno --na época, namorado de Warhol-- dormindo durante 6 horas e 21 minutos. Já "Empire" (1964), um de seus mais significativos trabalhos cinematográficos, focaliza o topo do Empire State Building, em Nova York, por 8 horas e 5 minutos.

Andy Warhol Foundation for the Visual Arts/Divulgação
Quadro "Marilyn Monroe" (1967), pintado pelo artista plástico e cineasta Andy Warhol
Quadro "Marilyn Monroe" (1967), pintado pelo artista plástico e cineasta Andy Warhol

Em 1964, Warhol foca sua produção na mistura entre artes plásticas e música. Descobre a banda The Velvet Underground e decide produzi-los. Apenas uma exigência: a vocalista deveria ser a atriz e modelo Christa Päffgen (1938-1988), conhecida como Nico.

Os integrantes do Velvet não ficaram muito felizes com a escolha e, pouco depois, Lou Reed, líder da banda, expulsou a garota do grupo. Com isso, Warhol perdeu o interesse por eles. Após o episódio, a Factory começou a atrair talentos incipientes, interessados no apoio do artista para impulsionar suas carreiras.

Um deles, foi a feminista norte-americana Valerie Solanas (1936-1988). No entanto, Warhol não concordou em apoiar a produção de "Up Your Ass", sua peça teatral, em 1968.

Tomada pela raiva, ela entrou na Factory e atirou no artista. Logo depois, entregou-se à polícia. O tiro, que não matou Warhol mas deixou sequelas, virou filme --"I Shot Andy Warhol ("Um Tiro para Andy Warhol"), de 1996.

Desde o visual, quando começou a usar uma peruca branca sobre o cabelo ralo para disfarçar a calvície, até o seu estilo de refazer a arte, o pintor gostava de provocar. Fazia de sua idade um mito. Nunca se soube ao certo quantos anos tinha. Não se casou nem teve filhos, somente amores fugazes. Tão fugazes quanto a sociedade que mostrava em suas obras.

Com estilo fluido, "Andy Warhol: O Gênio do Pop" detalha esses episódios para o leitor.

The Andy Warhol Foundation for the Visual
Autorretrato do artista plástico e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928-1987) travestido de mulher
Autorretrato do artista plástico e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928-1987) travestido de mulher
 
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