PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha
Richard Drew/AP |
Warhol sorri com uma câmera fotográfica polaroid em foto tirada em 1976, em NY |
Depois de pintar ícones do pop norte-americanos, como Marilyn Monroe (1926-1962) e Elvis Presley (1935-1977), a lata da sopa Campbell's e a garrafa de Coca-Cola, entre outros, o artista plástico e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928-1987) comprou uma câmera de 16mm e deu início à sua carreira cinematográfica.
Interessado em transformar suas anônimas personagens em celebridades, ele foi o primeiro a divulgar a ideia de que todos algum dia teriam seus 15 minutos de fama. Essa e outras passagens, que marcaram a carreira de Warhol, são relatadas na biografia "Andy Warhol: O Gênio do Pop", recém-lançada no Brasil pela Editora Globo.
Nela, os norte-americanos Tony Scherman e David Dalton se propõem a desvendar o homem por trás da charada pop. O leitor é transportado aos bastidores da cena artística de Warhol. Extensas entrevistas foram utilizadas para compor o volume.
Os autores concentram a narrativa na "primeira vida" de Warhol, como definem. De sua infância na classe baixa norte-americana como Andrew Warhola, intercalando os anos no estúdio Factory, até 1968, quando o artista levou um tiro de Valerie Solanas (1936-1988), autora do "SCUM Manifesto", tratado ultra-feminista.
Divulgação |
Novas entrevistas e informações compõem biografia do artista pop |
Filho de imigrantes tchecos, Andy Warhol nasceu na Pensilvânia (EUA) e foi batizado com o nome de Andrew Warhola. Seu pai foi para os Estados Unidos para não ser recrutado pelo exército austro-húngaro na Primeira Guerra Mundial. Warhol estudou arte no Carnegie Institute of Technology, em Pittsburgh.
Na década de 1960, assumiu o fascínio pela beleza humana diante das telas. Discretamente, seus filmes se estendiam para dentro e fora dos interiores das pessoas, interagindo com elas. O artista prolongava os momentos de seus vídeos.
Ao contrário do que ocorre diante de uma pintura, a contemplação da obra de Warhol ocorre por uma confluência de olhares. Não há o choque, muito menos revelação diante daquilo que é mostrado.
Chamados originalmente de "stillies" pelo cineasta, seus "screen tests" eram retratos filmados de pessoas, sentadas e imóveis diante de uma câmera. Warhol captou, por exemplo, a escritora Susan Sontag (1933-2004) fazendo caretas e o pintor surrealista Salvador Dalí (1904-1989) de ponta-cabeça.
O artista dirigiu mais de cem curtas e longas-metragens, incluindo uma série de filmes mudos. "Sleep" (1963), por exemplo, mostra o poeta Jonh Giorno --na época, namorado de Warhol-- dormindo durante 6 horas e 21 minutos. Já "Empire" (1964), um de seus mais significativos trabalhos cinematográficos, focaliza o topo do Empire State Building, em Nova York, por 8 horas e 5 minutos.
Andy Warhol Foundation for the Visual Arts/Divulgação |
Quadro "Marilyn Monroe" (1967), pintado pelo artista plástico e cineasta Andy Warhol |
Em 1964, Warhol foca sua produção na mistura entre artes plásticas e música. Descobre a banda The Velvet Underground e decide produzi-los. Apenas uma exigência: a vocalista deveria ser a atriz e modelo Christa Päffgen (1938-1988), conhecida como Nico.
Os integrantes do Velvet não ficaram muito felizes com a escolha e, pouco depois, Lou Reed, líder da banda, expulsou a garota do grupo. Com isso, Warhol perdeu o interesse por eles. Após o episódio, a Factory começou a atrair talentos incipientes, interessados no apoio do artista para impulsionar suas carreiras.
Um deles, foi a feminista norte-americana Valerie Solanas (1936-1988). No entanto, Warhol não concordou em apoiar a produção de "Up Your Ass", sua peça teatral, em 1968.
Tomada pela raiva, ela entrou na Factory e atirou no artista. Logo depois, entregou-se à polícia. O tiro, que não matou Warhol mas deixou sequelas, virou filme --"I Shot Andy Warhol ("Um Tiro para Andy Warhol"), de 1996.
Desde o visual, quando começou a usar uma peruca branca sobre o cabelo ralo para disfarçar a calvície, até o seu estilo de refazer a arte, o pintor gostava de provocar. Fazia de sua idade um mito. Nunca se soube ao certo quantos anos tinha. Não se casou nem teve filhos, somente amores fugazes. Tão fugazes quanto a sociedade que mostrava em suas obras.
Com estilo fluido, "Andy Warhol: O Gênio do Pop" detalha esses episódios para o leitor.
The Andy Warhol Foundation for the Visual | ||
Autorretrato do artista plástico e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928-1987) travestido de mulher |