Livraria da Folha

 
08/10/2010 - 21h14

Charme de Claudette Soares provocou ciúmes e briga com Isaura Garcia

da Livraria da Folha

Claudette Soares, desde o início de sua carreira, fez sucesso com as canções de letras maliciosas e românticas. Sempre a frente de seu tempo, conquistou corações com as músicas ousadas e as pernas de fora.

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Após período de aposentadoria, Claudette Soares voltou a cantar
Após período de aposentadoria, Claudette Soares voltou a cantar

Sua briga com Isaurinha Garcia não poderia ter outro motivo senão ciúmes. O marido de Isaurinha, o mulherengo Walter Wanderley, não resistiu aos encantos de Claudette. A cantora também caiu de amores pelo jovem forte e moreno. A fofoca conta que as duas chegaram a sair no tapa.

A história é um dos relatos que marcam a biografia "Claudette Soares: A Bossa Sexy e Romântica", título da "Coleção Aplauso" dedicado à cantora. Da infância às apresentações atuais, o livro é ilustrado com fotografias pessoais e reproduções de jornais da época.

Escrito pelo jornalista Rodrigo Faour, não resgata apenas a trajetória da cantora, mas a história da MPB. Complementam a edição sua discografia e uma série de depoimentos de nomes como Ruy Castro, Jorge Ben Jor, Beth Carvalho, entre outros.

Veja a seguir depoimentos de como ocorreu a briga:

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A Briga com Isaurinha Garcia

Na ausência de fitas k7, os discos que compilavam a parada de sucessos nos anos 1950 e 1960 vendiam que nem água, pois garantiam o divertimento das festinhas familiares. As pessoas arrastavam os móveis, chamavam os amigos e curtiam para valer! Houve vários líderes de conjuntos e orquestras que se especializaram nesse estilo de discos, como o saxofonista Moacyr
Silva e os pianistas Waldir Calmon e... Walter Wanderley.

Admirado por músicos da noite que curtiam um som mais moderno, ele foi se tornando um símbolo da noite paulistana. Na vida pessoal, a partir do final dos anos 1950, ele iniciou um tórrido romance com a famosíssima Isaura Garcia, a única cantora brasileira até então a conseguir projeção nacional sem ter de mudar-se para o Rio de Janeiro. Pois bem, esta união teve ecos na carreira da cantora, pois ele a acompanhava em seus discos na Odeon, fazendo uma curiosa combinação. Ela, uma sambista totalmente tradicional, já com quase 20 anos de carreira, e ele um rapagão alto, bonito, jovem, antenado no que havia de mais sofisticado na música brasileira - seja em repertório e harmonizações.

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Em 1965, a cantora encantava a noite paulistana com a voz sexy
Em 1965, a cantora encantava a noite paulistana com a voz sexy

Tudo estaria às mil maravilhas se Walter não fosse mulherengo e, vez por outra, bebesse além da conta. Por essas e por outras, ele e Isaura viviam às turras. Não era segredo para ninguém que muitas vezes as brigas terminavam em agressões físicas, até porque ela também tinha um temperamento explosivo. Pois nosso pianista-galã não resistiu aos encantos de Claudette (e vice-versa) e acabaram vivendo um romance, em meio às brigas do casamento com Isaurinha.

Tudo começou logo que Claudette se mudou para São Paulo, se hospedando no Hotel Comodoro. Uma bela noite, Pedrinho Mattar foi pegá-la para irem trabalhar, mas como havia mais tempo, ele quis lhe mostrar um "pianista moderno maravilhoso" que tocava no bar daquele hotel. Era Walter. "Quando vi aquele homem de 1m85, que parecia o Antonio Banderas, lindo!!! e tocando daquele jeito aquele piano... fiquei doida", admite, frisando que a verdade é que nove entre dez artistas da época sonhavam em namorá-lo. O encantamento foi recíproco, tanto que ele passou a ir vê-la com frequência na Baiuca. Ela, que não era de ferro, acabou cedendo aos encantos do nosso mestre das teclas.

