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08/10/2009 - 19h23

Astro da série "American Chopper" dá lições de administração; leia trecho

da Folha Online

Inicialmente uma espécie de reality show que mostrava a criação e a construção de motocicletas customizadas, a bem-sucedida série "American Chopper" ficou famosa pelas homéricas brigas travadas entre Paul Teutul Senior e seu filho, Paul Teutul. Em pouco tempo, as "obras de arte motorizadas" produzidas pela equipe do Orange County Choppers ficaram internacionalmente conhecidas e a sigla OCC ganhou ares de grife.

Divulgação
Paul Senior, sentado na moto, resolveu contar sua experiência como administrador em livro
Paul Senior, sentado na moto, resolveu contar sua experiência como administrador em livro

Um lado que as câmeras não revelam com a mesma presteza, no entanto, é a habilidade com que Paul Senior conduziu o seu negócio e capitalizou a exposição midiática. Temporada após temporada --o programa já está na 6ª--, foi possível observar o crescimento da oficina e a modernização das instalações. O sucesso foi tão grande que o patriarca resolveu passar adiante o que aprendeu sobre administrar o seu próprio negócio.

Em "Minha Vida Sobre Duas Rodas" (Alta Books, 2009), que conta com prefácio do célebre apresentador de "talk show" David Letterman, o motociclista revela dificuldades e obstáculos pelos quais passou e enumera as atitudes que julga essenciais para administrar uma empresa com eficiência. Entre os tópicos, o autor escreve sobre a paixão pelo trabalho, reputação, organização, confiança, fornecedores e os desafios das empresas familiares.

Leia a seguir um trecho do primeiro capítulo do livro onde Paul Senior relata como superou problemas com álcool e drogas e como descobriu sua verdadeira vocação profissional:

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CAPÍTULO 1: ESCOLHAS

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Na obra, o autor revela as atitudes que o levaram a obter sucesso
Na obra, o autor revela as atitudes que o levaram a obter sucesso

Caso queira extrair uma lição deste livro, eis a sugestão: o passado não dita o futuro. Quanto mais cedo você se conscientizar de que a vida oferece escolhas, e que, se fizer escolhas certas desde o princípio, mais rápido irá alcançar o sucesso. A vida e os negócios me ensinaram muitas lições. Se tivesse percebido que sempre haveria novas escolhas, ou seja, que não precisaria manter um contrato com o passado, teria sido mais bem-sucedido muito mais cedo.

Logo, se escolheu este livro porque tem um pequeno negócio, ou porque está pensando em abrir seu próprio negócio, ou ainda se está meio frustrado porque seu negócio não se tornou o sucesso esperado e acha que voltará a cometer os mesmos erros, preste atenção: as coisas podem mudar. Você tem escolhas, assim como eu tive ao longo desses últimos trinta surpreendentes anos.

Na verdade, se eu selecionasse uma palavra - ou tema, se preferir - ou descrevesse minha vida - o começo, a evolução e o que finalmente se tornou - seria "escolhas".

Quando eu era criança, não pude fazer escolhas. Nenhuma. Nada. Isso aí. Meu pai decidia tudo por nós em todos os aspectos de nossa vida. Ele decidia a hora de acordar, o que seria o café da manhã, e a hora de nos recolher. Nesse meio tempo, apenas algumas poucas escolhas. Na loja de roupas escolares, meu pai as escolhia. Ele dizia: "Estou comprando o par de sapatos que você irá usar."

Mesmo quando comecei a ganhar meu próprio dinheiro, meu pai continuou a ditar minhas compras. Meu primeiro carro, por exemplo, foi um Dodge Dart 1964 com máquina Slant-Six. Eu o odiava, o achava o carro mais feio do mundo. Queria um modelo veloz e moderno, como um Chevy 55 ou 56, mas meu pai não me deixava comprar. E em casa também, o que ele dizia era para ser ouvido e obedecido.

Quando amadureci, minhas escolhas não mudaram muito, continuaram limitadas, principalmente por causa da minha criação, do ambiente em que vivi e da minha autoestima. Acho que ninguém, nem mesmo eu, nutria grandes expectativas com relação à mim. Minha infância me preparou para dois destinos, a morte ou a prisão, especialmente devido ao ambiente; e foi, para minha tristeza, o destino de vários amigos. E pior, acreditei por muito tempo que não haveria saída para aquele caminho.

Somente quando descobri que o mundo oferecia muitas escolhas é que minha vida começou a mudar. Escolhas quanto a quem eu era, em que acreditava e os rumos que poderia tomar. Notei que as possibilidades de sucesso, na vida pessoal e no trabalho, estariam limitadas apenas por minha própria energia, ambição e disposição. Disposição nunca foi um problema para mim. Sempre trabalhei muito. O diferencial foi perceber que poderia traçar um caminho em direção às metas e aos sonhos que me eram caros. Mas estou me adiantando.

Direi com sinceridade que qualquer um poderá superar as surpresas que a vida traz porque fiz isso toda a minha vida: surpreender e superar expectativas alheias e minhas próprias, no início. Acho que não estarei exagerando se disser que a vida me derrubou várias vezes, mas sempre consegui me levantar e dar um passo após o outro. E fui, em geral, recompensado.

Sem chance

Por que a vida me negou uma chance por tanto tempo? Desde o meu nascimento - 1º de maio de 1949 - em Yonkers, Nova Iorque, ninguém nunca esperou muito de mim. Meus pais, meus professores, nem qualquer outra pessoa do meu círculo. Minha infância foi bastante anormal e violenta. No ambiente doméstico, minha mãe costumava diminuir meu pai, que descontava em mim e em minhas quatro irmãs sua frustração. Era horrível.

