Livraria da Folha

 
01/12/2009 - 15h33

RESSACA LITERÁRIA: João Ubaldo Ribeiro desmistifica seus personagens

PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

Fernanda Grigolin/Divulgação
Marcelino Freire, Rodrigo Lacerda e João Ubaldo Ribeiro durante a Ressaca Literária
Marcelino Freire, Rodrigo Lacerda e João Ubaldo Ribeiro durante a Ressaca Literária

Dez romances, dois livros de contos, dois infantis, sete de crônicas e um de não ficção. Esse sumário literário pertence ao escritor e jornalista baiano João Ubaldo Ribeiro que participou da Ressaca Literária, da 4ª Balada Literária, no último domingo (29), no Sesc Pinheiros.

O escritor Rodrigo Lacerda iniciou o bate-papo destacando a riqueza vocabular e a construção artesanal utilizadas por Ribeiro em sua escrita. Lacerda comentou o anticurso da trama de "O Albatroz Azul" e o questionou se ele previa o recuo na história. "Eu sou muito intuitivo. Dificilmente planejo um livro. Vou escrevendo e as coisas vão surgindo", explicou.

Questionado se ainda se diverte escrevendo, Ribeiro disse que tem surpresas quando escreve. O jornalista, que recebeu o prêmio Camões 2008, descreveu o sistema de medida de escrita que desenvolveu com o também escritor Geraldo Carneiro. As unidades são baseadas em autores conhecidos, como Graham Greene --escrevia 300 caracteres/dia--, Joseph Conrad (800) e Virginia Woolf (1200). "Posso escrever até três Conrads por dia, mas no dia seguinte terei que escrever pelo menos um", disse.

A realidade mora quase ao lado

Do livro "Viva o Povo Brasileiro", Ribeiro esclareceu que sua pretensão era apenas a de escrever um romance grande, que se desenrola em três séculos de história. Personagens como Maria da Fé, por exemplo, apesar de parecerem muito reais, foram criadas. O que não acontece em "Sargento Getúlio", inspirado nos sargentos de seu pai, à época, político em Aracaju (BA).

Sobre a composição da obra, Ribeiro revelou que escreveu o primeiro capítulo 17 vezes por não conseguir prosseguir com a trama, até que percebeu que poderia utilizar um monólogo interior. Lacerda perguntou sobre os episódios reais do volume e Ribeiro esclareceu que seu pai era cercado por sargentos.

Getúlio, nas palavras do escritor, era baixinho e um pouco afrescalhado de maneiras, "passava vernizes nas unhas". Quando chegava na casa do escritor, sua mãe se benzia e desaparecia por medo. Cavalcante e Tarso também eram sargentos. O segundo tornou-se amigo do jornalista, era de confiança da família.

O pai e a geração Mapa influenciaram o desenvolvimento cultural de Ribeiro. "Aos cinco anos, meu pai discutia com minha mãe que passava vergonha de ter um filho analfabeto dentro de casa", contou. Assim, copiar os sermões de Padre Vieira tornaram-se uma constante em suas lições caseiras. Anos depois, Ribeiro tomaria o gosto de decorar textos de William Shakespeare e de "Ilíada", de Homero, e declamá-los para os amigos.

Mulheres x homens

"Agrada as mulheres e deixa os homens preocupados". Essa é a frase que o escritor utilizou para explicar o conteúdo de "A Casa dos Budas Ditosos". O jornalista declarou-se precursor do feminismo e disse ter dedicado o exemplar às mulheres. "Eu detesto sabichão de qualquer sexo. O texto é masculino. Eu me vesti de mulher e me referi a mim mesmo no feminino", esclareceu.

O escritor Marcelino Freire lançou uma dúvida de uma leitora anônima, presente à plateia, sobre a invenção ou não da protagonista. "Essa pergunta é uma vingança", brincou Ribeiro.

 
Voltar ao topo da página