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12/11/2009 - 12h00

Séries teens dominam lista de mais vendidos; leia trecho de "Para Sempre"

da Folha Online

Editoras parecem ter descoberto um novo filão de mercado: as séries de livros. Histórias que se prolongam por, no mínimo, três volumes e fazem com que o leitor aguarde ansiosamente pelo próximo lançamento.

Normalmente voltadas para o público adolescente e, especialmente, o feminino, estas coleções narram histórias de amor e conflitos da fase mais conturbada da vida. Meg Cabot, Stephenie Meyer, L. J. Smith e outras preenchem as prateleiras das livrarias e as listas de mais vendidos.

A série "Crepúsculo", de Stephenie, adicionou com seu sucesso um novo elemento a estes romances: o sobrenatural. Vampiros, fantasmas, lobisomens, bruxas e outros seres dividem os problemas deste estranho mundo com as dificuldades de adolescentes comuns. os livro da série estão há várias semanas na lista de mais vendidos.

As autoras são transformadas em ídolos pop pelas suas fãs, gerando comoção, como quando Meg Cabot -- autora da série "Diário da Princesa" -- esteve na Bienal do Rio de Janeiro este ano.

Divulgação
Jovem recebe estranhos dons após acidente de carro em série teen
Jovem recebe estranhos dons após acidente de carro em série teen

Seguindo por este caminho, chega ao Brasil, trazido pela Intrínseca, outro destes best-sellers. "Para Sempre", de Alyson Nöel, é o primeiro volume da série "Os Imortais". A personagem principal é Ever Bloom, uma típica garota popular do colégio que perde sua família em um acidente de carro. Única sobrevivente, descobre ao acordar que adquiriu dons que permitem que ela veja a aura das pessoas, leia pensamentos e descubra a vida dos outros com um simples toque. Apenas Damen, rapaz novo na escola, é imune a estes poderes e Ever acaba se apaixonando por ele.

Lançando nos Estados Unidos em fevereiro de 2009, alcançou rapidamente os primeiros lugares das listas de mais vendidos. O segundo volume "Lua Azul" chegou ao mercado norte-americano em julho deste ano e a tradução para o português já está sendo preparada. Com tanto sucesso, o terceiro volume é aguardado pelos fãs e Nöel assinou contrato para produzir mais três volumes no ano que vem.

Leia o primeiro capítulo de "Para Sempre" :

*

- Adivinha!

As mãos quentes e úmidas de Haven apertam minhas bochechas, e seu anel, um crânio de prata escurecido, deixa uma marca de sujeira sobre minha pele. E mesmo que meus olhos estejam cobertos e fechados, sei que os cabelos dela, tingidos de preto, estão partidos ao meio; um espartilho de vinil preto se sobrepõe a uma blusa de gola rulê - mantendo-se em conformidade com o código de vestimenta de nossa escola; a saia comprida de cetim preto, apesar de nova, já tem um furo próximo à bainha, de quando ela pisou com o bico das botas Doc Martens; os olhos parecem dourados, mas só porque ela está usando lentes de contato amarelas.

Também sei que o pai dela não está viajando "a trabalho", como ele mesmo disse; que o personal trainer de sua mãe é muito mais "personal" que "trainer" e que o irmão caçula quebrou um CD dela, do Evanescence, e agora está com medo de contar.

Mas não sei isso tudo porque andei bisbilhotando a vida dela, nem porque alguém me contou. Sei porque tenho poderes sobrenaturais.

- Anda logo, adivinha! Daqui a pouco o sinal vai tocar! - ela diz com a voz rouca, como se fumasse um maço de cigarros por dia, embora só tenha tentado fumar uma vez.

Enrolo um pouco enquanto penso na última pessoa com quem ela gostaria de ser confundida.

- Hilary Duff?

- Eca! Vai, tenta de novo. - Ela aperta ainda mais forte, nem sequer desconfiando de que não preciso ver para saber.

- Será a sra. Marilyn Manson?

Ela ri e desencosta as mãos, e então lambe o polegar para apagar a tatuagem de sujeira em minha bochecha, mas levanto o braço antes que ela possa me alcançar. Não porque tenha nojo da saliva dela (quer dizer, sei que Haven não tem doença nenhuma), mas porque não quero que encoste em mim novamente. O toque humano é muito revelador, muito cansativo, então procuro evitá-lo a todo o custo.

Com um gesto rápido, ela tira o capuz de minha cabeça e aperta os olhos ao ver meus fones de ouvido.

- O que você está ouvindo?

Levo a mão ao bolsinho para iPod que costurei no capuz de todos os meus moletons (para esconder dos professores os tão conhecidos fiozinhos brancos) e entrego a ela o aparelho.

- Puxa... - ela diz com os olhos arregalados. - Quer dizer, que barulheira é essa? Quem é que está cantando isso?

Haven se curva para que nós duas possamos ouvir Sid Vicious berrando sobre a anarquia no Reino Unido. Na verdade, nem sei se ele é a favor ou contra. Sei apenas que berra o suficiente para dar uma acalmada em meus supersentidos.

- Sex Pistols - respondo, desligando o iPod e guardando-o de volta no esconderijo.

- Nem sei como você pôde me ouvir. - Haven sorri ao mesmo tempo que o sinal toca.

Simplesmente dou de ombros. Não preciso escutar para ouvir.

