Livraria da Folha

 
14/09/2009 - 15h25

Autores adaptam clássicos da literatura mundial para o cordel

GUILHERME SOLARI
Colaboração para a Livraria da Folha

A literatura de cordel é um tipo de poesia popular rimada típica do nordeste brasileiro. Inicialmente oral, essa forma passou a ser publicada em folhetos rústicos de papel jornal que eram expostos para a venda em cordas, ou cordéis. A força dessa expressão popular inspirou obras de outros gêneros, como a peça "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna. Mas longe de ser uma tradição estacionada, os cordelistas presentes na Primavera dos Livros, em São Paulo, mostraram que essa forma tradicional continua muito viva e se reinventando a cada momento.

Uma das principais novidades dessa nova onda cordelista é a adaptação de grandes clássicos da literatura mundial para o cordel. Não deixa de ser curioso encontrar versões de "A Megera Domada", do saxão William Shakespeare, ou até a ficção científica "Viagem ao Centro da Terra", de Julio Verne, transpostas para esse formato tipicamente nordestino.

Se a maioria dos autores utilizava apenas os enredos dessas grandes obras para o formato métrico e rimado do cordel, alguns se aventuram a transpor esses clássicos para a realidade nordestina. É o caso do cordelista João Gomes de Sá, que recentemente fez uma versão de "O Corcunda de Notre Dame", do francês Vitor Hugo, ambientada no sertão, retirando a pesada atmosfera gótica do original para colocar um pouco do gostinho tropical à narrativa. O autor conta ainda como no livro "Alice no País das Maravilhas em Cordel", que será lançado em breve, ele até mesmo incluiu frutas e animais característicos do nordeste dentro da famosa história de Lewis Carrol.

"Na história, a Alice vai atrás de um coelho engravatado e cai em um buraco, e eu coloco que ela caiu em uma cacimba (poço artesanal), que é algo regional, próximo da gente", contou Gomes de Sá. Essa tradição de dar um "tempero nordestino" pode ser encontrada em muitos outros assuntos cotidianos. "O cordel sempre divulgou temas atuais", disse o autor. Ele aponta como os poetas no nordeste tiraram sarro do "e que tudo mais vá para o inferno" de Roberto Carlos escrevendo na época um cordel no qual Satanás pedia que o cantor parasse de mandar gente para as profundezas, que já estava lotada. Com a internet, o cordel ganhou outro grande aliado de divulgação e é possível encontrar na rede poemas retratando a chegada de Michael Jackson ao portão celestial e até sobre a gripe suína.

"São Paulo é a maior cidade nordestina do mundo. E esses milhões de imigrantes trouxeram junto consigo suas histórias, sonhos e tradições", disse o cearense Moreira de Acopiara, que publicou o livro "Medo? Eu hem?" de histórias assustadoras do Brasil e do mundo em cordel. Essa influência está criando interesse entre os editores, que começam a lançar livros de qualidade desse formato que antes era apenas publicado em folhetos de aspecto caseiro, mas sem perder o sabor que torna o cordel um importante patrimônio da nossa cultura.

"A Megera Domada em Cordel"
Adaptação: Marco Haurélio
Editora: Nova Alexandria
Páginas: 48
Quanto: R$ 25,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

"Viagem ao Centro da Terra em Cordel"
Adaptação: Costa Senna
Editora: Nova Alexandria
Páginas: 48
Quanto: R$ 25,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

"O Corcunda de Notre Dame em Cordel"
Adaptação: João Gomes de Sá
Editora: Nova Alexandria
Páginas: 48
Quanto: R$ 25,00
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

 
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