Livraria da Folha

 
11/12/2009 - 09h31

Em livro, investigador levanta novos dados sobre a morte de García Lorca

da Livraria da Folha

Na madrugada de 18 de agosto de 1936, o escritor espanhol Federico García Lorca foi fuzilado junto a uma oliveira na estrada que une os municípios espanhóis de Víznar e Alfacar. Sobre antes e depois do fuzilamento, o investigador Gabriel Pozo contribui com novos dados para o caso com o livro "Lorca, el Último Paseo", da editorial Almed, ainda sem edição em português.

Divulgação
O aprisionamento e o fusilamento de Lorca começam a ser desvendados
O aprisionamento e o fuzilamento de Lorca começam a ser desvendados

García Lorca detestava a política partidária e resistiu à pressão de seus amigos para ingressar no Partido Comunista. O poeta foi detido em 16 de agosto de 1936 na casa de Los Rosales --morada dos seus amigos falangistas de apelido Rosales--, por Ramón Ruiz Alonso, um ex-deputado da Confederación Española de Derechas Autônomas (CEDA). Direitista fanático, Ruiz Alonso sentia um profundo ódio pelo ministro socialista Fernando de los Rios, que era amigo de Lorca, e também pelo próprio poeta.

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Os investigadores "lorquianos" tiveram acesso a uma parte importante dos testemunhos para a reconstrução do que se sucedeu. Ruiz Alonso, apontado como um dos principais artífices do crime, guardou silêncio quase até sua morte, sendo entrevistado apenas por alguns historiadores.

Ruiz Alonso é para a maior parte das fontes o responsável pela detenção e pelo fuzilamento do poeta. Dias depois da morte do general Francisco Franco, ele partiu para os Estados Unidos, mas antes explicou o porquê de sua viagem: visitar sua filha mais velha, a atriz Emma Penella. O livro inclui o testemunho de Penella, que deixou ao autor uma carta na qual afirma a autenticidade de suas declarações. Ela pediu que suas considerações não fossem publicadas até após sua morte. A atriz morreu em agosto de 2007.

"Meu pai queria que eu tivesse superado toda a verdade antes de morrer", explicou a atriz, que conheceu durante uma festa a implicação do seu pai no assassinato de Lorca. Ao saber, Ruiz Alonso ficou asilado em uma habitação. Nunca voltou a mencionar o tema até que decidiu fugir da Espanha. O relato de Penella também destoa muito da versão oficial quanto ao descrito sobre a detenção, que não ocorreu na casa da rua de Angulo com um amplo pelotão de homens armados. A atriz atribuiu o fuzilamento à luta pelo poder entre a CEDA e a Falange. Desta última, faziam parte os Rosales, a quem a oposição quis desprestigiar com a morte do poeta.

Com o término da guerra, Ruiz Alonso recebeu um telefonema estranho. "O estrangeiro havia retirado as queixas pelo que havia ocorrido com Lorca e o assunto irritou a Franco. O caudilho quis saber o que havia acontecido e chamou meu pai", disse Penella. Desde então, nunca mais se falou sobre o assunto. Destruíram todas as provas e qualquer rastro que poderia esclarecer o caso. Ruiz Alonso começou a temer por sua vida.

Ao quebracabeças inacabado, Gabriel Pozo somou novas peças. Uma delas é uma fotografia inédita em que se pode ver a quadrilha de sepultadores que trabalharam em Víznar. A fotografia foi tirada a poucos metros do barranco, onde García Lorca passou suas últimas horas esperando ser fuzilado. Agachado, com uma menina nos braços, podemos ver Manolillo, o jovem que indicou a Gibson o lugar onde supostamente enterrou o poeta.

"Manuel Castilla sinalizou uma fossa. Depois confessou aos outros que não estava ali no dia do fuzilamento, e disse a Gibson o primeiro lugar que lhe ocorreu", explica Pozo, convencido de que não encontrarão os restos do poeta. Segundo o investigador, a decisão de Franco de sepultar tudo relacionado ao assassinato foi levado até as últimas consequências.

 
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