Livraria da Folha

 
01/11/2009 - 12h30

Com três filmes na Mostra, Evaldo Mocarzel sugere 10 livros sobre cinema

FABIANA SERAGUSA
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
Evaldo Mocarzel (foto) fala sobre seus livros preferidos sobre cinema
Evaldo Mocarzel (foto) revela seus livros preferidos sobre cinema

O jornalista e cineasta Evaldo Mocarzel, que produziu o premiado "À Margem da Imagem" (2003), assina três trabalhos selecionados para a 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece até 5 de novembro: "BR-3 (ficção)", "BR-3 (documentário)" e "À Margem do Lixo".

Aproveitando a sua experiência no universo cinematográfico, a Livraria da Folha pediu para que Mocarzel revelasse quais são suas dez obras preferidas sobre o assunto.

Veja, abaixo, uma lista com sugestões e comentários sobre cada um dos livros, que mostram desde técnicas para a produção de documentários até a visão de grandes diretores de cinema.

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Com organização de Ismail Xavier, esse livro é uma coletânea de textos preciosos sobre a linguagem do cinema, assinados por realizadores e pensadores como Dziga Vertov, Pudovkin, Stan Brakhage, André Bazin, Edgar Morin, Christian Metz, Luis Buñuel e Jean Epstein, entre outros.

Esses dois livros formam uma espécie de legado da chamada Escola Soviética, que inaugurou na História do Cinema uma experimentação na montagem até hoje moderníssima, mesmo tendo tido seu apogeu nos anos 20. O genial Eisenstein analisou os princípios da montagem inspirando-se nos ideogramas japoneses.

Outro legado de mais um mestre seminal da arte cinematográfica, que tentou "esculpir o tempo" em seus filmes com longos planos-sequência coalhados de filetes de água que não param de escorrer, como o rio de Heráclito.

Para jovens documentaristas, que acreditam na possibilidade de flagrar a "realidade" na primeira esquina, graças às novas tecnologias digitais, leitura obrigatória. Nichols disseca a linguagem do filme documentário em seis modos de representação do "real": expositivo, observacional, participativo, reflexivo, poético e performático.

Um belo passeio pela trajetória do filme documentário, com direito a clarividentes análises de obras experimentais assinadas por realizadores como Jorge Furtado e Arthur Omar.

Um dos mais importantes tratados filosóficos sobre a linguagem do cinema, com assinatura do escritor e documentarista que foi editor da "Cahiers du Cinéma" em sua fase maoísta. Com destaque para textos seminais como "Sob o Risco do Real" e "Como Filmar o Inimigo", entre outros. Outra leitura mais que obrigatória para jovens documentaristas.

Esse livro é um marco no país que, como sugere o próprio título, analisa a representação que realizadores fazem dessa entidade tão misteriosa que é o "povo brasileiro". Com a assinatura do mestre Jean-Claude, que, com seu rigor por vezes ácido, inventiva as nossas "romantizações" com uma generosidade cada vez mais rara no Brasil.

Com tradução assinada por Brigitte Riberolle e por mim (Evaldo Mocarzel), esse livrou mudou a minha vida e é uma espécie de bíblia sobre as especificidades da linguagem do cinema. Uma aula de rigor artístico assinada pelo mestre Bresson, guru de realizadores como Jean-Luc Godard e Abbas Kiarostami. Para Bresson, que jamais se deixou levar pelas rotinas materiais do seu ofício, a arte cinematográfica é sobretudo um espaço de revelação, através do qual podemos vislumbrar momentos de epifania, de manifestação divina, em situações aparentemente banais do cotidiano.

Uma reflexão muito interessante do dramaturgo e cineasta David Mamet, para quem um dos grandes males do cinema contemporâneo foi a invenção da steadycam. Como afirma com muita clarividência, quem conta a história no cinema é o corte. Cineastas que não sabem cortar, decupar, o que fazem? Colocam seus fotógrafos, munidos de steadycam, acompanhando os personagens pelas ruas de maneira tediosa, justamente porque não sabem construir planos.

 
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