DANIELA SILVEIRA
da Livraria da Folha
Na próxima terça-feira, 29, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulga os três vencedores de cada uma das 20 categorias do 51º Prêmio Jabuti. Os ganhadores participarão da cerimônia que premiará o "melhor livro do ano de ficção" e "melhor livro do ano de não ficção" , no dia 4 de novembro, na Sala São Paulo (região central da capital paulista).
Às vésperas da divulgação dos nomes que passarão para a segunda fase da premiação, nove dos dez autores indicados na categoria Infantil se dividem em sentimentos como alegria, surpresa e satisfação.
Para saber mais sobre as obras finalistas, a Livraria da Folha conversou com os escritores e perguntou sobre suas expectativas para o prêmio.
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Lista dos finalistas na categoria Infantil
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Veja a opinião dos autores finalistas.
Leticia Wierzchowski
Divulgação |
História de um elegante felino que se casa com uma bruxa moderna |
Como você sintetizaria "Era Outra Vez um Gato Xadrez"?
Leticia - Bem, o livro nasceu das histórias que conto para meu filho mais velho, João. Meu pai contava para nós uma história de bruxa que ele mesmo inventara, e que caiu no nosso gosto de tal forma que minhas duas irmãs e eu lembramos da história inteirinha até hoje. Eu contava essa mesma história para o João, sempre com o mesmo prólogo: "essa é a história da bruxa que o vovô inventou". Até que, uma noite, meu filho propôs: "mãe, você inventa histórias, né? Por que não inventa uma história de bruxa pra ti?". Assim, resolvi contar minha história a começar pelo gato. E veio a história do gato xadrez, um felino culto e elegante, que se casa com uma bruxa moderna e que adora internet. Para sintetizar o livro, e não a sua gênese, "Era Outra Vez um Gato Xadrez" é a história de um gato que amava poesia, mas que detestava seu pelo. Em busca de mudar sua aparência, ele viaja meio mundo e acaba conhecendo uma bruxa maluquinha que vive no alto de uma montanha. Talvez seja uma história de amor para crianças.
Ficou surpresa com a indicação?
Leticia - Surpresa não seria a palavra. Fiquei foi feliz mesmo.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Leticia - Já tive um livro infantil indicado ao Jabuti antes ("Todas as Coisas Querem Ser Outras Coisas", ed. Record) e não ganhei. Então, não sei se ganharei dessa vez e, no final, ganhar não importa tanto assim. Ao menos, estou no caminho certo. Ademais, os jabutis andam devagar. Talvez daqui a alguns anos ele chegue até mim.
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Adriana Falcão
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Escritora ficou "muito surpresa e feliz da vida" com a indicação |
Como você sintetizaria "Sete Histórias para Contar"?
Adriana - São histórias que eu colecionei durante o tempo em que contava histórias para as minhas filhas dormirem. Agora elas já estão com 30, 19 e 17 anos, e, em dezembro próximo, eu já vou ter uma neta para botar para dormir contando essas e outras histórias.
Ficou surpresa com a indicação?
Adriana - Fiquei muito surpresa e feliz da vida.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Adriana - Acho que não. Talvez uma única história caracterizasse mais um livro infantil. Esse talvez esteja mais para um "livro de contos".
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Luiz Antonio
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Em "Minhas Contas", Luiz Antonio discute preconceito e intolerância religiosa |
Como você sintetizaria "Minhas Contas"?
Luiz Antonio - Dois amigos são proibidos de brincar por terem religiões diferentes. Nei, o personagem principal, fica confuso com essa situação. E acaba partindo em busca de respostas para seu problema. "Minhas Contas" é um livro sobre amizade. Mas também sobre liberdade, liberdade de escolha. É uma história que toca em um assunto muito profundo e delicado, que é a intolerância religiosa. Principalmente a intolerância em relação às religiões de matriz africana, como o candomblé. Mas tudo sob o ponto de vista de uma criança que, no fundo, só quer saber de brincar e bagunçar.
Ficou surpreso com a indicação?
Luiz Antonio - Quem não ficaria? O Prêmio Jabuti é o mais disputado e um dos mais queridos prêmios da literatura nacional. Lembro de ainda criança ouvir falar no prêmio e me divertir com o nome dele, Jabuti. Acho que até o mais experiente dos escritores se surpreende ao ler seu nome nessa lista. Mas mais do que surpreso, fiquei orgulhoso da obra. O livro é finalista em três categorias, contando a de ilustração, graças ao ótimo trabalho do Daniel Kondo.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Luiz Antonio - Posso ser sincero? Não faço a menor ideia.
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Ellen Pestili
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Para escritora Ellen Pestili, o livro "é uma visão poética do rio São Francisco" |
Como você sintetizaria "Alma de Rio"?
Ellen - O livro "Alma de Rio" é uma visão poética do rio São Francisco. Rio importante tanto para toda a população de humanos que em volta vive, como para a fauna e flora ali contida. Nas páginas do livro, o corpo sente o rio. A cabeça, as pernas, os pés, as mãos, e o coração manifestam suas emoções ao ter contato com as águas do rio.
Ficou surpresa com a indicação?
Ellen - Sim! Não esperava.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Ellen - Acredito no livro, acredito no poema e acredito nas ilustrações. Mas sei que outros também têm força. Estou na torcida!
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Hermes Bernardi Jr.
Divulgação |
Neste poema-brincadeira, Hermes Bernardi Jr. utiliza elementos reais e imaginários |
Como você sintetizaria "E um Rinoceronte Dobrado"?
