Livraria da Folha

 
22/11/2009 - 21h15

BALADA LITERÁRIA: Grupo literário "Urros Masculinos" participa da 4ª Balada

PAULA DUME
Colaboração para a Livraria da Folha

Por que um escritor não pode festejar como qualquer outro ser humano um evento literário? E junto com os leitores? Partindo desse pressuposto, o grupo literário "Urros Masculinos" --formado por Artur Rogério, Bruno Piffardini e Wellington de Melo-- decidiram organizar uma festa literária com uma nova faceta. "Subvertemos o conceito de festa literária. A gente quis fazer uma coisa mais irreverente", segundo Melo. E conseguiram. Participando pela primeira vez da Balada Literária, o grupo fez intervenções com leituras. Eles organizaram a primeira Festa Literária do Recife (FreePorto), que ocorreu entre os dia 6 e 8 de novembro, no Recife Antigo, bairro conhecido por sua tradição boêmia.

Melo que veio pela primeira vez a São Paulo achava que a cidade era uma planície. "Quando cheguei, vi que era uma planície estuprada por edifícios", disse. Ele está surpreso com a Balada Literária, organizada pelo escritor Marcelino Freire. Uma das apresentações que mais lhe chamou a atenção foi a que ocorreu na última sexta (20), às 19h, no Sesc Pinheiros, região oeste de São Paulo. O cantor Rubi, a cantora Fabiana Cozza e o pianista Vítor Araújo impressionaram o escritor pernambucano durante o show. "Marcelino é uma daquelas pessoas que não cabem em si. É um esforço muito grande", disse à Livraria da Folha.

Após o "Sarapateliterário", espécie de leilão de manuscritos e originais de escritores em Pernambuco, o grupo anunciou a festa e reverteu todo o dinheiro arrecadado para a organização do evento. Arrecadaram R$ 500,00 só pelo original de "O Amor Não Tem Bons Sentimentos" (2003), de Raimundo Carrero, totalizando R$ 1.100,00 no leilão. Por meio de microparcerias e apoio da iniciativa privada financiaram a FreePorto. Durante a festa lançaram "A Pedra Fundamental da Nova Literatura Brasileira", um bloco de gelo que deixou de existir logo após o irreverente discurso. Batizada como a "Trilogia da Destruição", o animal que simboliza a FreePorto é a raposa, em uma associação irônica à Fliporto, que acontece em Porto de Galinhas (PE).

Este ano houve o nascimento da raposa, ano que vem será o casamento, e em 2011, a morte do animal. "Fizemos uma trilogia para que isso não se transforme num cabide de emprego", explicou Melo. A festa tomou todos os cantos, porque a literatura estava nas ruas, nos bares, nos bate-papos, e até em uma casa da luz vermelha do Recife Antigo onde os escritores lançaram a antologia dos contos e poesias. As garotas não estavam lá e os escritores autografaram os volumes na pista de dança.

Até lançamento de livros houve na FreePorto. Havia uma competição de escritores para arremessarem seus livros na rua. O escritor lançava literalmente seu próprio livro. Um velho macumbeiro e uma raposa --ambos personagens da festa-- faziam as medições. "A gente chamava quem a gente queria ou as pessoas que queriam lançar. Três escritores entraram em contato com a gente", disse Melo. O grande vencedor foi "Matriuska" (2009). Sidney Rocha arremessou seu livro a incríveis 10m89cm. O último lugar (15º) ficou com "Par-Ímpar", de Pedro Américo de Farias, com 2m67cm.

A festa teve mesas, "pula pula pula" --declamações de versos em sacadas nas quais o público gritava a frase para os escritores--, recitais em dupla, FreeCareta --primeira procissão literária-- e "off sinas", com temas absurdos, como a de Marcelino Freire, chamada "Quem Ama, Educa: Como Cuidar do seu Pinguim de Geladeira". "Embora não tivessem tantas mesas, a literatura estava pulsando, porque era uma festa feita por leitores e escritores. O lance da FreePorto é fazer uma festa que você atrai escritores e leitores sem fingir que estão prestando atenção em uma mesa de duas horas", explicou Melo.

 
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