Não existia apoio em nossa casa. Não foi uma experiência amorosa. Havia somente raiva. Nunca se ouvia "eu te amo". A palavra "amor" nunca era proferida. O que devia ser feito era na força bruta. E quando meus pais se enganavam ou nos batia, não havia "desculpe-me".

É claro que, crescendo nesse ambiente, naturalmente me tornei um pouco rebelde; não aceitava as regras escolares ou sociais. Esse tipo de criação impede que se atine para o que seja "normal". Você desconhece o jeito de outras famílias e acha que a sua é que é diferente. Você quer simplesmente chegar ao fim de mais um dia.

Quanto a modelos, a única pessoa que posso dizer que me inspirou quando criança - porque eu nunca admirei meus pais - foi meu Tio Emil. Mas mesmo ele, passava longe do modelo ideal se comparado com os tipos de pessoas que são, em geral, consideradas uma influência positiva na vida de uma criança. Tio Emil jogava e bebia. No entanto, demonstrava um interesse real por mim e isso era muito em comparação com as outras pessoas que povoavam minha vida. Mas ele não ficou para o final da história. Tio Emil morreu quando eu tinha sete anos, durante um acidente de carro quando apostadores a quem devia dinheiro o perseguiam. Estava bêbado, e seu carro capotou. Foi o maior trauma da minha vida naquela altura.

A melhor lembrança que tenho do Tio Emil é que construíamos juntos modelos em escala reduzida - em geral carros e bimotores militares antigos. Ele preferia os aviões; e eram verdadeiros modelos, diferentes dos tipos vendidos hoje em dia com peças que apenas se encaixam. Os modelos tinham um monte de pecinhas pequeninas que tinham de ser pacientemente casadas. E, antes de encaixar, era preciso lixar as bordas de cada uma e pintar. Às vezes, era necessário colar parte dos componentes do motor.

Era só uma brincadeira na época, mas, pela primeira vez, senti orgulho do meu trabalho e prestei atenção a detalhes. Construir aqueles modelos foi também a minha primeira paixão. Percebi isso apenas recentemente, mas é verdade.

Rei dos trabalhos manuais

Por total falta de estímulo de minha família, quando fiquei mais velho, nunca fui um aluno exemplar. E, como outros garotos problemáticos dos anos 50 e 60, fui empurrado para as aulas de trabalhos manuais. As escolas de Nova Iorque tem um nome engraçado para essas aulas: Bureau of Cooperative Educational Services (BOCES) [Departamento de Serviços Educacionais Cooperativos]. Eram, na verdade, trabalhos manuais, o destino dos alunos que não tinham mais jeito.

Não aprendi muito lá, exceto como roubar o lanche do armário de outros meninos. Mas aprendi a soldar, uma habilidade que, mais tarde, me ajudou a abrir meu primeiro negócio. Além da soldagem, o que a escola me oferecia era uma oportunidade de me divertir com os amigos e de circular entre mulheres bonitas. Fora isso, considerava aquilo uma total perda de tempo.

Quando cheguei aos dez anos, meu interesse em modelos de aviões em escala foi substituído por um crescente interesse em carros. Podia provavelmente identificar três quartos dos carros que circulavam. Apenas os faróis dianteiros já eram o suficiente. À distância de um quarteirão, era capaz de dizer a diferença entre um Ford 55 e um 56, ou entre um Olds 53 e um Buick Roadmaster.

Meu interesse por carros se transformaria na paixão que me nutre agora, mas na hora você não tem consciência de nada. E, recordando aquela época, não mencionaria ninguém que pudesse confirmar honestamente que tivesse percebido que meu interesse por carros apoio ou estímulo à minha excelência em qualquer assunto que me importasse ou interessasse, era considerado um hobby passageiro.

Porém, a vida nos prega peças e uma das razões que aponto como decisiva em meu sucesso é que apesar de não ter tido grandes ambições desde cedo, sempre trabalhei duro desde os 10 ou 11 anos - trabalho manual pesado, em geral. Quando não estava na escola, estava trabalhando para meus pais em casa, em serviços braçais. Meu avô também gostava de me manter ocupado. Sempre que podia me dava uma pá ou picareta para que fizesse trabalhos em sua casa.

Sempre me ocupei durante o ensino médio. Trabalhei em alguns postos de gasolina. Durante o verão, trabalhava para uma companhia de mudanças. Mas não era movido por nenhum princípio ético inabalável. Meus pais nunca disseram: "Filho, o trabalho enobrece o homem" ou "Será o seu sustento algum dia." Trabalhava porque me orgulhava de trabalhar duro. Mas a real razão de tanto trabalho era que enquanto morei com meus pais e já tinha idade para o trabalho, tive de pagar aluguel. Gostaria de ter uma razão mais nobre e profunda, ou mais significativa, mas não havia. Estava apenas fazendo a minha parte.

Parece um pouco sórdido, mas tenho orgulho de dizer que nunca ninguém me deu nada, tudo que obtive na vida veio do meu próprio trabalho e suor. Se aparecesse com um carro, era porque tinha trabalhado duro, economizado e comprado integralmente com minhas economias.

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"Minha Vida Sobre Duas Rodas"
Autor: Paul Teutul
Editora: Alta Books
Páginas: 208
Quanto: R$ 44,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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