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30/10/2010 - 20h09

Político bonito tem mais chance de ganhar eleição

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A afirmação de que a aparência influência o resultado nas urnas não é de grande utilidade para apostar em um vencedor da votação deste domingo --a beleza não é característica marcante em nenhum dos dois candidatos--, mas o aviso pode ser útil, mesmo que seja para eleger o síndico do seu prédio.

Divulgação
Obra traz crônicas bem-humoradas e profundas sobre a vida na Terra
Obra traz crônicas bem-humoradas e profundas sobre a vida na Terra

Segundo pesquisa realizada por cientistas suíços, quando escolhemos um líder --caso não existam outras informações-- cérebro tende a escolher o mais bonito. Essa é uma característica comum em todos os mamíferos sociais, desenvolvida ao longo de milhões de anos, e, por isso, o aspecto físico e o sucesso eleitoral estão relacionados.

Publicado em 2009 pela revista "Science", o artigo "Predicting Elections: Child's Play!" ("Prevendo Eleições: Brincadeira de Criança!", em tradução livre), foi comentado pelo biólogo Fernando Reinach, e um dos idealizadores dos projetos de sequenciamento genômico no Brasil.

O texto faz parte do livro "A Longa Marcha dos Grilos Canibais" (Companhia das Letras, 2010), uma coletânea de artigos curtos e curiosos escritos por Reinach.

Da pré-história à robótica, o volume apresenta descobertas, dilemas, sexo e política de modo criativo e bem-humorado. Leia, abaixo, a crônica na íntegra.

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Por que os políticos fazem plástica antes da eleição

Avaliar membros de sua espécie é uma tarefa importante para os mamíferos sociais, e eles a executam com eficiência. Acreditando nessa habilidade, o Homo sapiens organizou as democracias baseadas no voto universal. Mas existe um problema. Nosso cérebro e o cérebro dos macacos, que deram origem à espécie humana, foram selecionados durante milhões de anos para avaliar membros de nossa espécie com os quais interagíamos diretamente - indivíduos de nossos bandos ou tribos, cujo comportamento observávamos todos os dias e com quem nos comunicávamos constantemente. É dessa maneira que os machos e as fêmeas dominantes são escolhidos e os paramentos sexuais determinados. Selecionar um líder entre candidatos com os quais nunca interagimos é uma novidade para o cérebro humano, e não é tarefa que ele, mesmo educado, faça com facilidade. Se puder escolher, nosso cérebro prefere utilizar poucas informações obtidas em interações diretas. É por isso que os políticos andam pelas ruas cumprimentando o maior número possível de eleitores. Quando forçado a decidir com base em informações indiretas, os mecanismos utilizados pelo cérebro são primitivos e irracionais. A literatura científica está cheia de estudos que comprovam essa tese, mas um trabalho publicado recentemente demonstra quão primitivo é esse mecanismo.

Cientistas suíços selecionaram 57 pares de fotos de candidatos a eleições municipais francesas. Cada par continha uma foto do vencedor e uma do segundo colocado. Os pares foram mostrados para 684 adultos suíços que nunca haviam visto esses políticos. Sem informar quem eram as pessoas e nem mesmo que elas haviam sido candidatas a cargos políticos, os cientistas pediram que os suíços escolhessem o membro do par mais 'competente' e 'confiável'. Em 70% dos casos, o candidato avaliado como mais 'competente' havia sido o candidato eleito pelos franceses. Se adultos sem nenhuma informação além de uma foto fazem a mesma escolha que os eleitores, isso sugere que os mecanismos empregados para fazer a escolha são primitivos, talvez semelhantes aos utilizados pelas crianças. Para a confirmação dessa hipótese, os mesmos pares de fotos foram apresentados a 681 crianças com idade entre cinco e treze anos. As fotos foram mostradas no contexto de um jogo de computador, no qual as crianças deveriam escolher o melhor capitão para um barco que os guiaria em uma viagem perigosa. Os resultados com as crianças foram os mesmos que os obtidos com os adultos: elas escolheram o vencedor das eleições em 71 % dos casos. Isso sugere que os eleitores elegem seus líderes utilizando os mesmos mecanismos que o cérebro de uma criança usa para avaliar o rosto das pessoas.

Esse experimento é muito semelhante à maneira como os eleitores brasileiros são apresentados a candidatos ao Legislativo. Uma foto e uma frase. Mas o mais interessante é que esse experimento demonstra de forma científica um fato bastante conhecido dos políticos: a imagem da face, como ela aparece nas propagandas, é a principal fonte de informação utilizada por nosso cérebro quando ele é obrigado a fazer escolhas sem os dados da interação direta com o candidato. Não é de espantar que grande parte dos políticos se submeta a operações plásticas com o objetivo de se tornarem mais "competentes".

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"A Longa Marcha dos Grilos Canibais"
Autor: Fernando Reinach
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 400
Quanto: R$ 36,00 (preço promocional)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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