"É bem verdade que fiquei nervosa, pois já conhecia a sua fama de mulherengo. Mas, como não estava interessada em casar, e sabia que ele vivia brigando com a Isaura, não achava nada de mais termos nossos encontros eventuais. Fora que sempre que a gente saía, ele dizia que a relação deles estava por terminar, que a separação ia sair e tal e coisa", analisa hoje. "Só fico com raiva quando dizem que fui mulher dele, que vivi com ele, que o roubei da Isaura. Isso é tudo mentira", pondera. Dois anos depois, quando Claudette já estava em temporada no Juão Sebastião Bar, eles finalmente fizeram uma temporada juntos. Isto fez Isaurinha ficar mordida, roxa de ciúmes. Começou a bater no ouvido dela que os dois poderiam estar tendo, de fato, um caso.
Aí o bicho pegou.

Esta é uma história que virou lenda: a briga entre Claudette & Isaurinha na porta do Juão. E cada um que conta, aumenta um pouco e exagera. Já foi dito que as duas saíram no tapa, que se engalfinharam na porta da boate, que ela puxou e arrancou um chumaço de seu cabelo, que Claudette foi seguindo Isaura pelo interior da boate, chorando, e se ajoelhou para pedir perdão a ela, que por sua vez se referia à rival como "anã". Mesmo se ter havido pancadaria entre as duas, o que houve no duro já daria umas boas cenas de filme.

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Claudette, de mini-saia entre o quarteto que se apresentava no Hotel Casa Grande, no Guarujá
Claudette, de mini-saia entre o quarteto que se apresentava no Hotel Casa Grande, no Guarujá

"O Pedrinho uma noite me ligou e disse: 'Não venha aqui hoje porque a Isaura disse que vai te matar'. Imagina se eu ia deixar a casa lotada e não iria por causa de uma ameaça dessas. Quando eu chego lá, já vi que ela não estava armada. Virou-se para mim e disse: 'Vim aqui pra te matar!'. E eu: 'Isaura, se eu morrer aqui na porta será uma grande morte, na frente do meu templo, do lugar que eu faço mais sucesso. Pare de palhaçada porque você tem a sua fi lha para criar! Além do mais, eu não divido a casa com o Walter e nós nunca moramos juntos. Até porque moro com pai, mãe e avó. Se você quiser, pode ir até lá comprovar'. E ela: 'Está bem, mas um dia eu te mato!'", diz Claudette, expondo a sua versão dos fatos.

"Ficou aquele clima todo e ela foi embora. Passou um tempo, menos de um mês, e tocou a campainha lá de casa. Minha mãe tomou um susto quando abriu a porta e foi logo até o meu quarto me chamar: 'Vá até lá atender a porta que o assunto é seu... Você começa suas encrencas, então agora vá resolver!'

Quando abro a porta da sala, estava Isaura com a Mônica, a filha dela com o Walter, que devia ter entre oito e dez anos. Assim que me viu, falou: 'Esta mulher aqui é que roubou teu pai de mim. Ela é a causadora! Olhe bem pra ela para você não esquecer'. E a garota, na sua inocência, falou: 'Ah, mãe! Mas ela eu já conheço. A gente já foi tomar sorvete! Já saí com ela e o papai'", relembra hoje, Claudette, aos risos.

"A Isaura ficou tão passada quando a filha disse aquilo que nem quis saber de mais nada, pegou-a pelo braço e saiu em direção ao elevador para sumir dali na mesma hora. E realmente teve um dia que o Walter quis me apresentar à filhinha e a gente saiu para um passeio", diz. Por essa Isaurinha não esperava. Era a gota d'água que faltava para azedar de vez a relação entre as duas divas. Curiosamente, anos antes dos rumores do romance entre Walter e Claudette, Isaura chegou a perguntar à colega como deveria interpretar algumas canções de bossa nova no LP que ia gravar na Odeon acompanhada do marido no órgão. Fã da maior sambista de São Paulo, negou-se a ajudá-la. Disse-lhe que ela já sabia tudo, que não precisava de nada, pois já era uma cantora consagradíssima, com 20 anos de estrada, um nome nacional. "Imagine! O que eu ia ensinar para aquela cantora maravilhosa?", indaga. "Por causa disso acho que no fundo ela gostava de mim como cantora. O que rolava eram ciúmes da parte dela, aliás, com toda razão", admite.

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Claudette Soares: A Bossa Sexy e Romântica
Autor: Rodrigo Faour
Editora: Imprensa Oficial
Páginas: 280
Quanto: R$ 30,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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