Livraria da Folha

 
01/07/2009 - 11h30

Manuel Bandeira busca objetividade a partir de "Libertinagem"; leia trecho

da Folha Online

Um dos assuntos mais abordados pelos estudiosos da obra da Manuel Bandeira (1886-1968) é a mudança de foco observada a partir de "Libertinagem", obra publicada em 1930, que transparece o esforço do poeta em se tornar mais objetivo, se voltando mais ao mundo exterior.

O conteúdo e as particularidades deste livro, que dá início a um novo estilo utilizado pelo poeta, são alguns dos assuntos abordados pelo professor de literatura brasileira Murilo Marcondes de Moura em "Manuel Bandeira" (Publifolha, 2001), da coleção "Folha Explica".

Ao se concentrar nas principais obras do autor, esta edição também promove um panorama completo da carreira de Bandeira, considerado um dos nomes mais importantes do modernismo brasileiro. Dividido em quatro capítulos, faz uma análise sobre as características das obras e de suas influências, além de oferecer uma cronologia com os lançamentos e fatos mais marcantes.

Leia um trecho de "Manuel Bandeira" que fala sobre a "introdução da vida popular" na poesia do escritor:

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".

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Libertinagem

Reprodução
Livro explica a importância das poesias de Manuel Bandeira
Livro explica a importância das poesias de Manuel Bandeira

A passagem dos três primeiros livros para Libertinagem talvez seja o assunto mais abordado pelos estudiosos do poeta. Lúcia Miguel Pereira se refere a ela como a vitória da "vida exterior sobre a interior", o resultado do "esforço que o poeta fez para sair de si, para se objetivar". O poeta Ribeiro Couto, que foi grande amigo e primeiro biógrafo de Bandeira, enfatiza a importância, para essa objetivação, da vivência no morro do Curvelo, que teria revelado ao poeta "aquilo que a leitura dos grandes livros da humanidade não pode substituir: a rua", com a consequente "introdução da vida popular" em sua poesia.

Bandeira, no Itinerário, confirma: "A rua do Curvelo ensinou-me muitas coisas. Couto foi avisada testemunha disso e sabe que o elemento de humilde cotidiano que começou desde então a se fazer sentir em minha poesia não resultava de nenhuma intenção modernista. Resultou, muito simplesmente, do ambiente do morro do Curvelo".

Comentários análogos se sucederam: da poesia melancólica e elegíaca dos primeiros tempos à poesia do cotidiano; de uma lírica ainda muito subjetiva a outra, mais irônica e distanciada, em que o apego à realidade imediata foi decisivo. Roger Bastide, tendo em mente essa transformação, vê a poesia de Bandeira omo "um manual de saúde dado ao homem desamparado",13 imagem mais ou menos semelhante à utilizada por Yudith Rosenbaum - "inusitada terapêutica", capaz de afastar-se da melancolia inicial pela elaboração positiva das perdas.

Sergio Buarque de Holanda, em texto famoso e essencial,14 parte da mesma firmativa - toda a "trajetória" da poesia de Bandeira consiste na "insistente luta" de "uma consciência irremediavelmente isolada para deixar seu confinamento". E acrescenta, atrelando intimamente experiência pessoal e fazer artístico: esse movimento foi simultâneo "ao aperfeiçoamento progressivo e ao enriquecimento da técnica poética".

A "vida circundante", que o poeta busca conquistar saindo de seu "recolhimento íntimo", a que foi forçado pela doença, "só se deixa captar de modo pleno mediante um recurso à deliberada dissolução dos compassos e medidas tradicionais, à ruptura de todas as convenções formais e estéticas, ao aproveitamento sistemático de quanto até então passara por definitivamente antipoético; o prosaico, o plebeu, o desarmonioso".

Ao considerar, em Bandeira, a busca de "objetividade" e a "liberdade estética" como "rigorosamente correlatos", Sergio Buarque de Holanda situa a obra do poeta no coração do movimento modernista, já que neste o interesse pela realidade brasileira e a pesquisa formal foram simultâneos. O crítico propõe, também, uma das explicações mais convincentes para a "simplicidade" bandeiriana: uma poesia que "aspira a vencer sua própria reclusão e confinamento" jamais se deixaria "seduzir pelos hermetismos e estetismos".

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"Manuel Bandeira"
Autor: Murilo Marcondes de Moura
Editora: Publifolha
Páginas: 104
Quanto: R$ 18,90
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

 
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