Claro, não é isso que digo a ela. Falo apenas que a gente vai se ver de novo na hora do almoço e vou para minha aula, atravessando o campus da escola e encolhendo-me ao intuir os dois garotos que se aproximam pelas costas de Haven e pisam a bainha da saia dela - por pouco não a fazem cair. Mas quando ela se vira para trás, faz o sinal do Mal (certo, não é o sinal do Mal, mas algo que ela mesma inventou) e os encara com aqueles olhos amarelos, eles imediatamente se afastam e a deixam em paz. Quanto a mim, suspiro aliviada e entro na sala de aula, sabendo que não vai demorar muito até que eu deixe de sentir a energia persistente do toque de Haven.

A caminho de minha carteira, no fundo da sala, desvio-me da bolsa que Stacia Miller deixou de propósito em meu caminho e ignoro a serenata - "Per-de-do-ra!" - que ela diariamente sussurra ao me ver. Em seguida, acomodo-me na carteira, tiro livro, caderno e caneta da mochila, coloco os fones de ouvido, visto o capuz, jogo a mochila na carteira vazia a meu lado e espero pela chegada do sr. Robins.

O sr. Robins está sempre atrasado. Sobretudo porque gosta de tomar uns goles de seu cantil de prata entre uma aula e outra. Mas bebe apenas porque a mulher grita com ele o tempo todo, a filha o considera um fracassado e ele, quase sempre, detesta a própria vida. Descobri tudo isso em meu primeiro dia nesta escola, quando acidentalmente toquei na mão dele ao entregar o formulário de transferência. Agora, portanto, sempre que tenho de lhe entregar algo, deixo na beirada da mesa.

Fecho os olhos e espero, enquanto meus dedos deslizam pelo moletom, a fim de trocar o barulhento Sid Vicious por algo mais leve, mais tranquilo. A gritaria de Sid não é mais necessária agora que estou na sala de aula. Acho que a relação entre professor e alunos ajuda a conter, pelo menos até certo ponto, minha energia mediúnica.

Nem sempre fui essa bizarrice que sou hoje. Já fui uma adolescente normal, do tipo que ia às festinhas da escola, se apaixonava por celebridades e tinha tanto orgulho dos cabelos louros que jamais pensaria em prendê-los num rabo de cavalo ou escondê-los sob um capuz. Eu tinha mãe, pai, uma irmã caçula chamada Riley e uma cadela labrador amarela, fofíssima, de nome Buttercup. Morava numa casa agradável, num bairro bacana de Eugene, no Oregon. Era popular, feliz e mal podia esperar para chegar ao segundo ano, pois tinha acabado de me tornar chefe de torcida da principal equipe da escola. Minha vida era completa, e o céu era o limite. Essa história de céu pode ser um tanto gasta, mas, no meu caso, ironicamente, é também a mais pura verdade.

No entanto, sei tudo isso apenas por ouvir dizer, pois desde o acidente só me lembro claramente de uma coisa: eu morri.

Tive o que as pessoas chamam de "experiência de quase-morte", ou EQM. Acontece que as pessoas estão erradas. Podem acreditar, não houve nada de "quase" no que me aconteceu. Foi assim: num instante, Riley e eu estávamos no banco de trás do SUV do papai, Buttercup com a cabeça pousada no colo de minha irmã e o rabo batendo suavemente em minha perna, e a próxima lembrança... os airbags inflados, o carro inteiramente destruído, e eu lá, assistindo a tudo do lado de fora.

Olhando para os destroços - os estilhaços de vidro, as portas amassadas, o para-choque dianteiro agarrado ao tronco de um pinheiro num abraço letal -, fiquei me perguntando o que poderia ter acontecido de errado, esperando e suplicando que todos tivessem conseguido sair dali como eu. De repente, ouvi um latido familiar; virei para trás e vi minha família seguindo por um caminho, guiada por Buttercup, que abanava o rabo.

Fui ao encontro deles. De início, tentei correr e alcançá-los, mas depois fui mais devagar, querendo me demorar e passear por aquele campo vasto e perfumado de árvores e flores vibrantes que tremeluziam, e apertando os olhos diante da névoa deslumbrante que refletia e brilhava intensamente, iluminando tudo.

Prometi a mim mesma que seria rápido, que logo voltaria para encontrar minha família. Mas, quando enfim olhei, só deu tempo de, num relance, eles sorrirem e acenarem para mim ao atravessarem uma ponte, sumindo de vista pouco depois.

Entrei em pânico. Olhando para todas as direções, comecei a correr de um lado para o outro, mas tudo parecia igual: uma névoa sem fim, tépida, branca, brilhante, iluminada, bonita e estúpida. Então, caí no chão e fiquei ali, morrendo de frio, chorando, gritando, xingando, implorando, fazendo promessas que sabia jamais poder cumprir.

Foi então que ouvi alguém dizer:

- Ever? É esse seu nome? Abra os olhos e olhe para mim.

Aos tropeços, voltei para a superfície, onde tudo era dor e sofrimento, e minha testa porejava de tanta dor, uma dor lancinante. Então olhei fixamente para o sujeito que se curvava sobre mim, dentro de seus olhos escuros, e sussurrei:

- Sim, sou Ever. - E desmaiei outra vez.

*

Para Sempre
Autora: Alyson Noël
Páginas: 204
Quanto: R$ 29,90
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