Livraria da Folha

 
29/09/2010 - 18h40

Não tive pesadelo com Machado, diz autora de "O Alienista Caçador de Mutantes"

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
Natalia Klein diz ter consultado dados sobre E.T. de Varginha e personagens do "X-Men"
Natalia Klein diz ter consultado dados sobre E.T. de Varginha e personagens do "X-Men"

Simão Bacamarte não quer mais internar somente loucos. A Casa Verde abrigará agora mutantes para serem estudados. Deturpação? Heresia? Nada disso. "O Alienista Caçador de Mutantes", da escritora Natalia Klein, recria o clássico conto de Machado de Assis (1839-1908) em versão fantástica.

A obra integra a coleção "Clássicos Fantásticos" ("Dom Casmurro e os Discos Voadores", "Senhora, A Bruxa" e "A Escrava Isaura e o Vampiro"), lançada na semana passada pelo selo Lua de Papel, da editora LeYa.

Na última terça-feira (28), a Lua de Papel anunciou que prepara uma reimpressão dos livros. A série esgotou a tiragem inicial de 32 mil exemplares. Dez mil novos volumes chegarão ao mercado nos próximos dias.

Publicado originalmente em 1882, na coletânea "Papéis Avulsos", "O Alienista" ganhou mutantes nessa edição fantástica. Direcionado para o público infantojuvenil, "O Alienista Caçador de Mutantes" não tem notas de rodapé que desviam e cansam a atenção do jovem leitor. A autora insere trechos em que o médico Simão Bacamarte faz uma pesquisa usando o Google e a Wikipedia, por exemplo.

Questionada se considera heresia suas interferências diretas no conto machadiano, Klein diz que seu único medo ao adaptar era que o resultado não fosse bom. "Mas não tive nenhum pesadelo envolvendo o Machado de Assis e professores xiitas de literatura", completa.

Leia abaixo a íntegra da entrevista com a autora.

*

Livraria da Folha - Quanto do texto original foi preservado?
Natalia Klein - Preservei muito do original, acho que uns 60, 70%. Respeitei totalmente o fluxo da trama, o que muda são os detalhes. Como "O Alienista" é um livro que possui um humor mais refinado, procurei encontrar formas de deixá-lo mais irreverente e bem mais nonsense em alguns momentos.

Livraria da Folha - Por que este romance e não outro de Machado de Assis?
Klein - Quando fui convidada para participar da coleção, o pedido já era um livro do Machado. O tipo de humor dele --ácido e cheio de sarcasmo-- tem a ver com o humor que eu gosto. Sem contar que "O Alienista" é um dos meus livros preferidos. Li a primeira vez quando tinha uns 12 anos, acho uma história incrível e super bem-humorada.

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Simão Bacamarte é especialista em alienígenas em exemplar recriado
Simão Bacamarte é especialista em alienígenas em exemplar recriado

Livraria da Folha - Quanto tempo levou para adaptar a trama?
Klein - Todos os autores da coleção tiveram cerca de dois meses para adaptar as tramas.

Livraria da Folha - Pretende escrever outro livro neste estilo fantástico?
Klein - Adoraria. Já estou com algumas ideias.

Livraria da Folha - O que consideraria uma heresia alterar nesses clássicos? Sentiu-se praticando uma ao incluir elementos fantásticos na obra?
Klein - Nada é heresia, desde que seja justificado e bem feito. Meu único medo ao adaptar "O Alienista" era que o resultado não fosse bom. Mas não tive nenhum pesadelo envolvendo Machado de Assis e professores xiitas de literatura.

Livraria da Folha - Baseou-se em alguma outra fábula para escrever?
Klein - Para compor "O Alienista Caçador de Mutantes", além do original do Machado de Assis, eu também usei algumas reportagens sobre o E.T. de Varginha e personagens do "X-Men".

Livraria da Folha - Faria o processo inverso de extrair os elementos fantásticos e deixar somente os originais em qual obra?
Klein - Nunca parei pra pensar sobre isso. Mas já pensou se alguém tirasse os elementos fantásticos de "Star Wars"? Ia virar um filme supersério sobre guerra e relações de poder.

 
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