Livraria da Folha

 
05/10/2010 - 20h22

Hélio Costa revela recordes de ibope do "Fantástico", como o "menino da bolha"

ARIADNE ARAÚJO
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
Em 50 textos, leitor acompanha reportagens do ex-correspondente
Em 50 textos, leitor acompanha reportagens do ex-correspondente

Nas noites de domingo, entre os 1970 e 1980, a cara dele na telinha da televisão era garantia de reportagens de tirar o fôlego. Na lista das mais famosas, a campeã na memória dos telespectadores, quem não lembra?, é a incrível história do menino da bolha. Em "Lembranças de um Tempo Fantástico" (Benvirá), livro a meio caminho entre autobiografia e testemunho, o repórter Hélio Costa conta os bastidores desta e de muitas outras reportagens que marcaram época.

Um pouco da vida dele em Barbacena, Minas Gerais, mas principalmente retratos, perfis, flagrantes do que ele viu e conheceu enquanto corria o mundo como repórter internacional - esteve em 73 países e cobriu conflitos em El Salvador, Nicarágua e no Oriente Médio. Nesta longa estrada, ele colecionou histórias de vida que não couberam nos minutos de reportagem, mas se transformaram no que ele chama de "documentos humanos", pérolas para seu livro de lembranças.

A história por trás da história. Hélio Costa abre sua reprise emocional com o drama do menino da bolha e seu mundo de plástico, recorde de audiência no "Fantástico". Mas, suas lembranças trazem outras célebres entrevistas. Por exemplo, Johnny Weissmuller, o homem que lotou cinemas nos idos de 1940 e 1950, com seu grito de guerra de Tarzan. A edição final da reportagem preservou o mito, confessa o repórter, mas na verdade, o aposentado herói das selvas sacou de sua velha garganta "apenas um gemido baixo e rouco, e mais nada".

Pelas páginas do livro, como fotos de um rolo de filme, as histórias são pura imagem: os guerrilheiros latino-americanos na América Central, a morte e o perigo nas coberturas de guerra, a confissão dolorosa de Ted Kennedy sobre o assassinato do irmão, a busca pelo túmulo de Walt Disney, o James Bond do Texas que não tinha as duas mãos, a fama de Pelé na África, e ainda grandes reportagens sobre ciência e saúde.

Destes personagens fantásticos que fizeram ou não parte das reportagens, Hélio Costa diz que "nenhum ficcionista seria capaz de inventá-los, pois têm a grandeza e a fragilidade que só os seres humanos reais costumam ter". Para o repórter, que deixou a profissão para se dedicar à política - foi deputado federal, senador e ministro das telecomunicações do governo Lula -, eles foram companheiros em uma longa peregrinação pelo mundo e fizeram com que essa viagem se tornasse inesquecível.

Leia trecho do livro "Lembranças de um Tempo Fantástico" :

O James Bond do Texas:

Ted Sérios tinha a fama, no Texas, de ser um dos mais competentes detetives particulares dos Estados Unidos. Sua habilidade e rapidez lembravam mesmo alguns heróis que costumamos ver nos seriados da TV americana.

Com um movimento rápido do braço direito ele disparava um tiro certeiro, calibre 22, de uma arma escondida pela manga de seu paletó. A agilidade com as pernas e os braços produziam golpes de karatê de fazer inveja a qualquer campeão do tatame.

Seu carro era um Corvette todo envenenado com pneus de tala larga, que cantavam nas curvas e que, com um movimento brusco, ele invertia a posição do veículo na estrada, no velho estilo dos policiais americanos. A placa do carro dava uma volta completa sobre seu eixo e mostrava outro número com o simples apertar de um botão.

Tudo isso não teria a maior importância se o nosso herói não fosse um homem muito especial. Ted Sérios, o James Bond do Texas, não tinha as duas mãos.

Passamos um dia inteiro com Ted. Ele contou que perdeu as mãos ainda jovem, quando soltava fogos de artifício durante uma festa. Um deles, o mais potente, estourou arrancando suas duas mãos. Essa reportagens serviu de estímulo a muitos brasileiros na mesma situação e que conseguiram sobreviver às barreiras impostas por essa deficiência e encontrar um jeito de vencer e se tornar independente emocional e financeiramente.

O James Bond do Texas mantinha uma regra básica em seu negócio. Criando uma cortina de mistério, ele dizia aos clientes que o procuravam - pelos anúncios que colocava nos jornais locais - que todas as informações básicas do trabalho contratado tinham de ser passadas pelo telefone.

Ele só falaria com o interessado no serviço depois de resolver o caso. Se não resolvesse, não custava nada. Essa era uma maneira de vencer o preconceito. Segundo o nosso James Bond do Texas, se não usasse esse expediente não conseguiria um único trabalho como detetive particular profissional porque não tinha as duas mãos.

 
Voltar ao topo da página