Livraria da Folha

 
12/12/2009 - 17h02

Danilo Gentili autografa livro na madrugada e volta a fazer piada com Preta Gil

SÉRGIO RIPARDO
colaboração para a Livraria da Folha

O comediante Danilo Gentili encerrou, no início da madrugada deste sábado (12), a temporada de seu espetáculo, no teatro do shopping Frei Caneca, em São Paulo, com lotação esgotada (600 lugares). Por volta das 2h30, ele ainda autografava, no camarim, seu recém-lançado livro "Como se tornar o pior aluno da escola", que ele diz estar à venda "nos principais pontos de venda de drogas da cidade".

Seu solo de "stand-up comedy", cuja entrada custa R$ 50 (considerando todos pagantes, renderia R$ 30 mil por noite), só volta a entrar em cartaz no dia 5 de fevereiro.

A apresentação começou por volta de 0h30 e durou um pouco mais de uma hora e meia. O público ri do início ao fim. Gentili faz piadas com irritações do cotidiano das grandes cidades, como congestionamentos no trânsito, filas em bancos, dinheiro falso e abordagem de mendigos. Um dos momentos de maior gargalhada dos espectadores envolve a cantora e atriz Preta Gil.

"Meu carro é tão feio que, se ele fosse um transformer, ele iria virar a...Preta Gil", brinca o comediante, depois de relatar as desvantagens do seu veículo (ladrões rejeitam roubá-lo, mesmo a pedido do dono interessado no seguro, a bomba do posto de gasolina "brocha" diante do carro, o menino do semáforo diz "toma, tio, dez centavos, o seu carro é muito feio").

No seu último espetáculo do ano, Gentili tentou minimizar o impacto da comparação: "Não gosto desta piada, sabia? Piada fácil, desagradável. Só conto porque vocês sempre riem." A plateia gargalha mais ainda.

Sérgio Ripardo
Na última apresentação do ano, Danilo Gentili volta a brincar com Preta Gil, mas admite "não gostar desta piada"
Na última apresentação do ano, Danilo Gentili volta a brincar com Preta Gil, mas admite "não gostar desta piada"

Neste ano, o comediante já trocou farpas com a cantora no Twitter. Também causou polêmica com comentários considerados por alguns como racistas ("King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?"). Nada demais: nos EUA, manda a tradição da "comédia de pé" esse tipo de verborragia incendiária para promover o artista e o espetáculo.

Linguagem dos manos, cotidiano da periferia

Como é de se esperar de um humor politicamente incorreto, Gentili tira sarro com referências do público de baixa renda, como as cidades da periferia da Grande São Paulo, com a Praia Grande (Baixada Santista). Há ainda os comentários escatológicos e de apelo sexual sobre temas como virgindade, impotência, namoros longos e ciúmes.

Nada escapa à metralhadora do integrante do programa "CQC" (Band), com escárnio e deboche com padres-cantores, candomblé, homossexuais, papai noel e até a própria mãe. São perguntas e respostas curtas e grossas, debochadas e até infames. Apesar de sua abordagem, às vezes irritante e inconveniente, com entrevistados no programa, Gentili não permite que o público siga seu exemplo de rebeldia --no meio do espetáculo, deu uma bronca em um espectador que filmava sua performance, embora dezenas de fãs (principalmente mulheres) fotografassem com celular.

O texto do espetáculo (uns dez temas-chaves, cada um desenvolvido em quase dez minutos) é todo costurado com frases de duplo sentido, questionamentos sobre discursos prontos, situações absurdas da rotina de um trabalhador, de personagens que não gostam de ser subestimados por causa de sua classe social. A parede de tijolo aparente do cenário reforça essa leitura de "homem das ruas".

O figurino de Gentili (boné, camisa preta, jeans e All Star preto) reproduz bem o jeito simples de alguém que poderia ser um office-boy, um motoqueiro ou um estudante de renda curta, que não se acomoda e está consciente das injustiças sociais.

Há espaço até para condenar a prática de rodeios e a crueldade contra os animais, um tiro certeiro para conquistar o coração das moças que o fotografam a todo momento e sacodem seu livro na plateia. O carisma do comediante se deve muito à identificação como porta-voz dos dramas e da linguagem coloquial dos jovens anônimos, com expressões típicas como "véio", "mina", "tá ligado?", "na boa" etc.

O perfil do último show estava bem dividido, com uma leve predominância de mulheres jovens, arrumadas e vaidosas, que soltavam gritinhos e enfrentaram um longa fila diante do camarim, com o livro na mão, em busca de um autógrafo. "Comporte-se" era o que ele escrevia.

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"Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola"
Autor: Danilo Gentili
Editora: Panda Books
Páginas: 168
Quanto: R$ 29,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

 
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