Hermes - Um poema-brincadeira no qual passeio nos campos do possível e do impossível, entre elementos leves e pesados, grandes e pequenos, reais e imaginários. Tudo colocado dentro de uma caixa de sapatos--a representação da infância--repleta de imagens sobrepostas que se alternam involuntariamente, tal qual o pensamento infantil que, num lapso de segundos, transita do real ao surreal e faz mais poética a vida.
Ficou surpreso com a indicação?
Hermes - É da natureza defensiva dos seres rígidos camuflar Poesia sob seus cascos para estrategicamente nos surpreenderem, revelando-a quando mais necessitamos dela. Apesar de estar andando sobre "toneladas" de alegria, pois essa indicação vem da crítica especializada, vasculha-me a auto-exigência quanto à produção futura.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Hermes - Se eu pensar que não tenho chances minha escolha pelo ofício de escrever para crianças terá sido um enorme equívoco. Desacreditar é poluir a fonte, suponho. Como já disse Paulo Freire, a desesperança não é maneira de estar sendo natural do ser humano.
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Livro de Braulio Tavares é inspirado em lendas indígenas sobre a criação do mundo |
Como você sintetizaria "A Invenção do Mundo pelo Deus-Curumim"?
Braulio - Meu livro é uma história inspirada em algumas lendas indígenas sobre a criação do mundo. Peguei alguns elementos soltos destas lendas e os misturei com coisas que eu mesmo inventei. A ideia é que Deus é um indiozinho que vive na aldeia e a mãe o proíbe de abrir um coco que fica guardado na oca. Ele desobedece, e começam a sair de dentro do coco uma porção de coisas que acabam formando o mundo como nós o conhecemos.
Ficou surpreso com a indicação?
Braulio - Quando a gente publica um livro, sempre acha que ele é bom, que as pessoas vão gostar, e que vão ver nele os mesmos méritos que a gente vê. Se o livro é indicado para um prêmio, o autor geralmente acha isto normal, porque vê qualidades no livro.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Braulio - Para mim a indicação já é um belo reconhecimento. Claro que se vencer é melhor ainda, mas acho que todos os indicados têm chances iguais.
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Fernando Vilela
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Escrito e ilustrado por Fernando Vilela, "Comilança" se passa na Amazônia |
Como você sintetizaria "Comilança"?
Fernando - É uma história que se passa na floresta amazônica, que tem um aspecto lúdico e trágico de animais que se devoram em uma cadeia alimentar. Mas tem um aspecto surpreendente no desfecho dela. É um livro totalmente ilustrado, no qual o texto e a ilustração estão em um diálogo íntimo. Um complementa o outro, um ajuda o outro a contar a história.
Ficou surpreso com a indicação?
Fernando - Este é um livro que eu gosto muito e que é muito bem recebido tanto pelos adultos quanto pelas crianças, então eu fiquei feliz com a indicação.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Fernando - Isso eu não sei te dizer. A gente não sabe quais são os critérios dos jurados, mas eu acho que a pré-seleção foi muito boa e eles [os livros indicados] estão em pé de igualdade. Então, qualquer um que ganhar será merecido.
Mas você acha que tem chance de ganhar?
Fernando - Eu acho que tem. A gente tem que achar, não é? (risos).
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Maria Valéria Rezende
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Escritora Maria Valéria Rezende se inspirou nos haicais japoneses para escrever o livro |
Como você sintetizaria "No Risco do Caracol"?
Maria Valéria - É um livro feito para qualquer idade, que foi inspirado nos haicais japoneses --pequeno poema de três linhas inventado pelos poetas japoneses. Só que eu fiz os haicais encadeados. O último verso de uma página é o primeiro verso da página seguinte. E dentro da tradição do haicai, na verdade, é uma referência ao ciclo do inverno e do verão no Nordeste do Brasil. De maneira que é um livro circular. Você pode começar a ler em qualquer página, dar a volta e ele faz sentido, porque é justamente a ideia de que não tem nem começo, nem meio, nem fim. É uma história que acompanha o que acontece todos os anos no inverno e no verão.
Ficou surpresa com a indicação?
Maria Valéria - Fiquei surpresa, porque não sabia que ele [o livro] estava inscrito [para concorrer ao Prêmio Jabuti]. Nem imaginava. Comecei a receber parabéns por email sem nem saber por quê. Aí eu descobri.
Acha que suas chances de vencer são grandes?
Maria Valéria - Olha, não faço a menor ideia. Não conheço as outras obras que estão concorrendo. Realmente, não acompanhei muito os critérios, então, não sei. Fiquei surpresa por ter sido indicada.
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Alberto Martins
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História busca confrontar o horror de uma sociedade escravagista |
Como você sintetizaria "A História de Biruta"?
Alberto - Bem, por um lado tenho vontade de dizer que ela já foi sintetizada e o produto da síntese é o próprio livro. Por outro, entendo o que você quer dizer. Penso que se trata de uma história que procura confrontar o horror de uma sociedade escravagista, vista pelos olhos de um cachorro "diferente, engraçado", que "por fora, abanava a cauda / e mostrava os dentes; / mas, por dentro, pensava / e falava que nem gente".
Ficou surpresa com a indicação? Acha que suas chances de vencer são grandes?
Alberto - Quanto às perguntas 2 e 3, sinceramente, acho que elas não têm real interesse e eu mesmo não pensei a esse respeito.